Setor educacional mercantil usou pandemia para acelerar EaD
Foto: Reprodução de vídeo web/Zoom/Facebook
Ato-live realizado em São Paulo, na noite da última quinta-feira, 10 de setembro, apontou abusos cometidos por instituições privadas de ensino superior durante a pandemia e reuniu professores demitidos, alunos e o presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp), Celso Napolitano.
Denúncias sobre o modelo de Ensino a Distância (EaD) apresentadas no programa Conversa com Bial no último dia 31 de agosto foram a tônica do debate. Universidade Nove de Julho (Uninove), Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) e o grupo norte-americano Laureate International Universities centralizaram as queixas sobre qualidade de ensino e precarização de trabalho.
Difícil reversão
Celso Napolitano, da Fepesp, disse que a pandemia de covid-19 serviu como justificativa para empresas, que define como “mercantilistas” da educação acelerarem um processo que, até então estava sendo conduzido de forma gradativa, para evitar protestos de alunos. “A pandemia foi a melhor coisa que aconteceu para eles”, fulminou.
Napolitano, um dos debatedores do programa da rede Globo, afirmou que, pelo menos no ensino superior, a covid-19, no âmbito da educação superior, instalou de fato um sistema de precarização que ele teme “ser de difícil reversão”.
Provas corrigidas por robôs
São provas corrigidas por robôs, são até 20 mil alunos por semestre; São professores que ganham R$ 1.200 para montar o conteúdo de um curso intensivo de seis módulos; que recebem R$ 200 para gravar um vídeo e cedem os direitos de conteúdo e de imagem “para a vida toda”. Napolitano ainda denunciou os contratos que chama de leonino para que professores acompanhem três mil alunos ganhando R$ 414 divididos em seis parcelas.
Segundo o presidente da Fecesp, esse é o caso de um grupo de professoras que “têm, no mínimo, doutorado” e foram as responsáveis por incluir na pauta do Conversa com Bial a questão do EaD.
Foto: Reprodução de vídeo web/Zoom/Facebook
Círculo vicioso
O ceticismo apresentado na live se dá pelo que foi apontado como um ciclo vicioso. Um exemplo apontado foi o caso da Uninove que demitiu 50% do seu corpo docente e que agora contrata professores da Unicsul, que demitiu 40% de seus professores.
Segundo relatos, esses professores agora estão sendo contratados como temporários e até como trabalhadores intermitentes.
Demissão de professores
“Os professores foram os responsáveis pela baixa evasão que aconteceu no curso superior e esses mesmos professores foram gratificados no final do semestre com a sua demissão”, registrou indignado Napolitano.
Para o dirigente sindical, essa conjuntura do ensino privado acabou virando um paradoxo. Aponta que, se os professores têm problemas com os estabelecimentos de ensino básico e médio, querendo o retorno em plena pandemia, o ensino superior “não deseja” a retomada do ensino presencial.
Universidades sem prédios
“As empresas querem se manter a distância. Eu tenho notícias de que, para o ano que vem, a ideia é manter o distanciamento ainda no primeiro semestre”, diz Napolitano. Ele afirma que, na realidade, é a continuidade da experiência virtual que criou salas virtuais onde professores “são obrigados a lecionar para, 140, 150, 180 alunos”, enquanto instituições como a Kroton já começam a devolver prédios para maximizar seus lucros.