JUSTIÇA

Investigados por tráfico de armas movimentaram R$ 1,2 bilhão em três anos

Uma empresa sediada no Paraguai, foi responsável pela importação de milhares de pistolas, fuzis e munições de vários fabricantes europeus sediados na Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia
Por César Fraga / Publicado em 5 de dezembro de 2023

Investigados por tráfico de armas movimentaram R$ 1,2 bilhão em três anos

Foto: Polícia Federal/Divulgação

Foto: Polícia Federal/Divulgação

Na manhã desta terça-feira, 5, a Polícia Federal deflagrou a Operação Dakovo, que desvendou uma complexa e multimilionária engrenagem de tráfico ilícito de armas de fogo da Europa para a América do Sul. A operação foi executada juntamente com o Governo do Paraguai, visando o combate ao tráfico internacional de armas. O alvo da força-tarefa é uma quadrilha suspeita do envio de 43 mil armas entre 2019 e 2022 para as maiores facções criminosas brasileiras: PCC e Comando Vermelho.

O nome da operação é uma referência à cidade croata de Dakovo, um dos pontos logísticos do esquema e resultou na prisão do general  Arturo Javier González Ocampo, ex-comandante da Força Aérea do Paraguai, além de um coronel que atuava na verificação do registro de armamentos. Os nomes dos militares não foram inicialmente divulgados por fontes como os jornais La Nación e Última Hora, que reportaram, contudo, que o coronel investigado já foi chefe do setor de Registro de Armas da Direção Nacional de Material Bélico (Dimabel), órgão responsável pela fiscalização de armas e munições no país. Pelo menos 13 pessoas foram detidas pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai, responsável pelo cumprimento dos mandados, nas regiões de Assunção e Ciudad del Este.

Em coletiva na manhã desta terça, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) apresentou o resultado da operação Dakovo. Ao todo, foram cumpridos 19 mandados de prisão (5 no Brasil e 14 no Paraguai) e 38 mandados de busca e apreensão no Brasil, Paraguai e Estados Unidos. Na operação, também foram bloqueados R$ 66 milhões em bens e valores no Brasil, com o objetivo de identificar a lavagem de dinheiro oriunda de rede ilegal.

“Quero destacar a importância disso no combate ao crime organizado no Brasil. O presidente Lula definiu como prioridade para o MJSP ações de descapitalização das organizações criminosas e ações contra a logística, daí o foco em portos, aeroportos e fronteiras. Só é possível superar o crime organizado de verdade substituindo um modelo ineficiente, de tiros a esmo, que são puramente demagógicos, e indo à raiz, que é retirar o fluxo de armas, drogas e lavagem de dinheiro. Esta é a mudança paradigmática. É o centro de uma estratégia consciente e eficiente”, destacou o ministro Flávio Dino.

A investigação começou a partir de uma apreensão de 25 armas em Vitória da Conquista, na Bahia. Após perícia técnica, foi identificado que todas as armas tinham origem de uma empresa importadora do Paraguai, que comprava armamento da Croácia, Eslovênia, República Tcheca e Turquia, e revendia para quadrilhas brasileiras. Há indicativos de participação de doleiros e empresas de fachada dos Estados Unidos no esquema. A empresa pertence a um empresário argentino.

“Conseguimos identificar o número de série e rastreamos a origem. Encontramos várias outras armas do mesmo fabricante e demos início à apuração do tráfico internacional de armas de fogo. A partir daí, nos deparamos com grandes remessas de armas da Europa para o Paraguai, onde eram raspadas e recebiam carimbos falsos, para dissimular a verdadeira origem. Estas armas eram passadas a grupos intermediários que atuam na fronteira e revendidas às duas maiores facções do Brasil”, explicou o superintendente da Polícia Federal na Bahia, Flávio Márcio Albergaria da Silva.

Estima-se que, desde o início das investigações, a empresa investigada movimentou, em três anos, cerca de R$ 1,2 bilhão de reais. Neste período foram realizadas 67 apreensões que totalizam 659 armas apreendidas no território brasileiro, em dez estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Ceará. A investigação segue, com o objetivo de mapear toda a cadeia criminosa.

 “Esta operação fará com que as duas maiores facções brasileiras, principais destinatárias destes armamentos ilegais, tenham o fechamento da via logística, então o impacto é muito forte”, complementou Dino, destacando a operação como um ato de continuidade dos esforços de cooperação entre Brasil e Paraguai.

Presente na apresentação, o ministro da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad/PY), Jalil Rachid, endossou a importância da cooperação: “É um trabalho que deu resultado como consequência direta da colaboração entre Brasil e Paraguai. Nos dois países, esta operação tem dimensão gigantesca. Para nós, os resultados são altamente positivos, e nós queremos continuar este trabalho, pois somos países irmãos afetados pelo mesmo problema”, afirmou.

Além dos ministros Flávio Dino e Jalil Rachid, também participaram da apresentação o diretor-executivo da Polícia Federal, Gustavo Paulo Leite de Souza; o coordenador-geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes (CGPRE/DICOR/PF); Júlio Danilo Ferreira; o coordenador-geral de cooperação jurídica internacional da PF, João Vianey Xavier Filho; o superintendente Regional da PF na Bahia, Flávio Márcio Albergaria Silva; o responsável pelo inquérito policial, Diego Gordilho; o diretor de Assuntos Internacionais do Ministério Público do Paraguai, Manuel Doldan; e o diretor-geral da Senad do Paraguai, Anderson Araújo.

 

Complemento

54 Mandados de Busca e Apreensão (MBA) expedidos:
• 17 MBA no Brasil
• 21 MBA no Paraguai
• 16 MBA não cumpridos por serem em locais conflagrados, com efeito colateral incontrolável

25 Mandados de Prisão Preventiva (MPP) expedidos:
• 8 MPP no Brasil – 5 cumpridos
• 15 MPP no Paraguai – 12 cumpridos
• 2 MPP nos EUA não cumpridos – não houve tempo hábil para expedição dos mandados de prisão, de acordo com a lei daquele país

6 Mandados de Prisão Temporária (MPT) expedidos:
• 1 MPT no Brasil – cumprido
• 5 MPT no Paraguai – 1 cumprido

21 difusões vermelhas na Interpol

Bloqueio de Bens:
• Determinação de bloqueio de 66 milhões em bens, direitos e valores no Brasil – ainda sem informação de cumprimento
• Pedido de cooperação jurídica internacional enviado ao Paraguai para bloqueio de bens, direitos e valores naquele país

Apreensões de hoje:
• Grande quantidade de dólares (ainda não contabilizados)
• Centenas de armas (fuzis e pistolas), na sede da empresa que enviava as mesmas ilegalmente ao Brasil

Observação:
• Encontrado o local utilizado para fazer a raspagem das armas, a fim de dificultar o rastreamento das mesmas

Comentários