SAÚDE

11,8% dos brasileiros deixaram saúde para depois na pandemia

Estudo da Ufpel mostra que muitos brasileiros deixaram de procurar atendimento médico, não compareceram a consultas ou exames rotina, principalmente os mais pobres
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 13 de abril de 2022
Bernardo Horta, epidemiologista (Ufpel)

Foto: Charles Guerra/Epidemiologia UFPel

Bernardo Horta, epidemiologista (Ufpel), propõe uma reflexão sobre o medo causado pelo cancelamento dos serviços

Foto: Charles Guerra/Epidemiologia UFPel

Mesmo doentes, 11,8% dos brasileiros deixaram de procurar a rede de saúde durante a pandemia de covid-19 para consultas. Destes, 17,3% não compareceram a consultas ou exames de rotina e triagens e 23,9% relataram ambos os desfechos. Os dados são de estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), divulgado pela Fiocruz, no dia 11 de abril, em artigo do epidemiologista Bernardo Horta, um dos coordenadores da pesquisa.

Foram entrevistados 33.250 indivíduos em 133 cidades, entre 24 e 27 de agosto de 2020. O estudo teve como objetivo avaliar a proporção da população dessas cidades que apresentou algum problema de saúde entre março e agosto de 2020, mas que deixou de procurar atendimento, ou que deixou de buscar um serviço de saúde para consultas ou exames de rotina.

O estudo mostra que o fechamento dos serviços de saúde e o medo da infecção pelo novo coronavírus foram os principais motivos para não se buscar atendimento.

No artigo, Horta destaca que as mulheres e os indivíduos com menor nível socioeconômico mostraram maior probabilidade de não procurar serviços de saúde em caso de doença, ou de faltar a consultas agendadas.

133 cidades

Foram realizadas entrevistas domiciliares entre 24 e 27 de agosto de 2020 em 133 áreas urbanas brasileiras. Foi perguntado, aos entrevistados se, desde o início da pandemia de covid-19, em março de 2020, haviam sofrido algum problema de saúde, mas não haviam procurado atendimento ou se haviam deixado de realizar consultas ou exames de rotina.

Bernardo Horta é professor da Ufpel e responsável pela área de Saúde Coletiva da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para ele pesquisa existe uma importante reflexão a ser feita a partir dessas informações. “Até que ponto o cancelamento abrupto de serviços importantes para tratamento e diagnósticos acabou contribuindo para o aumento do temor e isto não pode ter impactado no agravamento de diversas doenças”, questiona.

“Sem dúvidas, quando se chega a um nível de esgotamento do atendimento é necessário o fechamento para que sejam drenados esforços”, admite.

Horta registra que, diante da necessidade da busca de resultados rápidos, a pesquisa da Ufpel não se aprofundou a respeito das necessidades de consultas ou exames não ocorridos. Em um comparativo com quadros internacionais aponta que a postergação de casos leves pode levar a um agravamento que pode vir a ser fatal.

É o caso de países na Europa, lembra o pesquisador. “Diminuiu a ida aos serviços de saúde nos casos de angina; por outro lado, cresceu muito o número de infartos proporcionalmente”, compara.

Indígenas e vulneráveis

O estudo confirma que pandemia se tornou mais crítica para os indígenas e os mais pobres. Essa associação é apontada porque as camadas mais pobres da população brasileira e indígenas se concentram predominantemente nas regiões Norte e Nordeste. Foram nessas regiões que se observou o maior número de pessoas que deixaram de procurar atendimento de saúde no período. “Indivíduos que se identificavam como brancos são menos propensos a deixar de procurar os serviços de saúde”, diz artigo.

Já os residentes nas regiões Sul e Sudeste foram os que tiveram maior acesso aos serviços de saúde do que as demais regiões do Brasil. “Essa diferença pode ser explicada pela maior oferta de serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, bem como pelo nível socioeconômico da população.

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