Universidades resistem em retomar atividades letivas presenciais
Foto: Igor Sperotto
Ao contrário das escolas de educação básica, que retomaram as atividades letivas presenciais no início de maio, as instituições de ensino superior voltaram apenas de forma residual, permanecendo com atividades remotas. Ao que tudo indica, não haverá uma retomada da presencialidade nesse nível de ensino antes do próximo ano. Apesar do avanço na vacinação e da redução gradual dos indicadores da pandemia, a maioria das universidades optou por um realinhamento nas suas prioridades e seguiu com aulas remotas ou híbridas.
De um total de 17 Instituições de Ensino Superior (IES) consultadas pelo Extra Classe, apenas duas retomaram totalmente as aulas presenciais, a URI e a Univates.
Demissões
Para o Sinpro/RS, as instituições que se mantiveram na modalidade remota mesmo com a retomada das atividades em todos os setores, fizeram uma opção pela redução de custos por meio da aglutinação de turmas, redução de carga horária, sobrecarga de trabalho e demissões de professores. Somente nas instituições comunitárias, foram 373 demissões ao longo de 2020, e 212 até setembro de 2021.
O diretor do Sinpro/RS, Marcos Fuhr, manifesta preocupação com o retardo do retorno presencial. Para ele, a demora tende a comprometer ainda mais a empregabilidade dos professores. “A presencialidade não está voltando por questões internas das universidades. Professores e alunos estão vacinados, mas a presença em sala não aumenta. Acreditamos que essa conduta decorra de uma avaliação econômica, já que muitos trancaram matrículas, fazem menos cadeiras e disciplinas têm sido agrupadas, sobrando professores”, avalia.
Segurança dos protocolos
Foto: UCS/ Divulgação
“Foi determinante para a retomada das aulas presenciais a percepção de segurança gerada pelos protocolos adotados e pelo avanço da vacinação”, afirma a vice-diretora da Univates, de Lajeado, Fernanda Pinheiro. Segundo ela, praticamente todos os cerca de 5,8 mil estudantes dos cursos de graduação e técnicos estão em sala de aula após experiências bem-sucedidas com aulas práticas e laboratoriais em 2020.
Nas demais IES consultadas, a retomada da presencialidade vem ocorrendo muito gradualmente, e de acordo com a realidade local. Dentre as 14 instituições comunitárias do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung), predominam as aulas síncronas. Segundo o presidente da entidade, Evaldo Antonio Kuiava, reitor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), a presença de alunos tem variado, em média, em 30%.
“Mesmo com mais possibilidade presencial, muitas universidades optaram por aulas síncronas. Tivemos de flexibilizar a presencialidade porque não há transporte escolar reorganizado, muitos alunos voltaram às cidades de origem e outros ainda não se sentem seguros para o retorno”, explica o presidente do Comung.
Estratégia
Foto: Nicole Morás/ Univates/ Divulgação
Os gestores alegam que estão amparados pela resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) que, em agosto, reiterou a permissão de atividades remotas nos cursos de educação superior. Com isso, as universidades priorizaram as atividades práticas e laboratoriais nos campi e teórico-pedagógicas em formato on-line ou síncrono.
Diante da nova configuração de ensino em meio à pandemia, a maioria dos professores voltou às salas de aula, mesmo que para transmitir o conteúdo on-line, recurso que tem permitido agrupar turmas, reorganizar disciplinas e realizar aulas simultâneas para mais cidades e até estados, como ocorre na Educação Metodista, por exemplo.
Segundo o reitor do IPA, Marcos Wesley, a junção de turmas nas disciplinas teóricas permitiu aglutinar alunos da rede no RS, em São Paulo e Minas Gerais.
Para o dirigente do Sinpro/RS, essa “mobilidade acadêmica”, no entanto, não deixa também de ser uma forma de reduzir custos com a digitalização do ensino e redução da contratação de professores. Além disso, a estratégia de gestão tende a sobrecarregar os que assumem disciplinas nesse formato.
Motivação
Foto: Igor Sperotto
Igor Sperotto
Professor e coordenador do curso de Realização Audiovisual da Unisinos, Milton do Prado Franco Neto acredita que haverá um aumento progressivo na presencialidade no próximo ano. Ele relata que após uma resistência inicial, os professores acabaram se adaptando ao ensino remoto.
Neste segundo semestre, os campi estão com aulas simultâneas, permitindo aos alunos a opção de atividade presencial ou remota. “Aula on-line despende mais tempo e acredito muito na presencial, onde a troca é essencial. Hoje, com os cuidados e protocolos, temos praticamente todos os alunos do curso em sala de aula”.
Para além dos decretos, a volta deve ser estimulada pelas instituições, aponta o professor da Feevale e diretor do Sinpro/RS, Rodrigo Perla Martins. “Temos relatos de professores que não se adaptaram ao on-line. É compreensível que a questão da mobilidade precisa ser ajustada, pois até o transporte escolar foi paralisado com a pandemia. O que preocupa é que o alinhamento aos custos do digital venha a desmotivar a presencialidade ampla e acabe acentuando demissões”, pondera.