Para cada caso de Covid-19 notificado, estado tem nove subnotificações

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Pesquisadores da UFPel realizaram 4,5 mil testes em moradores de nove municípios no último final de semana

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Dados mais recentes coletados pelo estudo Epicovid 19, pesquisa coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com outras 12 universidades públicas e privadas e governo do estado, sugerem um aumento na prevalência de pessoas com anticorpos para o coronavírus no Rio Grande do Sul nas últimas semanas. Além da subnotificação – disparidade entre os casos informados pelas secretarias municipais de Saúde à Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS) e o total de infectados –, a terceira fase do levantamento, revela a relação direta entre o crescimento exponencial do avanço do novo coronavírus e a flexibilização do isolamento.

O estado tem 2.917 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus em 205 municípios, sendo que 57,7% desses pacientes já se recuperaram. São 111 mortes decorrentes da Covid-19. A taxa de ocupação de leitos de UTI é de 71% –, porém os pacientes com diagnóstico confirmado ou suspeita de infecção por coronavírus ocupam 17% dos leitos de tratamento intensivo. De acordo com o Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), o estado conta com 3,2 mil leitos de UTI em hospitais públicos e privados, mas somente 50% dessas vagas são exclusivas para pacientes adultos.

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A biomédica Dominich Rubenich, pesquisadora voluntária do Epicovid 19, coordenada pela UFPel, que subsidia o modelo de distanciamento no estado

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CONTÁGIO – Os resultados da terceira etapa da pesquisa Epicovid 19 foram divulgados nesta quarta-feira, 13, em uma transmissão ao vivo no site do governo do estado, com a participação do governador Eduardo Leite (PSDB), das secretárias de estado de Planejamento, Orçamento e Gestão, Leany Lemos, e da Saúde, Arita Bergmann, e do reitor da UFPel, Pedro Rodrigues Curi Hallal. A amostra da população testada nesta fase apresentou resultado positivo de 0,22%. Na testagem anterior, realizada no último final de semana de abril, esse índice havia sido de 0,13%. No primeiro levantamento, há um mês, era 0,05%.

O levantamento vêm sendo usado como subsídio pelo governo do estado para a implantação de um modelo de distanciamento controlado. Leite destacou que a testagem oferece segurança para as decisões, mas acenou que o distanciamento social e o isolamento podem ser mantidos por mais tempo no estado conforme os resultados. No momento, disse, fica mantido o modelo de isolamento definido por decreto no último sábado. O estado foi subdividido em 20 regiões identificadas por uma cor de bandeira que determina as medidas de prevenção ao contágio.

O aumento da prevalência de pessoas com anticorpos no estado veio acompanhado de uma diminuição do número de pessoas respeitando as orientações de distanciamento social. Entre o primeiro levantamento e o último, o percentual da população que relatou sair de casa diariamente aumentou de 20,6% para 30,4%.

Nesta terceira etapa, realizada no último final de semana, os pesquisadores fizeram 4,5 mil entrevistas e testes, dos quais dez apresentaram resultado positivo. Os testes foram feitos em moradores de Canoas, Caxias do Sul, Ijuí, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Uruguaiana. Foram sorteadas 500 residências em cada município para obter uma amostragem representativa do contágio pela Covid-19. Quatro deles foram apenas em Passo Fundo, município que já vem apresentando números de casos e mortes elevados nas estatísticas oficiais, o que indica a importância de observar diferenças entre as cidades. Um estudo similar foi realizado em Ribeirão Preto (SP), com o mesmo teste, e resultou em uma prevalência de 1,6%, sugerindo a existência de disparidade também entre estados, já que mostrou resultados sete vezes maior que a pesquisa no RS.

Os novos dados estimam que, para cada milhão de habitantes no Rio Grande do Sul, haja 2,2 mil casos reais de infectados por Covid-19 e apenas 248 casos notificados – ou seja, para cada caso notificado, haveria nove subnotificados. Pela margem de erro, esse número pode variar entre 4 e 16. A equipe da UFPel alerta, no entanto, que os números ainda baixos requerem um cuidado extra na interpretação das estimativas.

Foto: Charles Guerra/ UFPel/ Divulgação

Pedro Hallal, reitor da UFPel: casos notificados representam apenas uma parcela da pandemia

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ICEBERG – O teste utilizado (Wondfo Sars-CoV-2 Antibody Test) avalia anticorpos produzidos pelo organismo após a infecção, e não identifica o vírus ativo logo após o contágio. Ele pode produzir 15% de falsos negativos e 1% de falsos positivos – ainda assim, foi recentemente avaliado como uns dos melhores no mercado.

“Os casos notificados representam apenas uma parcela do total, confirmando a nossa teoria do iceberg de que existe uma parte visível, representada pelas estatísticas oficiais, e uma parte submersa, que precisa ser conhecida para que sejam tomadas as melhores decisões para o seu enfrentamento”, afirma Pedro Hallal, reitor da UFPel e coordenador do projeto.

A pesquisa ainda está em andamento. A previsão é realizar, até 25 de maio, entrevistas e testes com 18 mil pessoas em nove cidades gaúchas, mas já foram confirmadas pelo menos mais duas fases, cujas datas serão anunciadas em breve.

Os dados obtidos no atual estágio da pandemia são similares aos coletados em outros países como Áustria e Islândia. Eles se referem exclusivamente ao estado do Rio Grande do Sul, mas o Epicovid 19 também será replicado no Brasil inteiro. A primeira fase do estudo nacional vai a campo nesta quinta-feira, 14. A previsão é coletar amostras em 133 cidades em todos os estados, realizando mais de 33 mil testes em cada uma das três fases, intercaladas por duas semanas, totalizando quase 100 mil pessoas.

O Epicovid 19 é coordenado pela Universidade Federal de Pelotas e pelo governo do estado do RS. Os objetivos do estudo são estimar o percentual de gaúchos infectados pela Covid-19, avaliar a velocidade de expansão da infecção, fornecer indicadores precisos para cálculos da letalidade e determinar o percentual de infecções assintomáticas ou subclínicas. O custo do estudo, R$ 1,5 milhão, contou com financiamento do Instituto Serrapilheira (RJ), Unimed Porto Alegre e Instituto Cultural Floresta.