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ONGs médicas pedem corredor humanitário em Gaza

"Com cerco total, até quando as nossas equipes vão aguentar? Precisamos de um corredor humanitário para apoiar a resposta médica, trazer equipamentos e substituir as equipes", diz Sarah Chateau, do MSF
Por César Fraga / Publicado em 11 de outubro de 2023
ONGs médicas pedem cordão de isolamento e respeito a direitos humanos no conflito

Foto: MSF/Divulgação

Estafe médico dos Médicos Sem Fronteira, em Gaza, organizam fluxo de materiais para atendimento de feridos durante bombardeio. ONGs médicas pedem cordão de isolamento para poderem trabalhar

Foto: MSF/Divulgação

“A situação é catastrófica. Não acho que ninguém esteja seguro em Gaza”, declarou Sarah Chateau, responsável pelo programa palestino dos Médicos Sem Fronteiras (MSF).  A afirmação veio na esteira do alerta de várias organizações não governamentais (ONGs) internacionais de médicos nesta terça-feira, 10, sobre a situação sanitária na Faixa de Gaza depois do cerco total imposto por Israel.

As ONGs pedem um corredor humanitário para apoiar o trabalho de assistência dos médicos. As informações são da agência de notícias Lusa, de Portugal.

A MSF está na região há mais de 20 anos e tem 300 funcionários palestinos e 20 internacionais.

“Transferimos parte de nossas equipes para um prédio das Nações Unidas. O bombardeio foi tão maciço que os riscos eram muito grandes”, acrescentou a médica.

No mesmo dia, o coordenador-geral da organização internacional MSF, Matthias Cannes, em gravação distribuída pela própria ONG, descreveu a situação em Israel e Faixa de Gaza como horrível, referindo existirem “números massivos de mortos” e muitos palestinos deslocados e com medo.

“Os nossos colegas palestinos trabalham dia e noite para fazer frente ao grande número de feridos”, afirmou, adiantando que muito do pessoal médico local está trabalhando em turnos consecutivos e sob pressão.

Além do número crescente de vítimas para cuidar, “muitos dos nossos colegas palestinos tiveram de abandonar suas casas com medo de que sejam atingidas. Alguns deles relataram a destruição total dos locais onde moravam”, relatou o coordenador-geral da MSF.

A falta de segurança dos profissionais de saúde, dos hospitais e até de ambulâncias na região é, como sublinha a MSF em comunicado esta terça-feira divulgado, “um dos maiores desafios que a equipa médica enfrenta atualmente” em Gaza.

“As ambulâncias não podem ser usadas agora, porque estão a ser atingidas por ataques aéreos”, explicou o coordenador médico da MSF em Gaza, Darwin Diaz.

“Os hospitais estão sobrelotados com feridos, há uma escassez de medicamentos e de consumíveis, assim como falta combustível para os geradores”, descreveu.

Descrição reforçada pelo testemunho de Matthias Cannes que contou ter tratado, só na segunda-feira, mais de 50 pessoas no hospital de Al-Awda, o maior da Faixa de Gaza.

“Após o bombardeio (de segunda-feira) no campo de refugiados de Al-Jabalia, a nossa equipe tratou mais de 50 pessoas no hospital de Al-Awda”, disse.

De acordo com a MSF, as equipes com profissionais locais da organização estão desde sábado fazendo cirurgias e tratamentos ambulatórios no hospital de Al-Awda, na região norte do enclave, tendo sido aumentado o número de leitos disponíveis “para dar resposta ao grande número de vítimas.

CONTEXTO – Na segunda-feira, 9, Israel anunciou a retirada da população das áreas fronteiriças e impôs cerco total à Faixa de Gaza, com o “corte imediato” do fornecimento de água, após a suspensão do fornecimento de eletricidade e alimentos.

Em resposta, o grupo Hamas ameaça executar os cerca de 150 reféns sequestrados no sábado em Israel, incluindo crianças, mulheres e jovens que participavam de um festival de música.

“Com o estado de cerco total, até quando as nossas equipes vão aguentar? Precisamos de um corredor humanitário para apoiar a resposta médica, trazer
equipamentos, substituir as equipes no local”, disse Sarah Chateau.

80% da população depende da ajuda humanitária, dizem ONGs

A ONG Médicos do Mundo, que tem cerca de 30 funcionários na Cisjordânia e 20 em Gaza, também alertou que “o transporte de doentes é reduzido com o bloqueio e a intensidade dos bombardeios”.

“A nossa equipe luta pela sobrevivência, é muito difícil conseguir realizar o trabalho”, disse o médico Jean-François Corty, vice-presidente da organização, lembrando que 80% da população dependem da ajuda humanitária.

“É preciso garantir que o direito internacional humanitário é respeitado, que medicamentos são levados e que os civis são poupados”, afirmou.

Após a ofensiva sem precedentes do movimento islâmico palestino Hamas contra Israel, o Exército israelense está desde sábado, 7, bombardeando a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas desde 2007. Em quatro dias de conflito é estimado que o número de mortos ultrapasse os 2 mil, além de mais de 5 mil feridos dos dois lados.

Nove funcionários da ONU foram mortos em Gaza

Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) revelou que, desde sábado, nove dos seus funcionários morreram na sequência de ataques aéreos em Gaza. Além das perdas humanas, pelo menos 14 das suas infraestruturas no território sofreram danos diretos ou indiretos.

A UNRWA acolhe 170 mil pessoas em mais de 80 escolas e outras instalações em Gaza. À medida que as escolas atingem o seu limite de capacidade, as pessoas são forçadas a procurar abrigo em instalações de cuidados de saúde.

Na terça-feira de manhã a sede da agência da ONU sofreu danos colaterais devido aos ataques aéreos nos bairros das proximidades. Alguns dos funcionários estavam a abrigar-se nesse mesmo complexo, num edifício próximo, durante os ataques.

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