MOVIMENTO

Boca de Rua: made in Porto Alegre

Publicado em 4 de abril de 2001
meninos

Fotos: Arquivo Alice

Eu não me preocupava com nada, só comigo e com os amigos que estavam na volta. Hoje tenho mais idade. Estou trabalhando. Me sinto mais responsável e vejo a vida de outra maneira.” Além de vendedor e repórter do jornal Boca de Rua, de POA, Carlos, trabalha na Coleta Seletiva de Lixo para a Prefeitura Municipal.

Fotos: Arquivo Alice

A Agência Livre da Infância Cidadania e Educação – A.L.I.C.E, foi formada em 1998 por um grupo de jornalistas profissionais. Todos com experiência na grande imprensa e com interesse por matérias na área de direitos humanos. Há três anos reúnem-se semanalmente para discutir e fazer análises críticas da mídia e de que forma as informações estão sendo veiculadas. Além disso dedicam-se à criação de projetos vinculados à questão social, considerada por eles um tema básico do jornalismo. “A idéia é dar voz a alguns segmentos da população que historicamente não têm espaço para comunicação na grande imprensa, a não ser nas páginas policiais ou nas reportagens-denúncia, que geralmente não dão continuidade aos temas”, diz Clarinha Glock, jornalista. Um destes projetos é o jornal Boca de Rua, iniciado no ano passado, sem que o grupo tivesse conhecimento de trabalhos semelhantes em outros locais.

Os jornalistas promovem encontros de trabalho, aos sábados, com jovens moradores de rua, em uma das praças de Porto Alegre para viabilizarem, assim, a feitura do jornal. A grande diferença das outras iniciativas espalhadas pelo mundo, é que todo o conteúdo publicado no Boca, textos, entrevistas, reportagens, opinião e até mesmo as fotografias são obra dos moradores de rua. “O jornal funciona como um canal de comunicação entre eles e a sociedade, até para reduzir o preconceito existente para com a população da rua”, acrescenta Clarinha. “Na verdade estes meninos que fazem parte do projeto, são jovens-adultos. Já passaram da fase em que estariam protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Estão na faixa dos 18 anos e não existe nenhum programa público que atenda estas pessoas”, complementa Rosina Duarte, também jornalista. Eles não têm documentos, casa e nem emprego. Também não constam nas estatísticas do IBGE.

Foi este o gancho para a manchete do primeiro exemplar do jornal que circulou nas ruas da capital no início deste ano: “Vozes de uma gente invisível”. Carlos, 23 anos, um participantes do projeto diz: “O jornal representa uma oportunidade para mostrarmos a realidade da rua. Ninguém vê o nosso lado da fome, da violência. É uma maneira de a gente falar às pessoas o que está acontecendo aqui”.“Prá mim não existia família, irmão.

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