Temporal revelou serviço de uma Equatorial que só visa lucro
Foto: Alex Rocha/PMPA
O temporal que deixou a capital gaúcha sem energia elétrica não foi atípico para Sandro Rocha Peres.
Servidor aposentado da estatal, ele chegou a ser gerente regional da companhia na área de maior concentração de unidades consumidoras de energia no estado.
Atualmente à frente da Associação dos Participantes de Planos Previdenciários da Fundação CEEE (APAR-RS), ele diz que atípica foi a forma de atendimento adotada pela companhia nas mãos da Equatorial, após a venda da CEEE em 2021.
Peres diz que a situação que ele viveu durante o apagão de cinco dias na capital gaúcha desde o último dia 16 por si só é um exemplo dessa opção desastrosa de visar lucro e mais lucro, sem se importar com os consumidores.
Ele ilustra que ficou dois dias sem energia em sua casa sem que houvesse necessidade de nenhum reparo na rede da região.
“Precisou que alguém lá, nas prioridades dadas por quem não conhece a rede, chegasse aqui num transformador na esquina de casa e abrisse a chave. Pronto, voltou a energia. Só abrir a chave!”, ironiza ao enfatizar a obviedade.
Ele explica que em um primeiro momento a medida correta é “isolar as partes da rede que foram danificadas das partes que não foram comprometidas. E religar a energia elétrica daquelas que estão boas”.
Sistema tem lógica que não foi seguida em Porto Alegre
Foto: Apar-RS
Como forma de proteção do sistema, quando há um incidente que retira de uma hora para outra um volume considerável de carga, subestações de energia e transformadores se desligam automaticamente.
Quando não há condições de acionamento remoto, são as equipes de rua que manualmente religam os equipamentos.
Lembrando matéria recente do Extra Classe, Peres enfatiza que antes “tu via caminhonete da CEEE e tu não viu caminhonete da Equatorial fazendo o serviço (religamento). Estão lá perdendo tempo, levantando poste. Isso se faz no segundo momento”, registra.
Em situações semelhantes ao ocorrido há sete dias, Peres relata que a CEEE quando estatal enviava dezenas de equipes de duas pessoas em veículos para verificar a rede de distribuição e repor de imediato onde somente era necessário fazer o religamento manual.
“Repor o que não está estragado é algo essencial”, considera. Isso, para ele, é fundamental porque, além de simples e rápido, evita a geração de um clima de insegurança na população que vê, por exemplo, alimentos chegarem a se estragar por causa do não reestabelecimento da energia.
Equipes que não conhecem a rede
O ex-gerente regional da CEEE não tem dúvidas de que a grande novidade do temporal do dia 16 é que ele escancarou o mau atendimento que vem de “uma empresa frágil, que botou 30% da sua mão de obra para rua, e contratou pessoas com custo mais barato para aumentar seu lucro. Estamos, agora, tendo resultado previsível”, assevera.
Outro ponto que ele destaca é a importância do quadro funcional não só conhecer a rede onde trabalha, mas estar qualificado para sua atuação.
“E as pessoas que estiveram aqui, quem são?”, fala ao trazer de novo à tona o atendimento que presenciou há poucos metros da sua residência.
“É gente de fora. O eletricista, eu conversei com ele, era açougueiro, nada contra ser açougueiro lá no Maranhão, mas fez duas semanas de curso aqui para trabalhar”, revela.
A “ironia e tristeza” para Peres é que a CEEE estatal contava com um centro de treinamento que tinha inclusive em seu interior uma subestação de energia. Isto para que um eletricista da companhia saísse para as ruas conhecendo todo tipo de adversidade que poderia encontrar na realização do seu serviço.
Hoje, conforme ele, do Centro de Treinamento da então estatal, só restaram os prédios que foram ocupados pelo governo do estado.
“As pessoas têm que conhecer onde trabalham, tem que conhecer a rede e saber o que fazer. E aqui fica claro e notório um desconhecimento total. Então, além de ter pouca gente, quem está trabalhando não conhece a rede, não sabe onde estão os locais”, conclui.