Carla Zambelli e hacker da Vaza Jato são alvos de operação da Polícia Federal
Alvo da Operação 3FA, que apura invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em janeiro deste ano, Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da vaza jato, está detido na Delegacia da Polícia Federal (PF) em Araraquara (SP).
A prisão preventiva do estudante de direito foi confirmada por seu advogado, Ariovaldo Moreira. Segundo o defensor, Delgatti foi “surpreendido” pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que autorizou que o hacker fosse detido em caráter preventivo.
O advogado do preso disse que aguarda a íntegra da decisão e alega que até agora só teve acesso ao mandado judicial da prisão.
A ocorre no âmbito de um inquérito que investiga a inserção de alvarás de soltura em sistema do CNJ e mandado de prisão falso contra o ministro do STF, Alexandre de de Moraes.
Delgatti diz à PF que Bolsonaro cogitou invasão urnas
Em depoimento à PF, Delgatti detalhou o encontro que teve com o ex-presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, em agosto do ano passado, no Palácio da Alvorada. Relatou que foi levado à casa de Bolsonaro pela deputada Carla Zambelli e que o tema da conversa foi a possibilidade de invadir o sistema das urnas eletrônicas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para fraudar resultados da eleição.
No depoimento anotado pelos agentes nesta manhã consta que ele “encontrou o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a urna eletrônica, mas isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do tribunal, e o declarante não poderia ir até lá”.
De acordo com o relatório da PF enviado ao STF, assessores da deputada Carla Zambelli fizeram pagamentos por pix de R$ 13,5 mil para Delgatti
Limpa no gabinete
O caso tramita no STF devido à inclusão da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que tem foro privilegiado.
Ela também é alvo da operação. Os agentes fizeram buscas na casa e no gabinete da parlamentar. A determinação é para apreender passaporte e bens de deputada. No gabinete, os agentes não encontraram os computadores e o lixo estava revirado, o que levantou suspeita de vazamento da operação.
O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Zambelli, já trabalha com a hipótese de cassação da parlamentar.
Zambelli já é investigada por um inquérito aberto pela Comissão de Ética da Câmara dos Deputados a pedido do PSB, por quebra de decoro parlamentar.
Durante uma audiência pública com o ministro da Justiça, Flávio Dino, realizada em 11 de abril, na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime organizado, na Câmara, ela ofendeu o deputado Duarte Júnior (PSB-MA).
A petição encaminhada por Júnior à Comissão de Ética acusa Zambelli pelo crime de injúria.
Somada a esse inquérito e ao escândalo proporcionado pela parlamentar ao perseguir um adversário político apontando uma arma, antes do segundo turno das eleições de 2022, a operação desta quarta-feira da PF reduz ainda mais o que resta de apoio no PL.
A cúpula do partido admitiu a colunistas e setoristas de política nesta manhã que não fará qualquer esforço para defendê-la. “Os documentos da operação desta quarta podem engrossar o inquérito contra Zambelli na Câmara dos Deputados”, cogitou Valdo Cruz, no G1.
O deputado João Leão (PP-BA), relator da apuração de quebra de decoro parlamentar pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) votou nesta tarde a favor da continuidade do processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em seguida, o deputado Domingos Sávio (PL-MG) pediu vista para analisar o caso. Com isso, o colegiado só deve votar o parecer do relator na próxima semana, acatando, ou não, a abertura da investigação solicitada pelo PSB.
Coletiva
Em coletiva na Câmara dos Deputados, a deputada disse que que não fraudaria as eleições para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencesse o pleito e respondeu sobre pagamentos feitos por ela ao hacker da Vaza Jato,Walter Delgatti, preso pela PF de manhã.
“Ele (Walter Delgatti) queria conhecer o presidente (Bolsonaro) e o presidente quis perguntar para ele se as urnas eletrônicas eram confiáveis, ao que ele disse que não. Eu não fraudaria as eleições para o Lula ganhar, e nem seria tão barato assim”, argumentou. Os pagamentos a Delgatti, alegou, foram para que ele fizesse melhorias em seu site.
Invasão aos sistemas do CNJ
De acordo com a PF, as ações ocorrem no âmbito de um inquérito policial instaurado para apurar a invasão ao sistema do CNJ, que tramitou na Justiça Federal, mas teve declínio de competência para o STF em razão do surgimento de indícios de possível envolvimento de uma pessoa com prerrogativa de foro.
“Os crimes apurados ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes”, informou a corporação por nota.
Delgatti responde a outro processo, no âmbito da Operação Spoofing, que investiga a invasão dos celulares do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e hoje senador, Sergio Moro (União Brasil-PR), e de outras autoridades.
Esta é terceira vez que o hacker é preso preventivamente desde julho de 2019. A segunda detenção foi decretada em junho deste ano, por descumprimento de medidas judiciais, e só em julho a Justiça voltou a autorizar a soltura de Delgatti, mediante o uso de tornozeleira eletrônica.
As inserções fraudulentas, segundo a PF, foram feitas com a utilização de credenciais falsas obtidas de forma ilícita e que permitiram aos criminosos ter controle remoto dos sistemas. Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica dos quais o hacker e a parlamentar são acusados.
Em seu perfil no Twitter, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, reforçou que os mandados judiciais são relativos a invasões ou tentativas de invasões de sistemas informatizados do Poder Judiciário da União, no contexto dos ataques às instituições.
“Em prosseguimento às ações em defesa da Constituição e da ordem jurídica, a Polícia Federal está cumprindo mandados judiciais relativos a invasões ou tentativas de invasões de sistemas informatizados do Poder Judiciário da União, no contexto dos ataques às instituições”, destacou.
Vaza Jato
A divulgação das informações extraídas ilegalmente dos aparelhos telefônicos, como a troca de mensagens entre Moro e o ex-procurador da República e então coordenador da força-tarefa Lava Jato, o atual deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR).
As condutas do ex-juiz e do ex-procurador deram origem à chamada Operação Vaza Jato, que expôs os bastidores da operação Lava Jato e evidenciou que houve vazamento de informações sigilosas de forma seletiva, com objetivos políticos.
Além disso, eles incorreram em violação do devido processo legal e do princípio da imparcialidade, além do abuso das prisões preventivas a fim de forçar os investigados a acordos de delação premiada.