Money, money
Ilustração: Rafael Sica
Ilustração: Rafael Sica
“Palavras são moedas, com elas compramos pessoas.” Não sei quem disse, só sei que não topei fazer negócio a partir dessa premissa.
A aquisição de pessoas – seu corpo, sua alma, seu caráter, ou tudo junto – nem sempre foi fácil. Até o advento do pix (tetraneto do réis, bisneto do cruzeiro, neto do cruzado, enteado do real) nem todos eram tão acessíveis. Subornar ou ser subornado não pressupõe um balcão entre dois interessados no lance.
Já o facilitador pix é a corrupção pixelada, aquela que deixa quadriculadas as imagens dos participantes na negociata, a do corruptor e a do corrompido. O pix é a pax da maracutaia. Desconfio que até a Pixar foi paga com pix.
E dizer que tudo começou com sal, lá entre os imperadores romanos e seus soldados. Um costume tão antigo e ainda tão atual que até Salgado Filho, Plínio Salgado e Sebastião Salgado foram assalariados no início. O valor do salário era outro, claro. Aí inventaram um sobrenome pra ele e virou esse coitado que todo trabalhador conhece, o salário mínimo.
O problema são as moedas, que vivem mudando de nome. Elas confundem o poder aquisitivo do empregado e ampliam o poder inquisitivo do empregador: “Aumento?! Que aumento?!”
Daí ficam lançando dinheiro, que nem dinheiro é mais, é abstração pura, que não dá pro gasto no buteco. Como as bitcoin, uma grana cibernética que dispensa maleta 007 e ajuda golpista a golpear uma barbaridade. As bitcoin são versáteis, com elas você compra desde um gigantesco balde de pipoca (a bitcorn) ou indeniza a esposa traída que te processou (a bitconje) ou investe em produções cinematográficas (a bitcohen).
Essas variáveis monetárias atrapalham muito as falcatruas, que são a base real da economia nacional. A economia, todos sabem, move fundos e fundos, enquanto a propina movimenta mundos e fundos.
Por isso o pix surgiu: para nivelar as moedas corruptoras. É um exercício tão simples e prático que logo foi adotado para substituir o soldo daqueles que mais se exercitam na corrupção, o exército. E nisso foram capitaneados pelo capitão: ele ensinou que joias e rolex são sinônimos, logo são quase um pix. E uma junção de valores feita assim, com durepoxi cor de oliva, é para sempre.
Palavras são moelas, digo eu. Com elas, recheio espaço com assuntos que não me enchem os bolsos.