Painel aborda impactos do atendimento desumanizado em UTIs
Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil
Especialistas em saúde com vivência em atendimento hospitalar de urgência participam do painel O impacto de Unidades de Terapia Intensiva desumanizadas na vida de pacientes e familiares, que a Fundação Ecarta promove nesta quarta-feira, 24, às 19h. O debate tem transmissão ao vivo pelo canal da Fundação Ecarta no youtube.
A iniciativa, no âmbito do Projeto Cultura Doadora, também aborda os reflexos desse atendimento, que pode interferir na autorização familiar para doação de órgãos nos casos de morte encefálica.
As UTIs comumente são associadas a leitos destinados a pacientes com traumas e expostos e risco iminente de morte. Para os profissionais da área da saúde que atuam nesses ambientes hipersensíveis, o tratamento humanizado, independente da faixa etária, da gravidade ou do diagnóstico, é determinante para a melhora do quadro de saúde dos internados.
Também é consenso que ações de humanização têm muita importância não somente no tratamento de pacientes, como também no acolhimento da família, a qual, na maioria das vezes, também precisa de amparo em virtude do estresse a que os familiares são submetidos.
“A humanização das UTIs se insere em um movimento pela humanização do atendimento à saúde como um todo, mas os locais de terapias intensivas dos hospitais são particularmente sensíveis. É ali que os familiares e pacientes estão mais fragilizados e demandam mais atenção, respeito e cuidado. É num ambiente acolhedor que a solidariedade acontece”, conceitua a jornalista Glaci Salusse Borges, coordenadora do Cultura Doadora.
Painelistas do evento desumanizado
Anelise Fiori, psicóloga referência do CTI adulto no Hospital Moinhos de Vento, especialista em Psicologia Hospitalar e Mestre em Ensino na Saúde e professora da Faculdade de Ciências da Saúde Moinhos de Vento;
Eliane Regina Pereira do Nascimento, graduada, mestre e doutora em enfermagem pela UFSC e professora titular do Departamento de Enfermagem da mesma universidade, especialista em enfermagem de Terapia Intensiva pela Abenti;
Fernanda Bonow, médica intensivista da UTI pediátrica do HPS de Porto Alegre, graduada em Medicina pela UFCPSPA e em Nutrição pelo Centro Universitário Metodista, IPA, coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de doação de órgãos e tecidos e da Organização de Procura de Órgãos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre – OPO1;
Spencer Camargo, professor, médico cirurgião torácico e integrante da equipe de transplantes da Santa Casa de Porto Alegre;
Zilfran Teixeira, médico coordenador Comitê de Humanização da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
Silêncio e portas abertas
Especialista em Medicina Intensiva e em Medicina Paliativa e coordenador da UTI do Hospital Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará, Zilfran destaca o nível de estresse para os familiares “que adoecem junto desde o momento em que o paciente vai para a UTI”.
O médico explica que a desumanização para os familiares começa por UTIs de portas fechadas, que permitem visitas em horários fixos, para um número limitado de familiares, e com informações que muitas vezes não são dadas de forma clara.
“Esses são um dos maiores gatilhos em relação à questão da desumanização: a não presença dos familiares em tempo integral dentro da UTI para cuidar dos seus entes queridos”.
Zilfran aponta uma série de ações que promovem o ambiente da UTI mais humanizado para os pacientes.
“Luzes, ruídos, alarmes de monitores, permanência em um ambiente ao qual não pertencem, o imobilismo naquelas camas duras, coletas de exames, ou seja, há muitos fatores que contribuem para o estresse do paciente. E é preciso levar em consideração que, dia após dia, essa rotina vai gerando uma carga emocional muito grande”.
“Existem várias maneiras de se humanizar a UTI”, elenca.
“Essa humanização parte do princípio de que as UTIs devem ser de portas abertas, cuidado com a higiene do sono dos pacientes, a redução do ruído, a presença do familiar em tempo integral, a comunicação de forma adequada e não violenta, em tirar a sedação do paciente de uma forma mais precoce, evitar contenção mecânica, acolher os familiares nos momentos difíceis”.