MOVIMENTO

Porto-alegrenses celebram a democracia contra o golpismo

Em descomemoração ao Golpe de 1964 e pela punição sem anistia para os golpistas do 8 de janeiro, centenas protestaram no Centro Histórico de Porto Alegre
Por César Fraga / Publicado em 23 de março de 2024

Porto-alegrenses celebram a democracia contra o golpe

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

Neste sábado, 23, as centrais sindicais, as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, ao lado de representantes de partidos políticos (PT, PSol, PCdoB, PL e Rede) e entidades sindicais, reuniram centenas de pessoas e ocuparam o Largo Glênio Peres, em frente à Prefeitura de Porto Alegre para “descomemorar” o aniversário de 60 anos do golpe de 1964, defender a democracia como modelo político e bradar “ditadura nunca mais!”.

Cada entidade levou para o largo suas bandeiras e políticas relacionadas. Professores da rede privada, por exemplo, carregavam faixas “pela liberdade de ensinar e aprender”. O slogan é uma resposta às tentativas de constrangimento a professores praticadas por movimentos como o Escola Sem Partido e outras iniciativas da extrema-direita de censurar conteúdos escolares ou perseguir professores.

Outro ponto de destaque foi o pedido de fim dos ataques de Israel contra a população civil em Gaza, no Oriente Médio.

Porto-alegrenses celebram a democracia contra o golpe

Foto: Igor Sperotto

Maria do Rosário e Pedro Ruas, durante o ato, condenaram tanto o Golpe de 1964 como a tentativa de 8 de janeiro

Foto: Igor Sperotto

A primeira autoridade a discursar no alto do caminhão-de-som foi a deputada federal Maria do Rosário (PT), pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre. Ao lado do vereador Pedro Ruas (PSol), ela falou representando o Partido dos Trabalhadores no evento.

“Estamos aqui para falar contra tudo aquilo que ao longo dos últimos anos sintetizou-se no golpismo de oito de janeiro. É por isso que a mensagem do PT ao lado dos partidos da luta popular democrática – do PSol, do PV, da Rede, do PCdoB, do PDC e do PSB – é de que não vai ter anistia para golpistas! Não é possível pensar em uma nação, que trilhou seus passos rumo à democracia, tenha essa trajetória destruída por aqueles que andaram pelo caminho do golpismo”, discursou a parlamentar.

Já Pedro Ruas lembrou aos presentes que no próximo dia 4 de abril haverá outra manifestação pública, desta vez na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, para celebrar a resistência à Ditadura Militar.

“Foi o dia 4 de abril de 1964 que marcou de forma trágica a história do país, quando foi feita a primeira vítima fatal da ditadura militar no Brasil. Foi na Base Aérea de Canoas que o Coronel Alfeu Monteiro, da Aeronáutica, foi metralhado com mais de quarenta tiros. Fica a nossa homenagem a este militar, que se negou a entregar a Base Aérea aos golpistas e disse que foi nomeado pelo presidente João Goulart e só a ele a entregaria. Ele foi morto ali. Depois veio a tortura, a censura e as perseguições a todos que resistiram ao autoritarismo”, lembrou Ruas.

Porto-alegrenses celebram a democracia contra o golpe

Foto: Igor Sperotto

Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS

Foto: Igor Sperotto

Já o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, destacou ao Extra Classe que os movimentos sociais também lutam para que o estado brasileiro estabeleça um processo de busca de verdade e reparação em tudo que diz respeito à ditadura militar.

“Infelizmente muita gente ainda comemora o golpe militar de 1964. E sobre esses 60 anos da implantação do início da ditadura nós entendemos que ainda tem muito para ser dito e esclarecido para que a verdade venha à tona e possa existir reparação às vítimas, às famílias e à história do país”, explica Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS.

Segundo ele, muitas empresas brasileiras, inclusive  gaúchas, participaram do golpe de 1964, apoiando, patrocinando e até mesmo “lucrando” com isenções e créditos concedidos por militares, principalmente empresas de mídia.

“Outro ponto importante de ser destacado é que é preciso lutar pela democracia porque por pouco não se reeditou o golpe em 8 de janeiro de 2023. Só que dessa vez terminou em fiasco, mas o que vemos aí é a mesma cartilha: apoio de empresários, de parte da mídia e de setores religiosos”, explica Amarildo.

Porto-alegrenses celebram a democracia contra o golpe

Foto: Igor Sperotto

Raul Carrion, PCdoB

Foto: Igor Sperotto

Segundo Raul Carrion (PCdoB), que viveu na clandestinidade durante a ditadura, o fato de estarem ocorrendo muitos atos de descomemoração dos 60 anos do golpe é um sinal positivo.

“Todos esses atos tem grande importância porque, ao contrário do que alguns pensam, repassar o que aconteceu não é remoer o passado, é pensar no futuro. Esses facínoras que em 8 de janeiro de 2023 tentaram acabar com a democracia no Brasil são os sucessores dos golpistas de 1964. Em 64, eles acabaram com a Constituição, tiraram o presidente, acabaram com as eleições diretas e assim por diante. Portanto, rememorar esses acontecimentos é preparar o nosso povo pra enfrentar esses fascistas autoritários”, alerta Carrion.

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Foto: Igor Sperotto

Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS

Foto: Igor Sperotto

Já Cecília Farias, do Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS) estabeleceu uma relação entre a perseguição da ditadura aos professores durante os anos de repressão e os ataques da extrema-direita à liberdade de ensinar nos dias de hoje.

“A ditadura foi um momento de muita perseguição a trabalhadores, inclusive aos professores, que foram vigiados, censurados e calados muitas vezes.  Atualmente, nós estamos sofrendo uma censura muito grande em sala de aula. Existe todo uma um movimento da extrema-direita que tenta associar conteúdos normais da vida escolar como sendo doutrinação. Nós temos o compromisso como professores de trazer a história, de trazer o conhecimento para os nossos estudantes e é isso que a gente faz. E nós não vamos permitir que pessoas estranhas à escola, pessoas que não tem informação e formação, venham nos dizer o que a escola deve trabalhar com seus estudantes”, defende.

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Foto: Igor Sperotto

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