JUSTIÇA

PF já trata Bolsonaro como possível líder de organização criminosa

Relatório da Polícia Federal diz que presentes que deveriam ser incorporados ao patrimônio da União foram levados no avião presidencial para venda
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 11 de agosto de 2023
PF já trata Bolsonaro como possível líder de organização criminosa

Foto: Reprodução

Mauro Cid e Bolsonaro: pela primeira vez o ex-presidente é investigado como possível líder de organização criminosa

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Pela primeira vez o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) entra oficialmente em uma cena de crime.

Relatório da Polícia Federal identifica fortes evidências de que ele, ao lado de colaboradores de seu governo, atuou para o desvio de patrimônio público da União para enriquecimento pessoal.

O documento se refere as investigações da PF sobre organização formada para a venda de pelo menos quatro conjuntos de bens que foram recebidos por Bolsonaro na condição de chefe de Estado.

“Identificou-se, em acréscimo, que os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-Presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem localização e propriedade dos valores”, diz o documento da PF que deixa claro ainda esquema criado para lavagem de dinheiro.

Entre as peças vendidas nos Estados Unidos, o relógio da marca Rolex identificado até então como uma tentativa de venda em e-mails remetidos pelo auxiliar de ordens da presidência, o tenente coronel do Exército Mauro Cid.

General envolvido

A decisão do ministro Alexandre Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizou nesta sexta-feira, 11, buscas e apreensões em operação da Polícia Federal, em Brasília, São Paulo e Niterói (RJ) expõe o método utilizado por Bolsonaro e seu grupo para a retirada dos conjuntos do Brasil.

“As diligências realizadas indicam que Jair Messias Bolsonaro e sua equipe utilizaram o avião presidencial, no dia 30/12/2022, para evadir do país os bens de alto valor desviados, levando-os para os Estados Unidos da América”, registra a autorização.

A autorização de Moraes ainda afirma “os referidos bens teriam sido encaminhados para lojas especializadas em venda e em leilão de objetos e joias de alto valor, situadas nas cidades de Miami/FL, Nova Iorque/NY e Willow Grove/PA (Pensilvânia)”.

Bolsonaro viajou para os Estados Unidos em 30 de dezembro, véspera do seu último dia de mandato, para evitar seguir o rito democrático e passar a faixa para o sucessor eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Entre os alvos da operação da PF, está o general da reserva do Exército Mauro Lourena Cid.

Ele, de acordo com as investigações, atuava na organização efetuando a venda dos artigos remetidos.

Lourena Cid entrou para a reserva em 2019 para chefiar o escritório brasileiro da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Miami. Ele foi exonerado do posto no início deste ano.

General de Quatro Estrelas, Lourena Cid é pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que está sob prisão preventiva desde maio passado por evidências que demonstraram a falsificação de atestados de vacina contra a covid-19 para entrada nos Estados Unidos.

As buscas da PF pelos membros da organização ainda incluem Osmar Crivelatti, tenente do Exército que também integrava a ajudância de ordens de Bolsonaro e o advogado Frederick Wassef.

Operação Resgate

Wassef é conhecido nacionalmente por advogar em causas do clã Bolsonaro e por ter escondido Fabrício Queiroz, assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, que estava envolvido no esquema de rachadinhas naquela casa.

Ele teria se envolvido no esquema da organização por ter sido acionado no que a PF chama de Operação Resgate.

Foi a recompra do relógio Rolex que já havia sido vendido quando o Tribunal de Contas da União (TCU) derrubou uma decisão do ministro da própria Corte, Augusto Nardes, que colocava Bolsonaro como Fiel Depositário de uma série de presentes de altos valores que deveriam ser incorporados ao Patrimônio da União.

Tudo começou a vir à tona após o país ter tomado conhecimento que um conjunto de joias que seriam destinadas como presente do governo da Arábia Saudita à ex-primeira-dama, Michele Bolsonaro, fora apreendido pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos.

Integrantes de uma comitiva do Ministério de Minas e Energia tentaram entrar de forma irregular com as peças.

Mais de uma vez o governo Bolsonaro se mobilizou para resgatar as joias, mas não teve êxito.

Entenda o caso:

Polícia Federal busca militares e advogado suspeitos de venda ilegal de presentes dados ao governo Bolsonaro

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