Manifestantes foram novamente às ruas pelo impeachment
Foto: Igor Sperotto
Aos gritos de “genocida, miliciano e ladrão de vacina”, manifestantes ocuparam as ruas em mais de 312 cidades brasileiras e 35 no exterior, neste sábado, 3 de julho, nos atos intitulados #3J, convocados por partidos políticos, centrais sindicais, estudantes e movimentos sociais. Os atos pedem o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, além de “vacina no ombro e comida na mesa”, entre outras palavras de ordem. Os atos ocorreram em todos os 26 estados e no Distrito Federal.
No Rio Grande do Sul houve manifestações em mais de 26 municípios, de acordo com a CUT/RS, totalizando cerca de 100 mil pessoas. A estimativa nacional é de mais de 800 mil pessoas.
Foto: Divulgação/Acervo Pessoal
Em Porto Alegre, a concentração para a caminhada ocorreu, às 15h, no Largo Glênio Peres e se espalhou da Prefeitura até a Av. Borges de Medeiros depois seguiu para o Largo Zumbi dos Palmares, onde ocorreu a dispersão. Os organizadores estimaram a participação de cerca de 50 mil manifestantes.
“Estou aqui nesse manifesto pelo impeachment do presidente e também pela mobilização dos profissionais de saúde na aprovação do PL 2564, do piso da enfermagem e por 30 horas para a categoria”, afirmou Giane Alves, 36 anos, enfermeira do Hospital de Clínicas de POA. Ela foi à passeata acompanhada da irmã Marília Vasques, 58, servidora pública aposentada. “Saí de casa, com toda proteção possível para participar desta catarse, que é poder gritar Fora Bolsonaro, cercada dos meus”, desabafa.
“Estou participando deste protesto por minha conta, simplesmente porque amo meu país e o presidente não ama o Brasil. Por isso defendo o Fora Bolsonaro, exclama Breatriz, 55 anos.
103% de aumento de mortes maternas
Já Gustavo Bernardes, 46 anos, presidente da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico), destacou que a associação mobilizou familiares de vítimas para protestar. “Estamos aqui para pedir o fim deste governo genocida, que tem matado milhares de brasileiros com o seu negacionismo, com a falta de políticas públicas para acolher as vítimas da pandemia. Os familiares das vítimas da covid-19 estão hoje abandonados pelo governo brasileiro. Nós temos milhares de órfãos”.
Foto: Igor Sperotto
Segundo ele, houve 103% de aumento de mortes maternas no país entre 2020 e 2021e até agora nenhuma política pública para amenizar este problema e acolher quem precisa. “As pessoas estão enlutadas, paralisadas, diante de tanta morte. O governo Bolsonaro vai na direção contrária, que é a política do estado mínimo, que degrada ainda mais o serviço público, de saúde e assistência social, tão importantes para o enfrentamento da pandemia. Nós, da sociedade civil organizada, queremos espaço e voz para fazer o enfrentamento à pandemia. Mas para isso, também é preciso enfrentar este governo genocida”, protestou.
Terceira onda de protestos
Esta foi a terceira onda de grandes atos nacionais iniciadas em 29 de maio (o #29M), depois repetida no dia 18 de junho (#18J).
“Como dizia o Paulo Freire, é marchando que a gente vai se achando. E será marchando que iremos rumo a um Brasil melhor, um Brasil de direitos. Hoje, continuamos a luta pelo impeachment do presidente, o Fora Bolsonaro, pela defesa da vacina para todos, por emprego e renda. Outro ponto que devemos destacar é a nossa crítica a esta política de privatização de energia elétrica e água. Pois são políticas que se somam à pandemia contra os interesses dos trabalhadores e da população brasileira. Somos totalmente contra om desmonte do estado pretendido com a atual proposta de reforma administrativa”, destaca o professor Amarildo Pedro Cenci, que é presidente da CUT/RS e também faz parte da direção do Sinpro/RS.
Foto: Igor Sperotto
Impeachment e cautela
“Nós temos a expectativa sim de que ocorra o impeachment, o que exigirá de nós, muita perspicácia, inteligência e sabedoria. Precisamos trabalhar bem os simbolismos o buscar cada vez mais todos e todas aquelas pessoas e segmentos da sociedade que querem o fim deste governo. Podemos ver que as cores do protesto ainda são majoritariamente de esquerda, mas o verde e amarelo tem sido reconquistado aos poucos pelas forças progressistas e aparecido cada vez mais. Pois é sinal que cada vez mais pessoas independentes de partidos e sindicatos vêm engrossando nossas marchas”, assinala o presidente da CUT/RS.
Antecipação
Inicialmente previsto para o dia 24, foi antecipado pelos indícios de corrupção envolvendo a tentativa de compra de vacinas Covaxin superfaturadas pelo Ministério da Saúde a partir dos depoimentos dos Irmãos Miranda na CPI da Covid no Senado.
Desemprego e educação
“Estou aqui porque sou professora do EJA e vejo os meus alunos cada vez mais desempregados, pessoas jovens morrendo de covid-19, quando poderia ter sido evitado. E, nesse contexto ocorrem muitos ataques à universidade pública partindo do próprio governo, que é um governo corrupto, um governo que deveria proteger os estudantes e a educação ao invés de privar a população de vacinas e de educação”, diz a professora Clenira, 57 anos, do Colégio Aplicação da Ufrgs. Ela participou da passeata pela Adufrgs e pela Associação de Mães e Pais pela Democracia.
Semana de pressão
O clima de pressão aumentou ainda mais, para os protestos a partir da protocolação na Câmara dos Deputados do Superpedido de Impeachment, que ocorreu na quarta-feira, 30, na Câmara dos Deputados. A iniciativa reuniu forças políticas que vão da esquerda à direita, o que inclui o MBL e outras forças de centro e direita dissidentes ou contrárias ao bolsonarismo.
Durante a semana, após uma breve queda de braço entre STF e a PGR, também foi aberto inquérito pela Procuradoria Geral da República para apurar notícia-crime que aponta possível prevaricação do presidente Bolsonaro no Caso Covaxin.
*Confira abaixo as fotos de Igor Sperotto, da passeata #3J no Centro Histórico de Porto Alegre