SAÚDE

Gargalos no atendimento de HIV/Aids durante pandemia é tema audiência pública

Assembleia Legislativa debaterá o impacto da pandemia de covid-19 nos serviços de HIV/Aids e Tuberculose no Rio Grande do Sul; a audiência pública terá transmissão ao vivo pelo You Tube
Por César Fraga / Publicado em 22 de março de 2021

Foto: Reprodução/Prefeitura M. de Santa Maria

Foto: Reprodução/Prefeitura M. de Santa Maria

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS) realiza na quarta-feira, 24, uma audiência pública para tratar do impacto da pandemia de covid-19 nos serviços de HIV/Aids e Tuberculose no Rio Grande do Sul. A iniciativa é da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), a pedido dos movimentos sociais que atuam na pauta. Luciana coordena a Frente Parlamentar de Enfrentamento ao HIV/Aids, Hepatites Virais, Sífilis e Outras ISTs, idealizada pelo Fórum de ONGs Aids do RS e pelo Gapa-RS.

De acordo com Carla Almeida, presidente do Gapa/RS, a avaliação dos movimentos sociais nas áreas  de HIV/Aids e tuberculose é de que impacto no atendimento é enorme. Ela classifica o efeito da pandemia no setor como “desastroso”.

“A sociedade civil conduziu um levantamento no ano passado para mensurar este impacto. Esse estudo tem apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). E o que pudemos aferir até agora é que o efeito da pandemia atinge todas as áreas de atendimento com redução das equipe técnicas, redução de investimento financeiro, redução número de consultas, acesso limitado a insumos e estratégias de prevenção, diminuição da oferta de testagem e medicamentos”, avalia Carla.

Audiência Pública

A audiência ocorrerá a partir das 10 horas na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos e contará com a participação do Fórum de ONGs Aids do RS, do Comitê Estadual de Enfrentamento da Tuberculose, de representante da Secretaria Estadual de Saúde e da Dra. Nêmora Barcelos, médica e professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unisinos. Além disso, diversos movimentos sociais estão inscritos para participar da reunião.

A data de 24 de março marca o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. “Embora a Tuberculose não seja uma IST, ela está diretamente relacionada às dinâmicas da epidemia de HIV/Aids no RS – sendo a principal causa de óbito entre as pessoas que vivem com HIV e Aids no estado”, explica a deputada Luciana Genro, ao comentar sobre a importância de também se debater os dois temas em conjunto. O encontro será transmitido ao vivo pela TV Assembleia no YouTube.

Cenário brasileiro

Pesquisa divulgada em maio de 2020, pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids) Brasil com quase 3 mil pessoas que vivem com HIV ou Aids no país aponta que 42,9% esperam apoio das instituições de governo e de organizações não governamentais para a provisão de serviços de assistência social, incluindo alimentação.

Em outro estudo, um grupo de pesquisadores convocados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Unaids alerta que se não forem feitos esforços para mitigar e superar as interrupções nos serviços e na distribuição de insumos de saúde causados pela pandemia de covid-19, uma interrupção de seis meses da terapia antirretroviral poderia levar a um número superior a 500 mil mortes a mais por doenças relacionadas à Aids, incluindo tuberculose, em todo o mundo.

Conforme reportagem do Extra Classe em maio de 2020, o Brasil conseguiu evitar 2,5 mil mortes por Aids entre os anos de 2014 e 2018. Nos últimos cinco anos, o número de mortes pela doença caiu 22,8%, de 12,5 mil em 2014 para 10,9 mil em 2018. A partir daí, com a precarização das redes de apoio e o abandono das políticas públicas, as estatísticas voltaram a crescer.

Levantamento do Ministério da Saúde estima que cerca 900 mil pessoas vivem com HIV/Aids no país, 766 mil foram diagnosticadas, 594 mil fazem tratamento com antirretroviral, 554 mil não transmitem – e outras 135 mil pessoas são portadoras do vírus e não sabem. Em todo o país, o desabastecimento ocasional de alguns antirretrovirais se transformou em um problema crônico para pacientes em tratamento.

No Rio Grande do Sul

De acordo com dados do Observatório de HIV/Aids, no Rio Grande do Sul, levantados antes da pandemia, o estado já apresentava a maior taxa de mortalidade por Aids no país, com 9 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 4,8 óbitos. A taxa de infeção de HIV em gestantes também é a maior do Brasil, com 9,5 casos para cada 1 mil nascidos vivos, sendo em 2,8 o indicador nacional. É 2ª maior taxa de Aids do Brasil em menores de 5 anos, com 6 casos para cada 100 mil habitantes, enquanto a média nacional são 2 casos para essa população. A situação com a pandemia se gravou.

 

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