Mãe de Eduardo Fösch morre sem respostas para a morte do filho
Foto: Igor Sperotto/ Arquivo Extra Classe
Passados mais de onze anos da morte do seu único filho, o estudante negro Eduardo Fösch, assassinado em condições misteriosas aos 17 anos em uma festa de luxo na zona Sul de Porto Alegre, em 2013, a bancária Jussara Regina Fösch faleceu aos 58 anos na última terça-feira, 16, em Santa Catarina.
Após mais de uma década lutando nos tribunais contra inúmeras tentativas de arquivamento do caso que teve o envolvimento dos filhos de um empresário e de um membro influente do Ministério Público à época, ela faleceu sem ter conhecido uma resposta do judiciário gaúcho à sua extensa busca por justiça. De acordo com familiares, Jussara sofreu uma embolia pulmonar seguida de um infarto e estava em coma até o início da semana.
Foto: Igor Sperotto/ Arquivo Extra Classe
Jussara e Júlio César Rodrigues, pai de Eduardo, contrataram um perito e uma consultoria jurídica logo depois do crime, em 2013, e conseguiram convencer o Ministério Público a desarquivar o inquérito que foi aberto e encerrado em questão de horas pela polícia civil como sendo um “acidente”. A família denunciou diversas irregularidades no inquérito, a começar pelo local do crime, ao qual a polícia não compareceu e que não foi imediatamente isolado nem periciado.
O crime chegou ao conhecimento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) – órgão da OEA, onde os pais denunciaram, em dezembro de 2020, o caso como racismo e assassinato e relataram os sucessivos adiamentos, lobby dos advogados dos suspeitos e famílias envolvidas na organização da festa, morosidade do judiciário e substituições de promotores e juízes.
Em agosto de 2022, o juiz Tadeu Trancoso de Souza, da 2ª Vara do Foro Central de Porto Alegre, absolveu o principal suspeito do crime, o chefe da segurança do condomínio Jardim do Sol.
De acordo com o entendimento de mais de um magistrado que esteve à frente do caso nos últimos anos, o crime deveria ir a júri popular, mas uma nova derrota foi imposta à família da vítima nos últimos meses com base na falta de provas para o pronunciamento no Tribunal do Júri.
No julgamento de primeira instância o juiz entendeu que não podia pronunciar os réus porque não tinha provas para denunciá-los no júri popular e eles foram liberados. A defesa recorreu e o TJRS manteve o entendimento de que não haveria provas e que a morte teria sido acidental. De acordo com a advogada Lesliey Gonsales, desembargador usou os mesmos argumentos do primeiro grau.
De acordo com depoimentos colhidos ao longo do processo, Eduardo Fösch morreu devido às agressões sofridas durante uma festa de classe média promovida por colegas dele em um condomínio de luxo na zona Sul da capital.
Foto: Acervo Pessoal
O jovem estava entre amigos e colegas de escola, mas em algum momento entre a noite de sábado, 27, e a madrugada de domingo, 28 de abril de 2013, o adolescente, que era a única pessoa negra presente no evento, foi agredido por seguranças com um taco de beisebol.
O jovem estava agonizando quando foi encontrado por uma moradora do condomínio na manhã de domingo. Ele morreu nove dias depois no Hospital de Pronto-Socorro. Até agora, ninguém foi condenado e o caso está sob segredo de Justiça.
“Desde o início do processo nós já estranhamos a ausência da polícia no local no dia do ocorrido. Fomos nós que registramos o boletim de ocorrência, mas a polícia não foi ao local. Depois tivemos duas tentativas de arquivamento do processo, várias trocas de juízes e de promotores. Durante esses nove anos e toda a abordagem do ocorrido tentaram nos convencer que o Eduardo se feriu durante uma queda, que eu tenho certeza que não foi, estou convicta que foi agressão e que meu filho foi assassinado. Depois de verificar prontuários do HPS e entender a avaliação do perito nós confirmamos que de fato foi um assassinato. Nós da família entendemos que todas essas situações tinham o objetivo de levar à impunidade, à não punição do criminoso, e de retardar todos os procedimentos e a conclusão desse processo para que de fato ninguém seja punido”, disse Jussara em uma entrevista ao Extra Classe, em agosto de 2022.