Advogada que denunciou perseguição de cunho nazista a eleitores petistas relata agressões
Foto: ALRS/ Divulgação
A advogada Janaíra Ramos da cidade de Casca (RS) registrou na tarde dessa quarta-feira, 23, um Boletim de Ocorrência na polícia civil de Casca, interior do RS, relatando agressão sofrida em seu próprio escritório por uma suposta liderança do movimento que tem fomentado os bloqueios de estrada em sua região em protesto contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da República do Brasil.
No início de novembro, Janaíra denunciou nacionalmente em uma live no Instagram do advogado Táki Cordás e em jornais como o Extra Classe que bolsonaristas de seu município estavam sugerindo que eleitores de Bolsonaro colocassem a estrela do Partido dos Trabalhadores em casas, escritórios e comércios de eleitores de Lula para facilitar a segregação que vem sendo promovida na cidade e em outros municípios do interior do país.
Segundo a advogada ela terminou uma videoconferência com um colega em seu escritório quando foi abordada pelo arquiteto Rodrigo Tondelo, que foi até o local, segundo disse, para conversar com Janaíra.
Ela, segundo relatou ao delegado da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Cristiano Alves de Bone, disse ter recusado.
Foi quando Tondelo, segundo o depoimento de Janaíra, afirmou que ela era obrigada a falar com ele. O arquiteto teria dito que essa primeira conversa seria um aviso e a próxima ida dele ao escritório da advogada seria para matá-la.
Ao Extra Classe, Janaíra explicou que se recusou a ouvir Tondelo por ele ser um dos principais coordenadores do movimento de paralisação de estradas na região.
“É ele quem filma, é ele quem fotografa, quem divulga tudo. Ficou acampado durante uns 10 dias. Eu não quero conversar com quem atenta contra o Estado Democrático de Direto”, afirmou a advogada.
Invasão e agressões
Ao sair do escritório diante da ameaça, Janaíra disse que o arquiteto a atingiu com um tapa nas costas. Já na rua, ela continuou sendo agredida com um pontapé em sua perna. Laudo de corpo de delito apontou uma lesão próxima ao joelho.
Fora a agressão física, a advogada disse ter sido xingada. O arquiteto ainda teria dito que petistas teriam que morrer e que as agressões e ameaças “apenas estavam começando”, completa Janaíra.
Ela informou à polícia que nunca teve desentendimento anterior com Tondelo e que continua se sentindo ameaçada.
A advogada colocou à disposição dos investigadores seu sistema de monitoramento de vídeo e disse acreditar que a quebra de seu interfone ocorrida dias atrás esteja relacionado com as agressões.
Janaíra informou que pretende representar contra o agressor e solicitou medidas protetivas. “Estou aqui agora esperando ele vir terminar o serviço, já que até fotografar todo o meu escritório ele fotografou”, concluiu.
O Extra Classe tentou contato com Rodrigo Tondelo, mas não teve retorno.
Segundo o delegado Bone, o acusado se apresentou na delegacia antes mesmo de Janaíra ter registrado o seu BO e confessou a agressão, sendo posteriormente liberado.
“Ele alegou que foi tirar satisfações sobre coisas que ela (Janaíra) teria falado dele. Ele disse que acabou se excedendo e desferido um chute nela. Ele mesmo relatou”, finalizou o policial.
Bancada do PT pede medidas de segurança
A bancada do PT na Assembleia Legislativa do RS divulgou nota de repúdio às agressões e pediu medidas que garantam a segurança da advogada e punição ao agressor.
“Diante das agressões sofridas pela advogada Janaíra Ramos, no município de Casca, na manhã desta quarta (23), a bancada do PT na ALRS vem a público requerer das autoridades responsáveis medidas que garantam segurança e justiça para Janaíra. A advogada foi agredida, dentro de seu escritório, por um extremista de direita. Janaíra já vinha sofrendo ameaças, por denunciar uma série de crimes cometidos, na cidade, por seguidores de Bolsonaro”.
O líder da bancada, deputado Pepe Vargas, fez contato com o governador do estado, Ranolfo Vieira Júnior, que assegurou medidas urgentes pela Secretaria de Segurança. “Reforçamos, de público, este pedido. As autoridades precisam, imediatamente, avaliar as medidas cabíveis para garantir a segurança de Janaíra, inclusive a possível prisão preventiva do agressor. Chega de impunidade aos atos violentos de intolerância política que vêm ocorrendo no RS. Justiça para Janaíra e todas as vítimas dos ataques fascistas”, conclui o comunicado.
Audiência na Comissão de Direitos Humanos
Antes dessas novas agressões, na segunda-feira, 21, a deputada estadual Luciana Genro e a deputada federal Fernanda Melchionna, do PSol, pediram providências ao estado em relação aos casos de perseguições políticas praticadas por bolsonaristas no Rio Grande do Sul após a vitória de Lula (PT).
As parlamentares se reuniram com o chefe da Polícia Civil, delegado Fábio Motta Lopes no Palácio da Polícia, acompanhadas pela advogada Janaíra Lopes, de Casca, e da liderança do PSol de Santa Maria, Alice Carvalho, e denunciaram casos de perseguição política dos quais foram alvo. Luciana propôs que a advogada seja ouvida na Comissão de Direitos Humanos da ALRS.