Ilustração: Rafael Sica
Ilustração: Rafael Sica
A quarentena reduz opções: moletom ou pijama? Livro ou filme? Comida congelada ou delivery? Tédio ou monotonia? Não se queixe: no Palalto do Planácio a coisa é mais dramática. Imagine ter de escolher novo ministro todo mês. O problema nem é decidir entre idiotas com estudo ou estudiosos com idiotia. Já não há método seguro pra indicações. Avalie você mesmo.
Globo terraplanista. Entram, a cada vez, 99 candidatos num salão. Espalhados sobre balcões, mesinhas e prateleiras, trocentos globos terrestres. Todos os tamanhos, materiais, aparências. O teste é reconhecer o mais apto através das reações diante dos globos. Imitar Chaplin em O Grande Ditador conta pontos. Rearranjar tudo por escalas revela dons. Colorir os mapas com giz de cera impressiona. Mas dar murro e achatar um por um como pizzas geopolíticas, esse é o cara da vez.
Sorteio. Sabe a megasena? Em vez de números, porém, as bolinhas têm nomes, prenomes, sobrenomes, às vezes, pra selecionar com maior rigor, até apelidos. Cheias, as gaiolas giram e de cada uma caem, ao acaso, as bolinhas que vão formar a identidade do aguardado ministro. Dá um trabalhão encontrar alguém que corresponda à seleção aleatória. Mas o IBGE jura que há 69,17% de chances.
Adivinhações. É a metodologia mais parecida com o atual governo: vem abalizada pelos costumes medievais de prever o futuro. As variantes mais apreciadas são as leituras em elementos da natureza: folhas de chá ou borra de café no fundo de xícaras; tripas de carneiros ou cabritos. O problema com os animais é que quando um deles argumenta contra o sacrifício acaba sendo cogitado pra vaga, e aí tem que começar a seleção de novo. Cartas de tarô e horóscopo também são consultados mas há preconceito: são considerados científicos demais.
Outros. Agulha no palheiro: os candidatos entram num salão onde há montículos de palhas com agulhas ocultas. Quem encontrar no menor tempo é o escolhido. Dardos em páginas de guia telefônico: um dos sistemas mais isentos. Pena que a telefonia digital tornou obsoleto. Par ou ímpar: disputa por chaves, como numa copa do mundo. O vencedor ganha a pasta. Etc.
- Decidir pela formação, capacidade e experiência é, ainda, um dos mais radicais recursos para escolher ministro. Quando nada mais define, não há outro jeito: vale o que constar no currículo do sujeito. Seja um CV fake ou falso, há lisura na escolha: os candidatos são julgados por seu alto nível de falsidade, invencionice ou apropriações de lattes alheios. Para moralizar as indicações, em breve o termo currículo será substituído. Teremos o bundículo vitae.