AMBIENTE

Pesquisa inédita mostra entraves na reciclagem das embalagens plásticas

Estudo do Núcleo de Caracterização de Materiais da Unisinos apresenta dados para que a indústria melhore seu processo de produção
Por Sílvia Marcuzzo / Publicado em 19 de abril de 2024
Pesquisa inédita mostra entraves à reciclagem de embalagens plásticas

Foto: Ricardo Gomes/Instituto Mar Urbano/ Divulgação

Na pesquisa do Núcleo de Caracterização de Materiais (NuCMat), que integra o Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da Universidade do Vale do Sinos (Unisinos), foram levantados dados inéditos que comprovam a urgência de medidas para a redução de plásticos de uso único

Foto: Ricardo Gomes/Instituto Mar Urbano/ Divulgação

A poluição provocada por plásticos gera problemas de várias dimensões. E a cada dia novos tipos de embalagens são lançados pela indústria. Pela composição dos materiais, boa parte acaba não sendo reciclado. Quando há o serviço de coleta seletiva, até chegar a transformação, a cadeia da reciclagem enfrenta inúmeros entraves. Entre eles, o baixo preço pago para os catadores, a ausência de estrutura e logística para o melhor aproveitamento dos materiais (muitas vezes devido à distância entre a geração e o processamento) e também a falta de identificação.

Na pesquisa de doutorado de Joice Pinho Maciel, do Núcleo de Caracterização de Materiais (NuCMat), que integra o Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) da Universidade do Vale do Sinos (Unisinos), foram levantados dados inéditos que comprovam o quanto é urgente se tomar medidas para a redução de plásticos de uso único.

“O consumidor tem uma sensação de que todos os plásticos gerados são encaminhados para a reciclagem, o que não é verdade. Essa pesquisa traz à tona esta realidade. A indústria precisa colocar no mercado apenas embalagens que possam ser recicladas (que tenham mercado e tecnologias viabilizadas). O consumidor deve  encaminhá-las de forma adequada às cooperativas de reciclagem e aos pontos de entrega voluntária, ” reforça a autora do estudo. Para ela, essas duas ações contribuem para diminuir os impactos pela poluição causada por plástico no ambiente.

Pesquisa foi realizada em três municípios

O estudo identificou os tipos de resíduos sólidos de três Unidades de Triagem de resíduos e de uma Unidade de Transbordo de três municípios de diferentes realidades: Porto Alegre, Novo Hamburgo e Santiago, no Rio Grande do Sul. A maior parte deles é de embalagens com uma mistura de plásticos: 84% (341 embalagens de um total de 405) são de produtos alimentícios.

Quanto aos tipos de materiais, destaca-se o tipo sem identificação (SI) representando 42% da amostragem (169 embalagens de 405), seguido do Polipropileno (PP) com 24% (99 embalagens de 405) e outros (O) com 22% (90 embalagens de 405).

Esses resultados apontam que muitas embalagens poliméricas não estão seguindo a identificação e simbologia conforme a norma brasileira NBR 13.230. Não sendo classificadas, são consideradas rejeitos, isto é, acabam em aterros e contrariam o que está previsto em lei quando a necessidade de serem recicladas. São de difícil reciclabilidade embalagens de resina de PP (Polipropileno), especialmente as flexíveis, e que fazem barulho ao apertarmos, como saquinhos transparentes, laminados ou opacos, e PS (Poliestireno), isopor de embalagens delivery e bandejas pra carne coloridas. Essa falta de cuidado por parte da indústria traz prejuízos para toda sociedade.

Outro tipo de embalagem muito ruim para o ambiente e que não se consegue reciclar na maior parte do Brasil é a flexível, aluminizadas de BOPP (sigla em inglês para biaxially oriented polypropylene que, em português, quer dizer “película de polipropileno biorientada”), muito usado em chocolates, biscoitos e guloseimas.

Manifesto sobre poluição plástica

Pesquisa inédita mostra entraves à reciclagem de embalagens plásticas

Foto: Enrique Talledo / Oceana/ Divulgação

Foto: Enrique Talledo / Oceana/ Divulgação

Esse contexto da difícil reciclagem, da poluição plástica, da falta de medidas efetivas por parte de vários segmentos são desafios mundiais, que serão abordados nas negociações do Tratado Global Contra a Poluição Plástica, (mais conhecida como INC-4, em sua sigla em inglês).

Para o evento, que será entre os dias 23 e 29 de abril, em Ottawa, Canadá, ambientalistas e cientistas prepararam um manifesto . O documento foi enviado para diversos órgãos do governo federal onde é pedido que o Brasil assuma a responsabilidade que lhe compete sobre a poluição por plásticos. A mobilização já reuniu 75 organizações de várias partes do Brasil.

Para Ecimara Santos Silva, membro da Aliança Resíduo Zero Brasil, “já temos comprovações científicas” de que o plástico está presente não só no meio ambiente, mas também na cadeia alimentar, no ar e no corpo humana, tornando assim um a questão de saúde pública, é uma pauta urgente que exige a conscientização de todos”.

O que pode ser feito em casa

Medidas individuais que podem reduzir a poluição de plásticos: redução do consumo de plásticos, opção por produtos a granel e lojas que usam embalagens de papel, observar que quanto mais escuro é o plástico, menos valor terá para comercialização, embalagens sujas de alimentos, desvaloriza o material para reciclagem, direcionar resíduos recicláveis para cooperativas.

Leia também:

ONG denuncia presença generalizada de plásticos nos alimentos

 

Comentários