EDUCAÇÃO

Bolsistas sofreram assédio moral em grupos de WhatsApp de alunos do Colégio Farroupilha

A escola informa que fez punições e que não diferencia entre estudantes pagantes e bolsistas. Ministério Público abre investigação e irá responsabilizar pais de adolescentes infratores
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 4 de novembro de 2022

Foto: Reprodução

Direção do Colégio Farroupilha afirma que já puniu alunos que assediaram bolsistas com mensagens de ódio. Caso é investigado pelo MPRS

Foto: Reprodução

O Colégio Farroupilha de Porto Alegre é outra instituição de ensino gaúcha que emitiu comunicado repudiando ataques de intolerância contra os que votaram no presidente eleito no último dia 30, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Internamente, bolsistas da instituição têm recebido assédio moral em grupos de alunos no WhatsApp. “A gente é quem paga a tua bolsa”, “chinelona”, “te prepara para comer lixo na rua”, “vamo corta (sic.) a tua bolsa”, são algumas entre as ofensas proferidas.

Os ataques também foram voltados a alunos não bolsistas que viram intolerância nas mensagens. O comentário “falar isso é doentio” feito por um aluno que se sentiu ofendido foi rebatido por outro que afirmou: “doentio é tu votar no Lula, mas ter iPhone e estudar em escola particular”.

“Muito conveniente para vocês estar aqui no Farroupilha”, “Vai embora do farroupilha petista”, diz uma mensagem.

Ameaças e pragas rogadas como “quando tu não conseguir emprego, não vou ser eu que vou fazer caridade e ser sua patroa”, “Tomara que passe fome”, foram algumas registradas nos grupos de mensagens.

Durante as eleições, a decisão de proibir manifestações políticas e ao mesmo tempo liberar o uso dos símbolos nacionais e suas cores nas suas dependências jogou o Farroupilha no centro de uma polêmica, diante da apropriação das cores verde e amarelo pela campanha do candidato de extrema direita.

O que diz a direção do Farroupilha

Em posicionamento oficial sobre o assédio moral em grupos de WhattsApp, o Farroupilha afirma “repudiar discursos ou ações que disseminem qualquer tipo de intolerância, violência ou discriminação e espera a mesma postura de todos que fazem parte da comunidade escolar”.

Segundo a instituição, a conduta de alguns estudantes é inaceitável e não representa os valores do colégio.

O colégio ainda informou que “houve a imediata aplicação das penalidades previstas no Código de Conduta e Convivência da escola”.

A instituição, no entanto, ao ser indagada pelo Extra Classe informou que, por se tratar de menores, prefere não tornar pública quais foram as sanções aplicadas, mas confirma que adotou medidas, inclusive informando essas punições aos responsáveis pelos alunos.

“Lamentamos que o atual momento de tensionamento vivenciado pela sociedade reflita no ambiente escolar”, registra o Farroupilha no documento publicado em suas redes sociais e enviado à comunidade escolar.

A instituição também publicou outra nota afirmando que não diferencia estudantes pagantes ou bolsistas e que espera a mesma postura de todos que fazem parte da sua comunidade escolar. “Não compactuamos com discursos ou ações que disseminem qualquer tipo de intolerância, violência ou discriminação”, diz o colégio em uma postagem nas redes sociais.

Ministério Público pode punir pais

A denúncia de assédio moral no Farroupilha, assim como o caso do Colégio Israelita, foi para no Ministério Público do Rio Grande do Sul.

A promotora Regional da Educação de Porto Alegre, Ana Cristina Ferrareze, expediu ofício solicitando que as instituições de ensino informem, em 48 horas, se têm conhecimento dos fatos, bem como acerca das eventuais providências adotadas, de acordo com o regimento vigente e regras de convivência e conduta escolar, bem como a identificação dos adolescentes em tese envolvidos.

A promotora encaminhou os casos ao Núcleo do Ato Infracional do MPRS – CIACA, para ciência e adoção das providências consideradas cabíveis na esfera das infrações, em tese, perpetradas pelos adolescentes.

Ana Cristina também acionou Promotoria de Justiça da Infância e Juventude – Núcleo Articulação/Proteção, para ciência e adoção das providências consideradas cabíveis na esfera cível, especialmente em relação à exposição da imagem dos alunos envolvidos e diante da responsabilização dos pais ou responsáveis, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente.

As informações serão remetidas, ainda, à 1ª Coordenadoria Regional da Educação, para ciência e adoção de providências e medidas cabíveis.

“Na área da Educação, pedimos aos colégios que nos informem oficialmente a identificação dos adolescentes em tese envolvidos nestes casos e quais medidas foram ou serão aplicadas. Depois da manifestação formal dos colégios, serão realizadas audiências extrajudiciais. Mas temos certeza de que atitudes como essas, que são graves, que nos chocam, devem ser punidas. As condutas dos adolescentes precisam ser responsabilizadas também pela área do ato infracional, bem como investigadas as condutas dos pais ou responsáveis”, ressalta a promotora.

Comentários