MOVIMENTO

Petroleiros entram na terceira semana de greve contra demissões

Paralisação nacional completa 17 dias e atinge 118 unidades do sistema Petrobras em todo o país. Estatal não negocia com o comando de greve
Por Gilson Camargo* / Publicado em 17 de fevereiro de 2020
Com a adesão de mais de 20 mil petroleiros, essa é a maior greve da categoria desde o histórico movimento de 1995, que durou 32 dias

Foto: FUP/ Divulgação

Com a adesão de mais de 20 mil petroleiros, essa é a maior greve da categoria desde o histórico movimento de 1995, que durou 32 dias

Foto: FUP/ Divulgação

Em greve nacional desde o dia 1º de fevereiro, os petroleiros programaram para a próxima terça-feira, 18, uma grande manifestação em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, seguida de marcha, para assinalar a terceira semana de paralisação contra as demissões em massa na estatal. A “Marcha Nacional em defesa do emprego, da Petrobras e do Brasil” terá a participação de caravanas de trabalhadores de vários estados. A concentração será a partir das 16h, em frente ao Edise, na avenida Chile, onde está instalada a “Vigília Resistência Petroleira”. De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP) o movimento segue com novas adesões e entra na terceira semana com 57 plataformas, 24 terminais e todo o parque de refino da empresa paralisados. Ao todo, de acordo com a entidade, são 118 unidades do Sistema Petrobras afetadas. Com mais de 20 mil paralisados, essa é a maior greve da categoria desde o histórico movimento de 1995, quando os trabalhadores pararam por 32 dias.

Toffoli, do STF, atendeu a uma liminar da estatal e manteve, no dia 12, os efeitos de uma decisão cautelar do ministro Ives Gandra, do TST que reconhece a legalidade da greve, mas impõe pesadas multas e contingente de 90%

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebon/ ABr

Toffoli, do STF, atendeu a uma liminar da estatal e manteve, no dia 12, os efeitos de uma decisão cautelar do ministro Ives Gandra, do TST que reconhece a legalidade da greve, mas impõe pesadas multas e contingente de 90%

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebon/ ABr

A direção da Petrobras se nega a negociar com o comando de greve ou dialogar com a FUP. Em uma decisão que atenta contra o direito de greve, o ministro Dias Toffoli, do STF, atendeu a uma liminar da estatal e manteve, no dia 12, os efeitos de uma decisão cautelar do ministro Ives Gandra, do Tribunal Superior do Trabalho (TST) para inviabilizar a paralisação. Além de determinar que 90% dos petroleiros da Petrobras continuem trabalhando durante a greve, Toffoli manteve a multa diária, por descumprimento, de R$ 2 milhões para sindicatos. De acordo com a FUP, o valor é cumulativo às multas aplicadas pelo TST, de R$ 500 mil por dia para os grandes sindicatos e R$ 250 mil para os pequenos.

A paralisação dos petroleiros reivindica a suspensão das demissões em massa na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), iniciadas na sexta-feira, 14, e que devem atingir mil petroleiros. Um ato em protesto contra as demissões foi realizado por trabalhadores na última sexta-feira, quando a empresa comunicou a dispensa a 145 funcionários. Os petroleiros criticaram o forte aparato policial deslocado para o local pelo governo do PR e o silêncio dos grandes veículos de comunicação, que se negam a cobrir a greve – leia nota da FUP no final desta matéria.

No final de semana, mais uma plataforma do Norte Fluminense aderiu à greve, que já se estendeu por toda a Bacia de Campos. Já são 36 das 39 plataformas da região com operação entregue às equipes de contingência da Petrobras. A mobilização é para que as três últimas plataformas da Bacia que ainda não entraram na greve (PRA-1, P-54 e P-65) se somem ao movimento nacional, informou a FUP em comunicado.

Na Bahia, os trabalhadores da Estação de Distribuição de Gás de Camaçari também paralisaram as atividades no domingo. Em todo o país, são 118 unidades mobilizadas, entre elas 57 plataformas, 24 terminais e todo o parque de refino da empresa: 11 refinarias, SIX (usina de xisto), Lubnor (Lubrificantes do Nordeste), AIG (Guamaré).

No edifício sede da Petrobrás, no Rio, a Comissão Permanente de Negociação da FUP já está há 17 dias, ocupando uma sala do quarto andar do prédio, cobrando um canal de diálogo com a gestão, na busca do atendimento das reivindicações da categoria.

Do lado de fora do prédio, na avenida Chile, a “Vigília Resistência Petroleira” vem arregimentando apoios e participação ativa de diversas outras categorias, organizações populares, estudantes e movimentos sociais, na construção de uma ampla frente de luta em defesa da Petrobras e contra as privatizações.

Em Araucária, petroleiros e petroquímicos da Fafen-PR e suas famílias seguem acampados há 27 dias em frente à fábrica, resistindo ao fechamento da unidade e lutando para reverter as demissões já iniciadas pela Petrobras.

_______________________________________________________Quadro nacional da greve
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57 plataformas
11 refinarias
24 terminais
7 campos terrestres
7 termelétricas
3 UTGs
1 usina de biocombustível
1 fábrica de fertilizantes
1 fábrica de lubrificantes
1 usina de processamento de xisto
2 unidades industriais
3 bases administrativas
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Rescisões de petroleiros da Fafen ocorreriam em hotel de luxo

Sob forte aparato policial, a categoria protestou contra demissões na Fafen, onde 145 petroleiros queimaram as cartas de demissão enviadas pela empresa

Foto: FUP/ Divulgação

Sob forte aparato policial, a categoria protestou contra demissões na Fafen, onde 145 petroleiros queimaram as cartas de demissão enviadas pela empresa

Foto: FUP/ Divulgação

A Petrobras começou a demitir os funcionários da Araucária Nitrogenados (Ansa), antiga Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), na Região Metropolitana de Curitiba, na sexta-feira, 14. De acordo com a empresa, 396 funcionários serão desligados até abril. Os petroleiros afirmam que serão mais de mil demissões diretas, com reflexo para 4 mil empregos indiretos. Sob forte aparato policial, a categoria organizou um ato em frente à Ansa, no qual 145 petroleiros comunicados sobre o desligamento queimaram as cartas de demissão enviadas pela empresa. Em nota, a FUP criticou a presença exagerada de policiais fortemente armados e a “afronta” da direção da estatal ao escolher um hotel de luxo para a assinatura das rescisões. A greve nacional dos petroleiros é uma reação às demissões em massa na Fafen: “a posição da categoria dos petroleiros é contra as demissões. Além disso, exigimos que a Petrobras cumpra o Acordo Coletivo de Trabalho e venha negociar com os Sindicatos e Federação”, explicou Alexandro Guilherme, dirigente do Sindipetro PR e SC.

A seguir trecho da nota divulgada pela FUP no dia da manifestação na Fafen:

“É 14 de fevereiro de 2020, mas se fosse os anos de chumbo no Brasil ninguém acharia estranho. Isso porque o “Ato contra demissões de trabalhadores da Fafen-PR”, nesta sexta-feira, em frente a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), recebeu “uma visita” exagerada dos policiais militares.

A greve nacional dos petroleiros se fortalece e já incomoda muita gente. Narrativas da mídia hegemônica tentam descaracterizar a legalidade da mobilização, porém a voz dos trabalhadores do Sistema Petrobrás tem chegado aos mais diversos ouvidos e conquistado apoiadores descontentes com a situação do Brasil. Principalmente em relação a política dos preços dos combustíveis e o processo de desindustrialização, que promove desemprego e desigualdade. 

Dentro desse processo estão os trabalhadores da Araucária Nitrogenados (Ansa/Fafen-PR). Nos últimos dias, os petroquímicos começaram a receber cartas de demissões. O documento é uma afronta, já que convoca os funcionários para comparecer, em local escolhido pela empresa (normalmente um hotel de luxo em Curitiba), para efetivar a rescisão dos contratos de trabalho. 

De diferente mesmo, neste ato, foi a presença de forte aparato policial para impedir que os dirigentes do Sindipetro PR e SC fizessem os diálogos com a categoria. Foi uma demonstração da força do estado a serviço da atual gestão da Petrobrás, que tenta colocar trabalhador contra trabalhador. Mas, como dizem, o tiro saiu pela culatra.

Pois, em mais uma demonstração de solidariedade da classe trabalhadora, o ato tomou novos rumos. E, diante da presença ostensiva da polícia, os petroleiros permaneceram em frente a Repar e quem fez a caminhada em direção ao ato unificado foram os trabalhadores da Fafen”.

CAMINHONEIROS – A Associação Nacional dos Transportadores Autônomos do Brasil (ANTB) declarou, em carta enviada à presidência da República e aos 27 governadores, apoio à greve nacional dos petroleiros. O Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro) informou que o presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), Alexsandro Viviani, o Italiano, que lidera o movimento grevista dos caminhoneiros no porto de Santos foi preso nesta segunda-feira, 17.  “Uma repressão desproporcional e injustificada. Sindicato e trabalhadores pacificamente protestavam e faziam o trabalho de convencimento para que os colegas aderissem à greve”, afirma o Sindipetro em seu comunicado. Os caminhoneiros decidiram por uma nova greve nacional na próxima quarta-feira, dia 19 de fevereiro, para protestar contra a suspensão da votação no Supremo Tribunal Federal (STF) da constitucionalidade da tabela do frete.

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