Fórum fortalece solidariedade internacional aos palestinos
A pesar das dificuldades logísticas e pressões, o Fórum Social Mundial Palestina Livre, realizado em Porto Alegre de 28 de outubro a 1º de novembro, ocorreu em um clima de paz, mobilização e muito debate. Reafirmando a tradição aberta pelo Fórum Social Mundial, em 2001, a capital gaúcha acolheu representantes de 300 entidades, vindas de 36 diferentes países que, durante os quatro dias do evento, debateram a situação do povo palestino e formas de ampliar a solidariedade internacional em defesa da criação de um Estado Palestino e pelo fim da ocupação israelense. A realização do Fórum em Porto Alegre coincidiu com a aprovação, na assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU), do ingresso da Palestina como Estado observador. Do ponto de vista da criação efetiva de um Estado soberano, a medida ainda tem um caráter simbólico, mas representa ao menos um avanço para os palestinos. Como Estado observador, a Palestina pode ingressar com ações no Tribunal Penal Internacional acusando Israel da prática de crimes de guerra. O balanço final dos organizadores do Fórum foi positivo. A ativista italiana Maren Mantovani, coordenadora de Relações Internacionais do movimento Stop the Wall (que luta contra o muro construído por Israel nos territórios palestinos da Cisjordânia), o Fórum foi um momento único na história da solidariedade à causa palestina. Ela considerou a marcha de abertura como um dos momentos mais importantes do evento, pois mostrou povos de diferentes partes do mundo que apoiam a causa palestina. Durante o encontro, houve uma reunião de todas as delegações internacionais que discutiram um plano de ação muito concreto sobre os próximos passos da mobilização mundial em favor dos palestinos.
Revisão do acordo Mercosul/Israel
A assembleia dos movimentos sociais, realizada no último dia do evento, no salão de festas da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), aprovou alguns desses passos destinados a fortalecer a mobilização da sociedade civil em nível mundial em defesa da luta do povo palestino. Uma delas, apresentada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), é pressionar os governos dos países que compõem o Mercosul a rever a decisão de assinar um acordo de livre comércio entre o bloco sul-lamericano e Israel. A ampliação do boicote internacional a produtos e empresas de Israel é outra medida para aumentar a pressão da comunidade internacional contra a atual política de ocupação e segregação praticada por Israel nos territórios palestinos. Também foi aprovada a ida de uma missão internacional de solidariedade à Palestina, em março ou abril de 2003, e a criação de um Comitê Internacional em Solidariedade à Palestina, reunindo as organizações que participaram do Fórum em Porto Alegre.
Os representantes palestinos que viajaram até Porto Alegre fizeram um relato das duras condições vividas por seu povo e apresentaram suas principais reivindicações na atual fase da luta pela independência. Uma delas é o direito de retorno dos milhares de palestinos expulsos de suas terras a partir da criação do Estado de Israel em 1947, apontado como uma questão inegociável e condição fundante da própria existência de um Estado Palestino. Sem a garantia desse direito, disse Omar Shehadeh, integrante do secretariado político da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), não há como falar em autodeterminação, em soberania e em um Estado que mereça esse nome.
O risco de uma terceira “intifada”
O direito de retorno, sustentou, é não só um direito fundamental como representa a base de unificação do povo palestino. Shehadeh caracterizou a fase atual da luta contra a ocupação como sendo de libertação nacional. Para ele, é uma fraqueza falar da criação do Estado Palestino, antes de acabar com a ocupação israelense. “Isso significa colocar o carro na frente dos bois”, ilustrou. E a principal condição para acabar com a ocupação é unificar todo o povo palestino, emendou o dirigente da FPLP, em torno de diferentes formas de luta que incluem, inclusive, a da resistência armada, conforme é reconhecido pelo direito internacional.
Os debates transcorreram sob um clima de esperança e confiança, mas também de preocupação. Jamal Juma, coordenador do movimento Stop the Wall e um dos principais ativistas palestinos presentes ao Fórum, advertiu que uma terceira intifada (revolta popular nos territórios ocupados) é praticamente inevitável, mantidas as atuais políticas do governo de Israel e as precárias condições de vida do povo palestino na Cisjordânia e, principalmente, na Faixa de Gaza. Como a confirmar as palavras de Jamal Juma, no dia 30 de novembro, em resposta à decisão da ONU de aceitar a Palestina como um estado observador, o governo de Israel anunciou a construção de 3 mil casas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. A luta dos palestinos parece ainda estar longe de terminar.
Foto: Igor Sperotto
Foto: Igor Sperotto