Relatório da CPT registra aumento da violência no campo
Foto: Divulgação
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) apresentou no início desta tarde, 12, o seu relatório anual Conflitos no Campo Brasil. Compreendendo o período de 2018, é a 34ª edição do documento, que traz dados sobre os conflitos e atos de violências sofridos por trabalhadores e trabalhadoras do setor agrário brasileiro, entre os quais comunidades indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais.
O Conflitos no Campo Brasil 2018 registra que as questões vinculadas à água bateram recorde, além de ter aumentado o número de famílias expulsas de suas terras. Também em 2018, o número de mulheres que sofreram alguma forma de violência foi o mais alto desde 2008. Com 482 mulheres vitimadas, sendo 36 ameaçadas de morte, a CPT dedicou a publicação deste ano à vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio em março de 2018, e à irmã Alberta Girardi, católica da Congregação das Orionitas que dedicou sua vida aos Sem Teto e aos Sem Terra e morreu em dezembro passado aos 97 anos de idade. Também como homenagem à “luta das mulheres”, as fotografias do relatório foram totalmente feitas por mulheres.
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino/ CPT
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino/ CPT
MORTES – No geral, 2018 apresentou queda no número de mortes nas disputas agrárias. No entanto, a CPT analisa que historicamente isso é uma tendência em anos eleitorais. Se em 2018 foram verificadas 28 mortes, ante as 71 de 2017, quando houve cinco massacres, a CPT aponta que o retorno do aumento dos assassinatos no campo já se verifica. Só nos quatro primeiros meses de ano, a CPT registrou 10 assassinatos em conflitos no campo e, para a organização, esse número pode ser ainda maior – devido à subnotificação.
Em ataque no Amazonas em 30 de março, uma pessoa foi assassinada e três ou mais pessoas podem estar desaparecidas, conforme relatos de moradores. Segundo a CPT, “as famílias ainda não se sentiram seguras para retornar às suas casas”. O total registrado até o momento já representa 36% dos assassinatos motivados pela posse da terra em todo o ano de 2018.
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino/ CPT Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino/ CPT
Com um aumento de 59%, 2.307 famílias foram expulsas das áreas que reivindicavam. Para a CPT, em grande parte o despejo se dá em terras griladas onde o suposto dono obriga as famílias a sair, seja por conta própria ou através da pressão de “jagunços”, que ainda “muitas vezes” encontram respaldo ilegal em organismos policiais. Na metodologia da CPT, expulsão é o ato de retirar da terra seus ocupantes, sem ordem judicial.
A CPT foi criada em junho de 1975 em plena ditadura militar, durante o Encontro de Bispos e Prelados da Amazônia. Inicialmente nascida no seio da Igreja Católica, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), hoje a Comissão tem caráter ecumênico, congregando outras igrejas cristãs como a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB.
Acesse entrevista com dom André de Witte, presidente da CPT.