Israelenses que se opõem ao que ocorre em Gaza são perseguidos, diz documentarista
Foto: Reprodução/Globonews
A documentarista e especialista em política e história do Oriente Médio, Júlia Bacha, aproveitou espaço em recente entrevista no programa Globonews Internacional para furar o bloqueio midiático que se abate sobre a população da Faixa de Gaza. “Não sei se vocês estão acompanhando o que está acontecendo em Israel, mas cidadãos que se opõem ao que está ocorrendo (Faixa de Gaza) estão sendo perseguidos”. No caso de palestinos que têm cidadania israelense, há presos por postar críticas em suas redes sociais, registra ela.
Um caso especial, cita a documentarista, é o de um jornalista israelense que foi atacado quando ia para sua residência. “Agora teve que se esconder (talvez tenha que ser retirado de Israel) porque demonstrou solidariedade aos palestinos”.
No Brasil casos semelhantes aos dos israelenses também estão sendo registrados. O jornalista Breno Altman, judeu, fundador do Ópera Mundi, está recebendo ameaças de pró-sionistas por fazer críticas ao que chama de “Estado colonial de Israel” e ao “genocídio” contra o povo palestino na Faixa de Gaza.
Resistência pacífica é desconsiderada
Júlia mora em Nova Iorque, Estados Unidos, e tem forte ligação com o Oriente Médio por seus documentários premiados e exibidos em vários festivais internacionais.
Para ela, é real, sim, a possibilidade de uma limpeza étnica promovida por Israel. Em uma crítica ao descaso da comunidade internacional, ela registra que a resistência dos palestinos à ocupação israelense de suas terras, mesmo sob críticas das Nações Unidas (ONU), não pode ser confundida somente com os atos extremistas do Hamas.
Responsável por uma série documentários sobre iniciativas pela paz entre palestinos e israelenses e com produtores em Gaza, Cisjordânia e Israel, Júlia é categórica: “Essa resistência pacífica, infelizmente, geralmente não recebe atenção mundial. Não recebe atenção dos meios de comunicação. A gente está aqui nesse programa há duas horas falando sobre Israel e Palestina, mas quando acontece a resistência pacífica esse programa não acontece “, criticou.
Para Júlia Bacha, “a capacidade de ver o lado humano do outro, neste momento, é muito difícil. E os governos, infelizmente, fazem o pior papel”.
Ela diz acreditar que as duas comunidades, Israel e Palestina, “estão lá para ficar”.
“Mas, para isso acontecer, os direitos de israelenses e palestinos têm que ser respeitos”, concluiu.
Em síntese, Júlia entende que o povo palestinos não têm voz nos meios de comunicação.
Quando “a violência terrível e brutal do Hamas acontece”, por outro lado, o mundo inteiro fala.
Cortar dedos para não escrever mais
Foto: Rede X
No Brasil, as ameaças contra Breno Altman circularam no grupo de WhatsApp chamado Jew Politics, que reúne integrantes de comunidades sionistas no país.
O tom subiu com a repercussão de uma manifestação de Altman em suas redes sociais onde o editor do Ópera Mundi disse em tom de comemoração que a possível entrada do Hezbollah no conflito estabeleceria um cenário de guerra total e “as perdas sionistas” iriam gerar uma pressão forte sob o governo de direita de Netanyahu.
“Tem que dar um cala boca na porrada, precisa arrancar os dentes da boca desse fdp (filho da p*) e cortar os dedos fora para parar de escrever e falar merda”, é um dos comentários no grupo.
Compartilhamentos ainda de um post do também jornalista Caio Blinder, comparando Altman a um “kapo” estão também presentes.
Kapos eram como se chamavam os judeus que colaboravam com os nazistas nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial.
No grupo de discussão, manifestação que pedia o linchamento de Altman e uma integrante dizendo que já há “gente grande” se movimentando contra o jornalista.
Saíram em solidariedade à Altman, pessoas como o escritor Fernando Moraes e outros intelectuais.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) emitiu uma nota de solidariedade ao profissional em que, afirmam que ele é “alvo de covardes ataques e ameaças de grupos radicais pró-Israel por conta de seu trabalho jornalístico”.
As entidades destacam que o fundador do site Opera Mundi é “especializado em cobertura de temas internacionais” e compartilha “informações que denunciam a brutal ofensiva das Forças Armadas de Israel contra a população palestina na Faixa de Gaza”.