POLÍTICA

Empresa ameaça fornecedores se Lula for eleito

Stara enviou ofício dizendo que deverá reduzir orçamento se petista for eleito presidente. Proprietário é apoiador de Bolsonaro desde 2018
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 4 de outubro de 2022

Empresa ameaça fornecedores se Lula for eleito

Foto: Reprodução

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Documento da fabricante de máquinas e implementos agrícolas Stara, empresa sediada no município de Não-Me-Toque (RS), foi destinado a fornecedores no primeiro dia após a votação em primeiro turno no país.

Alegando “atual instabilidade política e possível alteração de diretrizes econômicas no Brasil” diz que se o resultado se mantiver no segundo turno, (Nota da redação: com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva) “deverá reduzir sua base orçamentária para o próximo ano em pelo menos 30%”.

O Ministério Público de RS (MPRS) recebeu representação contra a empresa por tentativa de coação e, por envolver a eleição para o cargo de presidente da República, encaminhou a denúncia à Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE), em Brasília.

Empresa ameaça fornecedores se Lula for eleito

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Com a assinatura de Fábio Augusto Bocasanta, diretor administrativo financeiro, a empresa diz que a medida afetará em consequência “nosso poder de compra e produção, desencadeando uma queda significativa em nossos números”.

Extra Classe recebeu o ofício da Stara de três fornecedores da empresa. Todos pediram sigilo, mas relatam que, nos grupos de WhatsApp que participam, o teor do documento teve forte repercussão.

De um lado, um diz: “Sabe como é, né? Tem gente que parece que se alimenta de fake news”, apontando uma possível preocupação que circulou na cadeia que atende a Stara.

Outro interlocutor reage indignado. “Isso aí é o Gilson mostrando as garras”. Segundo ele, o clima na cidade é de terror e as ameaças também chegaram aos trabalhadores de diversas empresas. “Estão dizendo aí que lá na Stara, de cara, serão mais de 1.500 demitidos. Fora outras”.

Proprietário já é investigado por abuso econômico

O nome referido pela fonte de Extra Classe é Gilson Lari Trennepohl, presidente do conselho de administração da Stara e vice-prefeito de Não-Me-Toque.

Trennepohl apoia Jair Bolsonaro (PL) desde a eleição de 2018 e está sob investigação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por suposto abuso de poder econômico protagonizado nos desfiles de 7 de setembro em Brasília.

Ele é o segundo maior doador da campanha do Bolsonaro. Doou R$ 350 mil. Ficou atrás apenas do ex-piloto Nélson Piquet, que deu R$ 501 mil.

A Ação de Investigação Judicial (AIJE) aberta pelo ministro corregedor do TSE, Benedito Gonçalves, atendeu pedido da de coligação que apoia o ex-presidente Lula, (PT, PV, PC do B, Psol, Rede, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros).

Na decisão que colocou o empresário sob investigação no dia 11 de setembro, o corregedor afirma que a participação de máquinas agrícolas no desfile que tradicionalmente era realizado por militares foi feita “para marcar a proximidade do candidato Bolsonaro ao agronegócio, ao ponto de os veículos serem dirigidos por motoristas com camisetas em apoio a este”, escreveu Gonçalves.

Na ação, Trennepohl figura entre dezoito nomes. Nela, além do presidente e seu vice na chapa para sua atual candidatura, o general Walter Braga Netto, estão ainda o empresário Luciano Hang, o ex-ministro Fábio Faria, o pastor Silas Malafaia, entre outras personalidades.

Em vídeo, o empresário e vice-prefeito de Não-Me-Toque afirma que está sendo “processado de forma indevida”, pois nem estava em Brasília. “Querem nos calar e acabar com a liberdade do Brasil”, protestou ao dizer que a ação é uma tentativa de calar a voz dos que apoiam o presidente e candidato à reeleição.

Empresa ameaça fornecedores se Lula for eleito

Foto: Reprodução/Vídeo

Diretor-presidente da Stara, Átila Stapelbroek Trennepoh

Foto: Reprodução/Vídeo

Repercussão e denúncia ao Ministério Público do Trabalho

A repercussão nas redes sociais vai de utilização do manifesto da Stara por apoiadores de Bolsonaro que alegam uma possível “quebra” do Brasil com a eleição do petista à fortes críticas, que são a maioria.

Desrespeito, pressão sobre fornecedores e trabalhadores e assédio são as palavras chaves.

A deputada federal reeleita Fernanda Melchiona (PSOL/RS) denunciou: “O dono é um dos principais doadores de Bolsonaro e já foi beneficiado com mais de R$ 2 bi pela sua gestão. Uma mão lava a outra e quem paga é o trabalhador! Isto é crime!

No início dessa tarde, a Central Única dos Trabalhadores (CUT/RS) informou que os sindicatos que representam os trabalhadores da empresa fizeram uma denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT).

“Me causou surpresa! O recado é para os fornecedores, mas o objetivo é atingir os trabalhadores”, disse o presidente do Sindimaquinas de Carazinho, Luiz Sérgio Machado

O que diz a empresa

Extra Classe procurou o diretor responsável pela assinatura do ofício e foi informado que ele estava em reunião com o jurídico da Stara. Também o presidente do conselho de administração e vice-prefeito de Não-Me-Toque não foi encontrado.

Somente por volta das 15 horas um vídeo foi publicado nas redes sociais da empresa se manifestando sobre o assunto.

Nele, diretor-presidente da Stara, Átila Stapelbroek Trennepoh, disse que o documento foi feito para seus fornecedores dentro de uma política geral onde a empresa apresenta suas projeções.

“Não queremos coagir ninguém a votar em A ou no B”, afirmou. O executivo também disse que é para os trabalhadores da empresa ficarem tranquilos, pois há muita fake news sobre possíveis demissões.

No Linkedin, rede social voltada ao ambiente de negócios, até o momento a maioria das manifestações são críticas à empresa.

“O terrorismo eleitoral para com os fornecedores (lembrando que funcionários PJ também são fornecedores) não está explicado”, disse um usuário.

Adjetivos como, terrorismo eleitoral e cara de pau também se fizeram presentes.

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