CULTURA

Ressurreição, infância e ciclos da vida

A exposição Bloco do Afeto – de 21 de março a 23 de abril, na Galeria Ecarta reúne uma amostra do universo fantástico que caracteriza o trabalho da artista plástica, muralista e ilustradora Carla Barth
Por Gilson Camargo / Publicado em 20 de março de 2023

Foto: Reprodução

Ciclos de vida, representações da infância e ressurreição são temas recorrentes nas obras de Carla Barth, como em ”Fábula”, de 2022

Foto: Reprodução

As pinturas em acrílico sobre tela, aquarelas e desenhos de nanquim, entre outras técnicas e materiais, compõem o que a autora destaca como uma celebração à vida. A mostra reúne 25 obras e um mural pintado pela autora no interior da Fundação Ecarta.

Formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos/PUCRS), Carla estudou desenho e escultura no Atelier Livre de Porto Alegre e fez cursos livres de arte contemporânea com Guilherme Dable, Maria Helena Bernardes, Ana Flávia Baldisserotto, Charles Watson e Jaílton Moreira. Também realizou exposições no Brasil e no exterior.

Suas obras foram divulgadas em revistas de diversos países. Ela se inspira na natureza e nas diversas influências do folclore, da mitologia, arte naïf, clássica e oriental. “Me inspira o universo folclórico e popular, arte naïf, mas curto minhas referências eruditas também e gosto de misturar tudo”, esclarece.

Foto: Reprodução

O painel “Oferenda”, de 2019, aquarela sobre papel, tem 1,12 metro por 77cm

Foto: Reprodução

O título da exposição, Bloco do Afeto, foi escolhido a partir de uma pintura de 2022, que estará na mostra e que remete aos murais que a artista pintou na Cidade Baixa, bairro de Porto Alegre. Entre as referências, ela cita a participação no coletivo Upgrade do macaco, que, no início dos anos 2000, agitou a cena artística na capital gaúcha com murais, revista, exposições, ações de arte urbana e manifestos.

Em 2019, com a exposição De onde vim, na Casa Musgo, Carla se inspirou em cosmovisões pagãs, tradições ligadas à terra, cultos à fertilidade, festas e rituais pré-cristãos. “Porém, os trabalhos são compostos muito mais pelo meu imaginário acerca dessas referências”, situa.

O ponto forte eram as celebrações que estão presentes em todas as culturas. “Percebi que no mundo inteiro a maior parte dessas festas e rituais foram cristianizadas, mas seguem vivas até hoje numa espécie de sincretismo.”

Ela explica que a exposição da Ecarta dá sequência a essa temática, com trabalhos que celebram a vida e apresentam simbologias ligadas à ressurreição, infância e ciclos.

Mitologia própria ressurreição

Foto: Igor Sperotto

Carla Barth: exposição e mural na Ecarta

Foto: Igor Sperotto

Para André Venzon, coordenador da Galeria Ecarta e curador da exposição, trata-se de uma visão de mundo muito particular, que apresenta uma mitologia própria da autora. “São figuras antropomórficas que se relacionam em um jogo lúdico, misturando-se com as múltiplas cores e grafismos por todos os espaços de paisagens fantásticas”, define.

Influenciada pela arte naïf ou primitiva, tendência artística que se caracteriza pelo rompimento com os cânones acadêmicos, “Carla é consciente da singeleza e ingenuidade dos seus trabalhos”, analisa Venzon.

Essa potência criativa poderia ser justificada pelo ambiente em que ela cresceu, provoca o curador, lembrando que Carla viveu dos 5 aos 14 anos no ateliê de arte do pai, o gravador, desenhista e professor de Arte da Ufrgs, Luiz Barth, que foi aluno de Iberê Camargo.

“Porém, os códigos visuais da artista, bem como suas ações no campo da arte contemporânea a situam no lugar daqueles que não abdicam do sonho, da ilusão, da diversão e do imaginário e, portanto, sua estética encontra tantos apreciadores. Ela nos devolve, com seu universo onírico e multicolorido, um prazer tão raro quanto distante, talvez aquele só experimentado nos sonhos da infância”, ressalva.

Para o jornalista Oscar D’Ambrosio, da Associação Internacional de Críticos de Arte (Aica-Seção Brasil), a criação visual de Carla Barth é regida pela fantasia. “Sua poesia provém de um entendimento do mundo marcado pela predominância do fantástico. É instaurado assim um universo todo peculiar, regido pela capacidade de imaginar personagens e situações. Trata-se de um amplo visualizar de cores e circunstâncias em que os sonhos e os contos de fada se cristalizam”, conceitua D’Ambrosio.

Pós-doutor em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Mackenzie e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, o crítico explica que catalogar as imagens produzidas por ela como surrealismo ou arte naïf é bastante limitador.

“Muito mais que um conjunto onírico ou ingênuo, o que a artista oferece ao observador é uma vereda repleta de pinturas, desenhos e esculturas unificadas talvez por um elemento primordial: a natureza. Ela surge de maneira muito expressiva, frondosa, com uma força visceral amazônica, embora não se proponha a se sobrepor aos personagens.” ressurreição, ressurreição, ressurreição, ressurreição, ressurreição, ressurreição,

Comentários