Fórum Social Mundial faz balanço de uma década
A capital gaúcha e sete cidades da Região Metropolitana receberão, entre 25 e 29 de janeiro de 2010, o Fórum Social 10 Anos Grande Porto Alegre. Além de celebrar os dez anos de atividades do FSM, o encontro fará um balanço deste período de lutas em defesa de um modelo de globalização alternativo ao construído nas últimas décadas. O Fórum Grande Porto Alegre será o primeiro de outros eventos programados em vários países ao longo de 2010, quando o FSM terá, mais uma vez, um formato descentralizado. Entre as atividades já definidas para o encontro no Rio Grande do Sul, está o Seminário FSM 10 Anos, promovido pelo Grupo de Apoio ao Fórum Social Mundial. A ideia é debater não só a experiência passada, mas principalmente seu futuro.
Arte: Claudete Sieber/ D3 Comunicação
Arte: Claudete Sieber/ D3 Comunicação
O evento está sendo organizado por entidades gaúchas com o apoio dos governos dos sete municípios onde ocorrerão as atividades (Porto Alegre, Canoas, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Campo Bom e Sapiranga). Além do seminário de avaliação do FSM, que ocorrerá em Porto Alegre, também estão confirmados o Acampamento Intercontinental da Juventude, entre 18 e 28 de janeiro, em Novo Hamburgo, o I Fórum Mundial de Economia Solidária e a I Feira Mundial de Economia Solidária, de 22 a 24 de janeiro, em Santa Maria. Ainda em Porto Alegre, de 25 a 29 de janeiro de 2010, será realizada uma grande oficina sobre o mundo do trabalho. Esse encontro debaterá o impacto da crise econômica internacional sobre o trabalho e a qualidade dos empregos e dos ambientes de trabalho hoje em dia.
Logo após o encontro no RS, ocorrerá em Salvador, entre 29 e 31 de janeiro, o Fórum Social da Bahia. O tema central do evento, construído em conjunto com o FSM 10 Anos, será Da Bahia a Dakar: enfrentar a crise com integração, desenvolvimento e soberania. “Esta passagem do FSM por Salvador será uma contribuição muito preciosa para o Fórum de Dakar, no Senegal, em 2011, pois esta foi a principal porta de entrada de africanos, vítimas da escravidão. A ideia é estabelecer um diálogo entre cidades com culturas semelhantes”, explica José Luiz Del Roio, representante do Fórum Mundial de Alternativas à Crise. Representantes de governos e movimentos sociais da América Latina e da África participarão, em Salvador, Fórum de Diálogos e Controvérsias, que discutiráíticas econômicas, sociais e ambientais.
Crise civilizatória: o que fazer?
Esse será um dos temas centrais em debate no encontro de janeiro em Porto Alegre. O diagnóstico é que estamos vivendo uma crise profunda do modelo de desenvolvimento capitalista, que se manifesta nas crises econômicas, ambiental, dos sistemas políticos e da democracia. Uma crise civilizatória, em resumo. “Se nós concordarmos que nosso modo de vida está acabando com a natureza e o ambiente, então nós não podemos deixar essa questão somente nas mãos dos ambientalistas. É um tema que todos devem tomar como luta comum”, afirma ainda o relatório de Montreal.
O diagnóstico não é exatamente novo. Nas últimas edições do FSM, esse tema já ocupou boa parte dos debates. Mas, agora, diante da ameaça de enfraquecimento do movimento, justamente com o agravamento da crise econômica mundial, ele se coloca como um desafio renovado para todas as organizações e ativistas que participam do Fórum. Um desafio que se apresenta também sob a forma de um ultimato: é urgente dar uma consequência prática ao diagnóstico de Montreal: “a resistência é um ponto de vista defensivo”. Porto Alegre terá o privilégio de sediar esse debate.
“Resistência é um ponto de vista defensivo”
Após dez anos, o Fórum Social Mundial chega a uma encruzilhada. Entre as organizações que participam deste processo deste 2001 há uma clara percepção de que o movimento precisa dar um salto qualitativo, sob risco de enfraquecimento. Essa percepção foi explicitada na última reunião do Conselho Internacional do FSM, realizada entre os dias 6 e 8 de outubro, em Montreal, no Canadá. O relatório do encontro relata uma das conclusões principais: “resistência é um ponto de vista defensivo”. É importante que conectemos e integremos as lutas em um modelo global coerente. O que o movimento antiglobalização quer e propõe como modelo? Os movimentos sociais são a solução? O FSM 2011 deverá radicalizar as lutas: marcha de mulheres, violência, desmilitarização e solidariedade das mulheres. Há uma participação forte dos cidadãos na América Latina, mas poucas coisas foram feitas concretamente. “Nós devemos rever a legitimidade dessas práticas”, diz o relatório final.
A reunião de Montreal detectou uma crise de credibilidade do movimento antiglobalização que, em vários países, vem sendo percebido como parte do sistema, e não como um movimento exterior a este sistema. “É preciso sair desse modelo para sair do sistema. Sente-se um pessimismo generalizado no grupo, mas o altermundialismo não deve ser depreciado: se não houvesse todas essas resistências ao redor do mundo, este já teria se desmoronado. Nós somos parte ativa da mudança. O capitalismo está doente, mas ele não vai necessariamente se destruir. Não devemos cair no pessimismo, posto que este é desmobilizador”.