Contrabandistas de ouro da Amazônia são alvo da Polícia Federal
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O brasileiro Brubeyk do Nascimento foi preso na quarta-feira, 20, em operações simultâneas deflagradas pela Polícia Federal e Receita Federal.
Ele era monitorado pela PF desde 2020, quando foi preso com dois estrangeiros no aeroporto internacional de Manaus, tentando embarcar uma carga de ouro proveniente do garimpo ilegal em terras indígenas para os Estados Unidos.
Foto: Polícia Federal/ Divulgação
De acordo com a PF, Nascimento integra uma organização criminosa dedicada à extração, comercialização e exportação ilegais de ouro extraído de reservas indígenas e unidades de conservação federal e à lavagem de dinheiro, bens e ativos de origem ilícita.
A ação também chegou ao bilionário austríaco naturalizado no Brasil, Werner Rydl, acusado de intermediar a remessa de ouro dos garimpos ilegais da Amazônia para a Europa. Apesar dos antecedentes, Rydl não foi preso. A PF cumpriu contra ele apenas um mandado de busca e apreensão.
De acordo com as investigações, o minério extraído de forma ilegal da Terra Yanomami, nos estados de Amazonas e Roraima, e na Venezuela, era enviado para a Europa e Estados Unidos, em uma série de ações ilegais que movimentou cerca de R$ 5,7 bilhões nos últimos anos.
Conexões
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As investigações começaram em 2020, depois que a PF apreendeu 35 quilos de ouro no aeroporto internacional Eduardo Gomes, de Manaus, em poder dos norte-americanos Frank Gianuzzi e Steven Bellino e do milionário brasileiro, Brubeyk do Nascimento.
Eles tentavam embarcar a carga para Nova York. Ao serem interceptados pela polícia alfandegária, os suspeitos alegaram que o minério teria sido obtido por meio do derretimento de joias e apresentaram documentos de origem fraudados.
De acordo com a perícia da PF, a origem do minério era o garimpo ilegal da região de Tapajós, no Pará.
No curso das investigações, a PF apurou que a organização criminosa adquire ouro de terras indígenas e leitos de rios com uso de dragas e, por meio de fraude, declara que o ouro foi extraído em permissões de lavra garimpeira (PLG) regularmente constituídas, como em Natividade, no sudeste do Tocantins.
Também foi identificado que Nascimento esquentava o ouro por intermédio do austríaco naturalizado brasileiro. Werner Rydl teria mais de mais R$ 20 bilhões em barras de ouro escondidas em um paraíso fiscal, um país independente que teria sido criado pelo contrabandista para burlar as autoridades.
Nas ações conjuntas, chamadas operações Emboaba, Lupi e Eldorado foram cumpridos 20 mandados de prisão preventiva e 61 de busca e apreensão, além de outras medidas cautelares, nas cidades de Manaus (AM), Anápolis (GO), Ilha Solteira (SP), Uberlândia (MG), Areia Branca (RN), Ourilândia do Norte (PA), Tucumã (PA) e Santa Maria das Barreiras (PA). Também foi deferida ordem de sequestro de bens no montante total de mais de R$ 5,7 bilhões.
Natural de Goiás, Nascimento é citado nas três operações. A PF tinha contra ele mandados de prisão expedidos pela justiça do Amazonas, Roraima e Tocantins. Foi preso em um condomínio de casas de luxo em Manaus.
Intocável
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Werner Rydl, que desta vez foi alvo apenas de um mandado de busca, já é conhecido da Polícia Federal e do judiciário brasileiro há mais de duas décadas.
No final dos anos 1990, ele foi acusado de sonegação fiscal pelo governo austríaco e fugiu para o Brasil: era procurado como o maior detentor individual de ouro da Áustria.
Em 2004, Rydl foi preso a pedido do Ministério da Justiça no cumprimento de um pedido de extradição feito pelo governo austríaco.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela extradição, com base em acusações de fraude, resistência à prisão e organização criminosa, e ele foi enviado de volta ao país de origem.
Permaneceu preso por três meses, pois os crimes pelos quais era acusado haviam prescrito. Ele alegou que era um perseguido político e veio parar no Brasil, onde se naturalizou e foi morar em Pernambuco, em 2009.
No dia 27 de março de 2015, o austríaco foi detido pela PF no Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá (MT), quando tentava embarcar para o interior do Pará, transportando uma barra de ouro de 644 gramas.
O advogado dele, André Prieto, alegou à época que o objeto era usado como espécie de ‘amuleto da sorte’ pelo bilionário, mas não apresentou documentos de propriedade nem de origem do minério.
Rydl foi preso em flagrante por usurpação do patrimônio da União e encaminhado ao Centro de Ressocialização de Cuiabá (antigo presídio de Curumbé).
A defesa alegou que ele carregava a barra de ouro por ser “um excêntrico”. O juiz federal que expediu o alvará de soltura entendeu que o austríaco poderia responder às acusações em liberdade.
Depois disso, o austríaco se favoreceu do desmonte da estrutura de fiscalização ambiental no país e da maior expansão do garimpo ilegal em terras indígenas – o que em 2022 levou o povo Yanomami quase ao extermínio.
De acordo com a PF, Rydl e Nascimento responderão pelos crimes de usurpação de bens da União, organização criminosa, lavagem de dinheiro, extração ilegal do ouro, contrabando, falsidade ideológica, receptação qualificada e outros tipos penais.