EDUCAÇÃO

O MEC, a guerra cultural e o fracasso na gestão da educação do país

Há um ano e meio sem uma política clara e há 18 dias sem titular, o Ministério da Educação segue à deriva. Uma parte do governo quer um gestor técnico e outra parte quer um guerrilheiro ideológico
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 6 de julho de 2020

O MEC, a guerra cultural e fracasso na gestão

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Após o fracasso de três ministros desde o início de sua gestão há 18 meses, o próprio presidente Jair Bolsonaro foi obrigado a reconhecer para uma apoiadora na porta do Alvorada: “a educação está horrível no Brasil”. Professor da Universidade de São Paulo (Usp) e integrante da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o cientista político Daniel Cara vê um outro lado da moeda.

“As idas e vindas no MEC demonstram que o Governo Federal  tem como “política educacional” a guerra cultural olavista. Como a guerra cultural olavista não consegue de fato gerar uma política educacional concreta, pautada no direito à educação, ela acaba sendo um fracasso em termos de gestão publica”, registra.

A guerra cultural, uma proposição de Olavo de Carvalho, ex-astrólogo que se auto-intitula filósofo, esteve diretamente relacionada a indicação dos dois primeiros titulares do MEC. Se o primeiro, Ricardo Velez Rodrigues, durou apenas três meses e, na opinião de Cara, foi totalmente inapropriada porque “ele nunca entendeu patavinas do que é educação”, a de Abraham Weintraub em seus 14 meses se caracterizou por muitas polêmicas, poucas realizações e o saldo de ter registrado a pior execução orçamentária da história do MEC, na avaliação do professor da USP.

Incompetência, loucura e falsidade ideológica

O MEC, a guerra cultural e fracasso na gestão

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Daniel Cara, cientista político e educador

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“Nós tivemos um ministro completamente incompetente, que é o Velez, depois um ministro incompetente e louco que é o Abraham Weintraub e, agora, tivemos um ministro que praticou falsidade ideológica”, ressalta Cara.

Sobre Carlos Alberto Decotelli, Cara, no entanto, prefere fazer uma ponderação: “Tanto o governo quanto também a Fundação Getúlio Vargas (FGV), agiram com um rigor que não agiram com outros ministros que também mentiram sobre os seus currículos”.

Caso de Ricardo Salles, do Meio Ambiente que não estudou em Yale e atribuiu a um erro de sua assessoria um mestrado em seu nome na instituição que foi desmentido e de Damares Alves que, após também ter mestrados não confirmados, disse que eram pós-graduações com base na Bíblia.

“Então, sem de forma alguma amenizar o erro do Decotelli, é importante dizer que ocorreu no caso racismo institucional por parte da FGV e do Jair Messias Bolsonaro, presidente da República”, denuncia Cara. O racismo institucional é uma das formas de expressão do racismo estrutural.

No caso da FGV, pesou o fato da instituição ter informado que Decotelli não era seu professor, apesar de mais tarde avaliações internas da própria instituição comprovar que Decotelli dava aulas em cursos de pós-graduação da Fundação. O próprio ministro então nomeado chegou em desabafo a dizer que a “pá de cal” jogado sobre ele foi dado pela FGV.

Caixa de ressonância

O que se sabe – até mesmo pelo desabafo em frente ao Alvorada – é que Bolsonaro não está satisfeito por estar chegando na metade de seu mandato sem um resultado positivo para chamar de seu no campo da educação.  Um dos principais alvos de suas promessas de campanha o MEC segue praticamente inoperante.

No lugar de se concretizar a chamada guerra cultural de Olavo de Carvalho, a pasta de fato virou um cabo de guerra entre militares,  olavistas e, agora, políticos do Centrão que estão cobrando caro para ajudar Bolsonaro a escapar de um possível processo de impeachment.

Convidado mesmo sob pouca convicção de Bolsonaro, Renato Feder, secretário de Educação do Paraná, por exemplo, não suportou os chamados dossiês dos mais variados campos do bolsonarismo e pediu para sair logo após Bolsonaro chegar a declarar que era antes necessário passar pelo “teste da fritura”.

Nesse momento, sob vários vetores de pressão, que também inclui “ultra-liberais calçados pelo Paulo Guedes”, segundo Daniel Cara, só existe uma certeza: “Qualquer nome que assuma a pasta não vai ser um nome que, de fato, se preocupe com o direito à educação. Bolsonaro, na verdade, quer fazer do Ministério uma caixa de ressonância pra guerra cultural olavista que foi uma das grandes responsáveis pela sua eleição”.

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