Foto: Reprodução Twitter/Luciano Hang
Foto: Reprodução Twitter/Luciano Hang
Os adeptos do gauchismo carnavalesco têm a figura que melhor pode representá-los. O véio da Havan se fantasiou com lenço, botas e bombacha para atacar professores e estudantes de universidades públicas. Todos são seus inimigos.
O véio da Havan (vou escrever véio com acento mesmo) acredita que, ao se paramentar de gaúcho, está legitimado como parte do Rio Grande do Sul. O véio apenas se alinha ao que há de mais reacionário e usurpa do traje que o ultraconservadorismo tenta transformar em fantasia.
A direita se apropriou da bandeira e da camiseta da Seleção, e agora o véio é aliado dos que se apropriaram das pilchas para explicitar não só o antiesquerdismo, mas muitas vezes racismo, xenofobia e homobofia.
O véio disse, na inauguração da filial da Havan em Santa Maria, que universidades públicas formam zumbis e comunistas. Gente que vai depois trabalhar contra os empresários. Sem citar diretamente a universidade, agrediu a UFSM pela segunda vez.
Desde o episódio do homem do relho, quando um ajudante de fazendeiros atacou um militante de esquerda em Santa Maria, em março do ano passado, esse gauchismo exacerbado é propriedade absoluta não mais da direita, mas da extrema direita. É com os extremistas que o véio se identifica.
É mais do que reacionarismo dito cultural ou de costumes, como já mostrou o historiador Tau Golin. Grupos assumidamente fascistas decidiram que bota e bombacha também passam a ser a indumentária de quem teme negros, índios, pobres, professores e estudantes.
Tau Golin observa que o tradicionalismo cetegista exalta o gauchismo pilchado como um civismo ufanista, ideológico e manipulador. O véio da Havan, como bolsonarista, pega carona nesse reacionarismo que os CTGs ajudaram a militarizar.
Ele se apresenta como a expressão do homem cívico contra os bárbaros de esquerda (incluindo os professores). É nacionalista (veste-se de verde-amarelo). E também é bravateiro.
É desse Rio Grande idealizado pela direita que o véio da Havan passa a desfrutar. Ele é o empreendedor, defensor da família e das tradições, o empresário de sucesso que desembarca num Estado de homens corajosos. E de peões e patrões em posições sociais e hierárquicas bem definidas por esse cetegismo cotidiano.
Mas o véio da Havan é mais do que tradicionalista. O jornal Extra Classe já mostrou que ele foi processado por sonegação de contribuições previdenciárias. Também já foi acusado de concorrência desleal, segundo o desembargador Celso Três, por subfaturar contrabandos da China e corromper agentes do porto de Itajaí. Tudo isso já foi notícia.
Na campanha eleitoral do ano passado, o véio da Havan mobilizou funcionários fardados para fazer campanha para Bolsonaro. Foi denunciado em ação do Ministério Público e levou uma multa de R$ 2 mil. Sim, apenas R$ 2 mil.
Um levantamento do jornalista Flávio Ilha, publicado no Extra Classe, mostra que os processos contra o véio da Havan são invariavelmente engavetados ou resultam em punições brandas.
Agora, o véio se volta com força contra a educação pública, que o bolsonarismo quer destruir. É interessante que os ataques tenham sido feitos menos de uma semana antes de o IBGE noticiar que negros e pardos já são maioria nas universidades federais.
É nesse contexto que o véio da Havan desembarca aqui com suas bugigangas. O Estado de figuras reais e imaginárias únicas ganha agora o véio da Havan como ícone do século 21.
Arredem Sepé Tiaraju e o Capitão Rodrigo, que aí vem o véio da Havan de botas e bombacha. É uma ofensa, mas é também o que merece um território infestado de fascistas.
*Moisés Mendes é jornalista. Escreve quinzenalmente para o jornal Extra Classe.