Pastoral da Terra aponta explosão da violência no campo em 2021
Foto: Cimi/ Divulgação
As mesmas violências contra comunidades indígenas, trabalhadores e agricultores familiares que acontecem nas profundas florestas amazônicas e demais regiões do Brasil também são realidade visível e recorrente no Rio Grande do Sul. Com três assassinatos de indígenas, o estado está em terceiro lugar na escalada de violência no campo, ao lado de Roraima e Tocantins, também com três assassinatos. No Maranhão foram registradas nove mortes e em Rondônia, 11. Esses indicadores fazem parte do relatório Conflitos no Campo Brasil 2021, divulgado nesta segunda-feira, 18, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). O documento, de acordo com a entidade, é o retrato do pior cenário da série histórica desde 1985.
Arte: CPT
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As mortes ocorridas em decorrência dos conflitos foram ainda mais numerosas. Saltaram de nove em 2020 para 109 em 2021. Um aumento de 1.110%. Dessas, 101 foram indígenas Yanomami. Também cresceram de nove para 13 os registros de pessoas torturadas (aumento de 44%) e agredidas fisicamente que passaram de 54 para 75 (39%), em situações de conflitos rurais.
A CPT identifica que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) desencadeou o aprofundamento “de uma política antirreforma agrária, expropriatória e violenta nas áreas rurais” no Brasil. Entre 2011 e 2015, foram registrados 6.737 conflitos no campo, envolvendo mais de 3,5 milhões de pessoas. No período seguinte, de 2016 a 2021, esses números subiram a 10.384 conflitos e atingiram 5,5 milhões de pessoas. Os conflitos cresceram 54,13% e o número de envolvidos cresceu 55,08%.
Tiro, fogo, veneno e trabalho escravo
Foto: Cimi/ Divulgação
No Rio Grande do Sul foram 28 conflitos, envolvendo 9.578 pessoas, indígenas na maioria, abrangendo a Grande Porto Alegre, Canela, São Francisco de Paula e municípios da região Noroeste do estado, onde se concentra o agronegócio.
O coordenador nacional da CPT e agente da Pastoral no estado, Luiz Antônio Pasinato, mostra fotos do incêndio ocorrido na Terra Indígena Itapuã, aldeia Pindó Mirim, em Viamão. Em novembro do ano passado, invasores atearam fogo na Casa de Reza e em dois carros na comunidade Mbya Guarani. O território tradicional indígena está em demarcação desde 2009, com processo parado na Fundação Nacional do Índio (Funai), faltando publicação no Diário Oficial da União. Enquanto isso, a comunidade sofre pressões, ameaças e violências por parte de invasores.
Arte: CPT
Embora os indígenas sejam as maiores vítimas, as famílias de agricultores também sofrem agressões. Entre três conflitos por causa da água que ocorrem no Rio Grande do Sul, Pasinato cita a pulverização de agrotóxicos por aeronave em um assentamento do Movimento Sem-Terra (MST), em Nova Santa Rita, que atingiu lavouras, recursos hídricos e pessoas que tiveram que ser socorridas por causa dos efeitos da intoxicação.
Ele ainda mencionou as 65 pessoas resgatadas em situações consideradas trabalho escravo, entre elas cinco menores de idade. Os casos aconteceram em áreas de plantios de alho, fumo, carvoarias, criação de gado, indústrias alimentícias. O documento da CPT cita a Produção de Tabacos para Continental Tabaccos Alliance S/A, em Venâncio Aires.
“São fatos recorrentes, que acontecem porque a Justiça é lenta, os responsáveis ficam impunes. No caso do trabalho escravo, por exemplo, as pessoas geralmente vêm de outros estados e não têm como voltar na hora que querem, ficam submissas e acredito que sofram até ameaças de morte para não abandonarem o trabalho”, relata Pasinato.