Por que a água da Casa de Cultura Mário Quintana ficou verde
Foto: Igor Sperotto
Foto: Igor Sperotto
Durante cerca de quatro horas, entre 15h e 19h, na tarde da nublada quinta-feira, 21, quem visitou antigo e famoso prédio cor-de-rosa na Rua dos Andradas, 736, que abriga a Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ), no Centro histórico de Porto Alegre e abriu alguma torneira viu verter a água totalmente verde. Quem deu descarga nos banheiros viu água verde.
Os funcionários, administradores e os seguranças viram correr pelos dutos e escorrer por todo canto muita água verde. E, desta vez, não é culpa do Demae!
Não! A água não estava contaminada com alguma substância tóxica ou poluente.
Trata-se de uma intervenção promovida por seis artistas visuais nos diversos espaços da casa para celebrar a maré feminista que inunda a América Latina, em especial países como Argentina, Uruguai e o Brasil.
Por volta das 16 horas, elas foram secretamente até a caixa d’água e colocaram um corante que logo se espalhou pelos dutos. O coletivo de artistas, integrado por Andressa Cantergiani, Anna Ortega, Cristina T. Ribas, Érica Saraiva e Manoela Cavalinho e Raquel Brust promoveram a ação para antecipar a exposição que será inaugurada no próximo dia 16 de abril, no mesmo local, que se chamará Verter. A abertura será no 5º andar, na Sala Maria Lídia Magliani, às 19 horas.
Imagem: Divulgação
O coletivo coloca a maré verde latino-americana como ponto de partida do trabalho que elas propõem. “Através de notícias e manifestações nas redes sociais sobre a luta pelos direitos sexuais e reprodutivos na Argentina aproximamo-nos umas das outras pela vontade de uma ação coletiva que possibilitasse falar sobre saúde das mulheres, pessoas que podem gestar e direitos sexuais no Brasil”, dizem.
Foto: Leo Caobelli/Divulgação
Segundo elas, a ação de intervenção no prédio público cria um “contágio do íntimo ao coletivo, um gesto político que verte, contagia, contamina, transborda e escorre. Como o movimento Maré verde feminista reverbera em nossas vidas? Como os movimentos feministas na Argentina, México, Colômbia e Chile contagiam o contexto brasileiro?”
A exposição, com abertura marcada para abril dá continuidade à ação de intervenção, apresentando um vídeo de registro e uma instalação que coleta narrativas em temporalidades e espacialidades distintas para dar visibilidade a este contágio, a esta infiltração.
Nossa ideia é criar novas imagens que dão visualidade a esse processo de ‘maré’, gerando um espaço para elaborar os afetos das mulheres e que reafirma suas autonomias. A importância se dá pelo entendimento desse movimento que abrange o que, no entendimento do coletivo, não pode ser parado porque está, cada vez mais, impregnado por todo canto.
Foto: Leo Caobelli/Divulgação
Andressa Cantergiani: É artista multimídia transdisciplinar e performer. Doutora em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e bacharel em Artes Cênicas pela Ufrgs. Realiza residências, projetos e exposições em diversos espaços pelo mundo, como no Brücke Museum Berlim, NGBK/Berlin(DE), Fundação Iberê Camargo, RS e Bispo do Rosário/RJ. Possui obras em coleções particulares e acervos do Margs/RS, MAC-RS e Amarp-RS. Premiada NPN-Joint Adventures Fund 2022 (DE). Indicada ao Prêmio Pipa 2023.
Anna Ortega: É repórter, fotógrafa e artista visual. Desde 2019, desenvolve Não Há Casa Sem Flores, pesquisa poética protagonizada por sua mãe, avó e tia. Com este projeto, foi premiada com o 11º Diário Contemporâneo de Fotografia em 2020. Atualmente, pesquisa as imagens afetivas mobilizadas pelas avós, a partir da pergunta: qual é o nome da sua vó? Já participou de exposições nacionais e internacionais, como o PhotoVisa, na Rússia, International festival of photography in Pingyao (PIP), na China, e a Mostra Aberta de Arte de Porto Alegre (Maapa)
Cristina T. Ribas: Pesquisadora e artista, organiza projetos transdisciplinares. Faz parte da rede Conceptualismos del Sur desde 2008, do grupo de pesquisa Epistemologias Afetivas Feministas (EAF), e da Associação I-motirõ. Tem Doutorado (PhD) pela Goldsmiths College University of London (Bolsa Capes Doutorado pleno, 2012-2017), mestrado pela Uerj (2008) e graduação em Artes pela Ufrgs. Organiza projetos interdisciplinares entre as artes, a psicologia social, a filosofia feminista e práticas de conhecimento livre.
Érica Saraiva: Doutora em História, Teoria e Crítica pela Ufrgs, mestra em Arte e Cultura Visual pela Faculdade de Artes Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás (UFG), graduada em Tecnologia em Design Gráfico pela Faculdade de Tecnologia Senac. Integra o grupo de extensão Historiografia feminista: tendências e impasses, da Ufrgs, e do grupo de pesquisa Epistemologias, Narrativas E Políticas Afetivas Feministas pela PUC/RS.
Manoela Cavalinho: Artista visual, doutoranda em Artes pela Uerj, mestre em Artes Visuais pela Ufrgs e Psicologia Clínica pela PUC-SP. Sua pesquisa aborda a memória pessoal e suas intersecções com a memória social e histórica. Seus trabalhos integram os seguintes acervos: MAC- RS, MAC-PR, Fundação Vera Chaves Barcellos e do Museu das Memórias (in)possíveis. Recebeu Destaque Artista no XIV Prêmio Açorianos (2021) pela Prefeitura de Porto Alegre.
Raquel Brust: Graduada em jornalismo, atua como fotógrafa, cinegrafista e artista visual. Sua série mais extensa é o Projeto Giganto, destaque do Festival PhotoEspaña 2014. Nessa série, Brust apresenta retratos em preto e branco de grandes dimensões que são coladas no concreto, utilizando a arquitetura como suporte de uma intervenção na paisagem urbana. Seu processo criativo foi tema da série de TV Hack the City exibida na NatGeo, vencedora do Emmy Short-Series em 2019.