CULTURA

Uma narrativa Kaingang sobre a origem do mundo

Livro bilingue evoca a vida em comunidade, o significado das marcas tribais e a ancestralidade Kaingang
Por Gilson Camargo / Publicado em 27 de outubro de 2022

Foto: Dinarci Borges/FiliGram

“A proposta do livro é mudar o ponto de vista das pautas indígenas”, propõe o autor Kaingang Ven Tánh Salvador

Foto: Dinarci Borges/FiliGram

Expressão da diversidade e inclusão que caracterizam a 68ª Feira do Livro de Porto Alegre – a primeira edição totalmente presencial pós-pandemia será realizada de 28 de outubro a 15 de novembro na Praça da Alfândega – A araucária e a gralha azul: uma história dos antigos Kaingang (Libretos, 36 p.) retrata uma lenda indígena que remonta à origem do mundo.

O livro tem narrativa oral do cacique Maurício Ven Tánh Salvador a Ana Fonseca, com ilustrações de Mauren Veras. Em Português e Kaingang, apresenta uma história dos Kaingang, contada desde os antigos, de geração em geração, quando estão todos reunidos ao redor de uma fogueira, explica Salvador.

“O mito trata da importância da vida em comunidade, do valor da palavra, em especial, quando decorre de escolhas que nós próprios fazemos, de como as aparências podem enganar, bem como da existência de vínculos eternos, tais quais o da araucária e da gralha azul”, resume o autor.

Integrante do grupo Retomada Kaingang de Canela, Salvador é estudante de Biologia da Ufrgs e diz que adora recontar histórias antigas que ouviu de seu pai inúmeras vezes.

Nessa narrativa, são evocados acontecimentos transcorridos no Gufã – um tempo, muito, muito antigo, situado pouco depois da origem do mundo, quando os primeiros Kaingang, chamados Kamé Kairu emergiram das profundezas da Terra.

Imagem: Reprodução

Imagem: Reprodução

Eles pintaram seus corpos e todas as coisas que existem com o carvão das fogueiras ancestrais. Kamé difundiu todas as formas compridas e Kairu, as redondas. Desde então, na complementariedade entre a linha e ponto, o mundo Kaingang se recria permanentemente.

“A proposta do livro é mudar o ponto de vista das pautas indígenas”, aponta Maurício Salvador. “Uma história que traz todo o conceito do respeito, das considerações de não ser levado em caminhos errados. Também apresenta as marcas tribais e seus significados e a ancestralidade. Está aí para ser estudada e ensinada às crianças e para quem quiser conhecer a cultura Kaingang”, ressalta o cacique.

O lançamento de A araucária e a gralha azul/ Fàg kar segsó táhn: gufo u sí ag tú ocorre no sábado, 29, às 14h, na Sala Noé, Espaço Força e Luz (Rua dos Andradas, 1223), seguido de painel com a participação dos autores e do produtor cultural Fernando Costa Gomes.

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