Pampa e Amazônia lideram queimadas no Brasil
Foto: Reprodução/YouTube
O Brasil queima em seus extremos Norte e Sul, é o que mostra o relatório do monitoramento de queimadas do MapBiomas. Os dados registram 2.932.972 hectares foram consumidos por queimadas nos primeiros sete meses do ano. Porém houve uma pequena queda em relação ao ano passado.
Apesar de tratar-se de área maior que o estado de Alagoas, a área consumida pelas chamas provocadas por humanos é 2% menor. Menos no Pampa gaúcho e na Amazônia.
Nesses lugares a situação é bem diferente. Conforme o MapBiomas. são os únicos biomas com aumento percentual de área afetada pelo fogo.
De janeiro a julho deste ano foi registrado um aumento estratosférico em relação ao ano anterior, de 3.372% de queimadas no Pampa, o que equivale a 27.780 hectares. Na Amazônia, o crescimento foi de 7%, mais de 107 mil hectares. Em números somente deste ano, no mesmo período foram incendiados 28.610 hectares e na Amazônia, 1.479.739 hectares.
Fenômeno atípico no Pampa
De acordo com Eduardo Vélez, da equipe Pampa do MapBiomas, ao Extra Classe, as causas desse aumento excepcional no Pampa se deu principalmente no verão, basicamente em janeiro e fevereiro, e se deveu à seca, como efeito do fenômeno climático La Niña que fez com que não tivéssemos chuvas, sendo um período muito seco, o que deixou a vegetação muito suscetível a queimadas, que normalmente não ocorrem no Pampa.
“Essas queimadas ocorreram sobretudo na Fronteira Oeste do Pampa, na região entre São Borja, Itaqui e Maçambará. Ali teve um foco grande, quando queimou praticamente todo o banhado São Donato, que é uma reserva biológica. Depois, entre Rosário e Cacequi também houve um foco grande. E, no sul de Alegrete, próximo a Uruguaiana também houveram focos de grandes queimadas”, contextualiza Vélez.
Segundo o especialista, não foi um fenômeno que atingiu todo o bioma de forma dispersa. Trata-se de um fenômeno concentrado na faixa Oeste.
“Vale destacar que essas queimadas ocorreram predominantemente em áreas de vegetação campestre e banhados, que são locais em que a lotação do gado não é tão alta, onde o pasto acumula. Ali fica uma biomassa na parte aérea das plantas em maior densidade. Isso num período seco trona-se altamente inflamável e incendeia com certa facilidade”, explica Eduardo.
Vélez destaca que se trata de um fenômeno atípico que normalmente não ocorre na região, ao menos não com a intensidade registrada neste ano pelo monitoramento. “O Pampa é um dos biomas do Brasil que menos pega fogo historicamente, mas quando acontece geralmente é em pequena proporção”, conclui.
Monitoramento
Fonte: MapBiomas
Fonte: MapBiomas
O dados fazem parte da nova versão do Monitor do Fogo, que o MapBiomas, em sua plataforma. Ela passará a fazer uso de imagens do satélite europeu Sentinel 2, que tem duas importantes características para esse tipo de mapeamento: ele passa a cada cinco dias sobre o mesmo ponto, aumentando a possibilidade de observação de queimadas e incêndios florestais; além disso, tem resolução espacial de 10 metros. Isso acrescenta cerca de 20% a mais na área queimada em relação aos dados do MapBiomas Fogo coleção 1, que traz o histórico de fogo anualmente desde 1985. Também permite que a partir de agora os dados sejam divulgados mensalmente. Acesse o Monitor do Fogo (plataforma)
O Monitor do Fogo do MapBiomas difere e complementa o monitoramento do INPE porque avalia as cicatrizes do fogo, e não os focos de calor. O motivo é simples: dados de focos de calor representam a ocorrência de fogo (e potencialmente contribuem para seu combate) mas não permitem avaliar a área queimada. O Monitor de Fogo, por sua vez, revela em tempo quase real (diferença de um mês) a localização e extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição que é apontada pelos focos de calor da plataforma do INPE.
“Este estudo é o único nessa frequência e resolução a fornecer esses dados mensalmente, o que facilitará muito a prevenção e combate aos incêndios, indicando áreas onde o fogo tem se adensado”, explica Ane Alencar, coordenadora do Monitor do Fogo do MapBiomas.
“Além do poder público, é uma ferramenta de grande utilidade para a iniciativa privada, como o setor de seguros, por exemplo”, completa.
Vegetação nativa é a mais atingida
Os dados dos sete primeiros meses de 2022 mostram que três em cada quatro hectares queimados foram de vegetação nativa, sendo a maioria em campos naturais. Porém um quinto de tudo que foi queimado no período foi em florestas. Metade das cicatrizes deixadas pelo fogo localizam-se no bioma Amazônia, onde 16% da área queimada corresponderam a incêndios florestais, ou seja, áreas de floresta que não deveriam queimar.
O Mato Grosso foi o estado que mais queimou nos sete primeiros meses de 2022 (771.827 hectares), seguido por Tocantins (593.888 hectares) e Roraima (529.404 hectares). Esses três estados representaram 64% da área queimada afetada no período.
No Cerrado, a área queimada entre janeiro e julho de 2022 (1.250.373 hectares) foi 9% menor que no mesmo período do ano passado, porém 5% acima do registrado em 2019 e 39% maior que em 2020. O mesmo padrão foi identificado na Mata Atlântica, onde houve uma queda de 16% em relação a 2021 (ou 14.281 hectares), porém um crescimento de 11% em relação a 2019 e 8% na comparação com 2020. O Pantanal, por sua vez, apresentou a menor área queimada nos últimos quatro anos (75.999 hectares), com 19% de redução de 2022 para 2021 em relação a área queimada de janeiro a julho.
Dentre os tipos de uso agropecuário das áreas afetadas pelo fogo, as pastagens se destacaram com 14% da área queimada nos sete primeiros meses de 2022.
O primeiro e o segundo lugar da lista de municípios que mais queimaram entre janeiro e julho de 2022 são ocupados por Normandia e Pacaraima, ambas em Roraima. Em julho de 2022, os municípios de Formosa do Araguaia e Lagoa da Confusão, no Tocantins, foram os que tiveram maior área queimada. Neste último, fica parte do Parque Nacional do Araguaia.