Ainda estou moralmente, se não tecnicamente, convalescendo de uma cirurgia feita há um mês, embora trabalhando, fazendo shows e tudo mais desde o segundo dia. Foi uma pequena intervenção para sacar fora um hemangioma encravado no crânio, mas que me custou então um pedacito de osso substituído por um reboco de cimento-cola, ou por alguma espécie de acrílico para osteoplastias, vá lá. Tudo muito bem-feito, e com uma sutura que já quase não se nota. Mas resta também a enervação do local, que me dizem vai se recompor ao longo de seis meses. Até lá sigo franzindo a testa de um lado só, meio Frankenstein, meio Roberto Jefferson.
Imagino que o efeito se potencialize quando, como desde ontem, resolvo mexer na instalação do computador, velha mania de complicar a vida sempre que possível. O motivo é consistente, uma nova placa de som, questão profissional e de certa urgência. Mas não sugira chamar alguém especializado para fazer o serviço se não quiser briga. Há quinze anos e desde o primeiro XT eu mesmo instalo e desinstalo placas e programas no meu computador e não admito nem confio que alguém faça melhor. Como a bem da verdade, não entendo lhufas do assunto, sem formação alguma além da vontade e do empirismo cabeça-dura, é inevitável que passe dias suando na frente da tela e em cima de configurações, abrindo e fechando o gabinete, plugando e desplugando cabos, relendo o manual de instruções de trás para frente e xingando o Bill Gates a torto e a direito até me dar por sorridente e satisfeito que o troço funcione e ainda tenham sobrado duas peças. Demorou e custou o dobro do que um técnico cobraria, mas fui eu que fiz.
É de família que trago essa mania, como muita gente, lá do tempo em que se requeria de pais e filhos varões tais habilidades técnico-científicas, e em que “chamar um homem para arrumar” um eletrodoméstico emperrado era tido como ofensa pessoal, sendo na verdade um artifício da dama para tirar o gajo do sofá e empurrá-lo a trocar uma lâmpada. Era (ainda é) um ritual divertido, vai dizer que não? Nada como empunhar uma chave de fenda e sentir-se um reinventor do aspirador de pó, da cafeteira e da televisão. Agora até me ocorreu que desperdicei a chance, quem sabe, de implantar o chip da placa de som direto na testa para ver no que dava. Com uma conexão USB atrás da orelha e um drive bem atualizado, sabe-se lá se a idéia não fundava uma nova Microsoft.
Melhor como foi, pensando bem, e até aconselho: se o problema for na sua cabeça, procure um profissional competente, posso lhe indicar um. Não se arrisque, tentando resolver por conta própria, a ficar com as peças erradas sobrando na mão.