Acampamento indígena em Brasília chama atenção para demandas
Foto: Pablo Albarenga
Foto: Pablo Albarenga
Cercada por forte aparato policial iniciou nesta quarta-feira, 24, a 15ª edição do Acampamento Terra Livre, encontro anual das mais variadas etnias indígenas do Brasil na capital federal. Reunindo até o momento cerca de dois mil lideranças para chamar atenção às suas demandas, até o final do encontro, amanhã, 26, mais dois mil índios em marcha deverão se somar ao movimento. Trata-se do XV Acampamento Terra Livre – 2019: Resistimos há 519 anos, a maior assembleia indígena do Brasil e tem como principal propósito reivindicar que os direitos constitucionais dos povos indígenas sejam respeitados, como o direito à terra e o direito de viver de acordo com o seu modo de vida tradicional.
Nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro chamou o evento de “encontrão de índios” financiado com dinheiro público. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), organizadora do Acampamento, contestou Bolsonaro afirmando que o encontro que ocorre há mais de 15 anos, além do seu caráter pacífico é “autofinanciado com a ajuda de diversos colaboradores”.
O clima de tensão entre o governo e o Acampamento, no entanto, não iniciou com as declarações de Bolsonaro. Pela primeira vez desde a sua criação a Força Nacional foi mobilizada para realizar os procedimentos de segurança ao entorno da atividade. Já no primeiro dia, aconteceu um impasse com os policiais do Distrito Federal que impediram a montagem de barracas na Esplanada dos Ministérios. Mediado por representantes de entidades da sociedade civil e parlamentares, os indígenas acordaram, sob condições de que a polícia evitará uso da violência durante as manifestações, a montagem do acampamento entre a frente e os fundos do Museu da República.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, esteve no início da manhã de ontem em frente ao protesto onde discursou para os policiais militares que participam da segurança do evento sob o seu comando. Na ocasião, descartou a volta da Funai para o Ministério da Justiça, um dos pleitos do movimento indígena. Apesar de defender a permanência dos índios na Esplanada dizendo que “o que existe são manifestações públicas, legítimas do índio, como qualquer cidadão”, Moro não foi ao local onde os indígenas montaram acampamento, a 50 metros de onde discursou e fez selfies com os policiais.
Justiça na Praça dos Três Poderes
Foto: Leo Otero/MNI
Foto: Leo Otero/MNI
“A mensagem que levamos para o mundo todo é a de que justiça é o nosso território nas nossas mãos. É a nossa saúde com qualidade e respeito às nossas necessidades. Justiça é termos a nossa educação específica e diferenciada de acordo com os valores de cada povo. Justiça é o nosso território não ser invadido. É nossas lideranças não serem assassinadas. Esta intervenção simboliza Justiça. É isso que estamos fazendo aqui, na Esplanada dos Ministérios: exigindo Justiça!”, afirma o Cacique Marcos Xukuru, de Pernambuco.
Na entrevista coletiva para a imprensa durante a abertura do Acampamento, a coordenadora da Apib, Sônia Guajajara, assegurou “nós não vamos nos render às ameaças de governo autoritário algum. Estamos aqui para mostrar que os povos originários estão de pé”. Para ela, o governo Bolsonaro é uma tragédia na política indigenista, que sofreu um desmonte completo e o discurso do presidente, de “integrar” os povos, é o mesmo da ditadura, que matou pelo menos 8 mil indígenas de acordo com os dados da Comissão Nacional da Verdade. “Lamento por quem se deixa enganar pela promessa de explorar os territórios. O bem viver só acontece se tivermos demarcação. Temos 5 séculos de experiência em resistência e vamos continuar resistindo. Queremos o direito de continuar sendo o que somos, com identidade preservada”, afirmou Sônia.
As lideranças da Apib lembraram que, além do Brasil, mais de 12 países estão mobilizados prestando solidariedade aos povos indígenas, da América Central e dos EUA até a Ásia, o que torna o Acampamento uma das maiores mobilizações indígenas do mundo.
Desde o início de 2019 os povos originários do Brasil não dão trégua aos retrocessos anunciados por Bolsonaro: manifestações ocorreram em janeiro e em março por todo o país, clamando por nenhuma gota a mais de sangue indígena e obrigando o Ministério da Saúde a voltar atrás na sua intenção de municipalizar a saúde indígena.
Foto: Jacy Santos/Mídia Ninja
Foto: Jacy Santos/Mídia Ninja
Programação
23/04 – TERÇA – FEIRA
– Chegada das Caravanas indígenas em Brasília
– Incidência na Câmara em vista da MP 870
24/04 – QUARTA – FEIRA
– Encontro das delegações indígenas
– Instalação do acampamento
– Coletiva de imprensa
– Abertura do ATL
– Leitura do documento base
– Saudações dos movimentos sociais nacionais e internacionais
– Marcha para o STF
– Vigília no STF (Cantos, danças e rituais)
25/04 – QUINTA – FEIRA
– Audiência pública na Câmara dos Deputados: O papel dos povos indígenas na proteção do meio ambiente e desenvolvimento sustentável e as consequências da MP 870/19
– Cantos, danças e rituais
– Audiência na Câmara legislativa distrital – Delegação
– Acompanhar a Audiência no STF – Delegação
– Plenária nacional das Mulheres indígenas
– Plenária da Juventude e Comunicadores indígenas
– Lançamento de relatórios
26/04 – SEXTA – FEIRA
– Rituais indígenas
– Marcha
– Plenária de encerramento
– Aprovação da agenda de lutas
– Aprovação do documento final do ATL2019
– Encerramento com noite cultural, apresentações indígenas e não indígenas
27/04 SÁBADO
– Retorno das delegações