AMBIENTE

Novo ciclone extratropical está em formação na costa do Rio Grande do Sul

Região sul em alerta para alagamentos após cheias dos rios. Chuvas superam 100mm em alguns municípios. Sobe para 47 vítimas do último ciclone
Por Gilson Camargo (texto) e Igor Sperotto (fotos) / Publicado em 13 de setembro de 2023
Novo ciclone extratropical está em formação na costa do Rio Grande do Sul

Rua Tramandaí, na zona sul de Porto Alegre, ficou alagada em meio às fortes chuvas desde a madrugada. Defesa Civil começa remoção de moradores das áreas ribeirinhas em todo o estado após formação de novo ciclone

Foto: Igor Sperotto

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu na manhã desta quarta-feira, 13, alertas para inundações em municípios da zona Sul do estado devido ao rápido aumento dos níveis dos rios Santa Maria, Jaguarão e Piratini. As chuvas das últimas horas também aumentaram o volume dos arroios e rios da região Central. Em Rio Grande, o volume de água do arroio das Cabeças voltou a subir.

Novo ciclone extratropical está em formação na costa do Rio Grande do Sul

Em bairro da zona sul da capital, crianças foram resgatadas por bombeiros porque os pais ficaram ilhados em casa

Foto: Igor Sperotto

Os alertas de “elevados volumes precipitados na região” são para o rio Vacacaí e arroios. Em Rosário do Sul, choveu 157 mm nas últimas 24 horas São Lourenço do Sul registrou 124,4 mm (1 mm equivale a um litro de água por metro quadrado).

Desde a passagem de um ciclone extratropical pela região Sul no dia 4, chuvas intensas e alagamentos provocaram mortes e destruição em 98 municípios do RS.

O último boletim da Defesa Civil, das 7h desta quarta-feira, atualizou para 47 o total de mortos no estado.

Nove pessoas estão desaparecidas em Arroio do Meio, Encantado, Lajeado, Roca Sales e Muçum, o município mais atingido.

O estado tem 2,3 mil desabrigados, 20,5 mil desalojados, de um total de 343 mil pessoas afetadas pelas chuvas e enchentes.

NESTA REPORTAGEM
A Casa Militar também emitiu alertes de temporais, chuva forte, descargas elétricas e rajadas de ventos até às 20h.

Diversos pontos da capital ficaram debaixo d’água desde o início da manhã, como alguns trechos das avenidas Goethe, Beira-Rio, Diário de Notícias, João Pessoa, Protásio Alves e ruas foram interditadas pelo acúmulo de água na pista.

Houve bloqueios do trânsito por quedas de árvores e postes e semáforos fora de operação.

Na zona Sul, duas crianças ficaram retidas em uma creche porque os pais não foram buscá-las. Elas foram resgatadas pelo Corpo de Bombeiros. Os pais estavam em casa sitiados pela água.

Infográfico: MetSul

Novo ciclone

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), do Ministério da Agricultura, um sistema de baixa pressão formado nas últimas 48 horas deverá manter o estado sob chuvas intensas, especialmente entre no centro, sul, oeste e noroeste.

“Nas próximas horas, um novo ciclone extratropical se desenvolve junto à costa do RS e alinha a passagem de uma nova frente fria”, alerta o comunicado do Inmet.

Dados de estações do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres e do Inmet mostram que em apenas 12 horas, até 9h, desta quarta-feira choveu 99 mm em Santa Maria, 91 mm em Caçapa do Sul, 84 mm em Encruzilhada do Sul, 78 mm em São Lourenço do Sul e Santiago, 77 mm em Cachoeira do Sul, 75 mm em Viamão, 74 mm em São Borja, 72 mm em Candelária e 71 mm em Camaquã.

Tragédia anunciada

Autoridades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul foram alertadas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) sobre as chuvas intensas e os alagamentos que viriam depois da passagem do ciclone do dia 4 de setembro.

A diretora do Cemaden, Regina Alvalá, afirmou em entrevista à Rádio Guaíba, nesta quarta-feira, que as consequências do desastre climático que causou a morte de 47 pessoas no Vale do Taquari poderiam ter sido minimizadas se os alertas tivessem sido atendidos com a remoção de pessoas das áreas de risco de alagamentos e medidas de prevenção e contingência.

“Nós alertamos. No dia 30 de agosto o Cemaden vislumbrou que as chuvas que estavam previstas por conta da frente fria mais ao sul da América do Sul trariam consequências mais severas para a Região Sul do Brasil”. Segundo a diretora, ocorreram reuniões de rotina do Cemaden com o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos, do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. “A Defesa Civil dos estados do RS, SC, PR, e MS participaram de reunião e foram alertados que as chuvas poderiam causar significativos impactos para a população”, revelou.

Regina criticou os avisos por SMS adotados pelo governo do estado para alertar a população sobre alterações do clima.

Segundo ela, “é fundamental é que os municípios, estados e união, precisam trabalhar em conjunto em ações focando então na concepção da percepção do risco pela população. Só assim, cidadãos e cidadãs vão estar preparados e treinados para entender aquele texto do SMS, pra que ele serve”.

Comitê de crise

De acordo com o InMet, sistema de baixa pressão formado nas últimas 48 horas deverá manter o estado sob chuvas intensas

De acordo com o InMet, sistema de baixa pressão formado nas últimas 48 horas deverá manter o estado sob chuvas intensas

Foto: Igor Sperotto

O Ministério das Comunicações criou comitê de crise para apoiar o Rio Grande do Sul no restabelecimento dos serviços de telecomunicações e nas ações humanitárias nas áreas atingidas pelo ciclone extratropical que afetou grande parte do estado no início do mês.

A portaria publicada na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União (DOU) estabelece que o colegiado atuará até que a situação seja totalmente normalizada na região, sem prazo de duração.

“Não iremos descansar enquanto não estiver assegurada a volta à normalidade para a região Sul”, afirmou o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, ao destacar a importância da comunicação para que as equipes de apoio humanitário possam atuar.

“A comunicação, especialmente pela internet, também é um direito que devemos assegurar a todos”, lembrou.

O Ministério das Comunicações informou que 39 cidades tiveram o sinal de telefonia móvel afetado no dia 4 e que o serviço foi restabelecido nos dias seguintes. Também foram instaladas 13 antenas de conexão banda larga via satélite nos municípios de Encantado, Roca Sales, Muçum, Santa Tereza, Lajeado e Arroio do Meio, com o objetivo de melhorar a conectividade durante o processo de reconstrução da região.

O comitê de crise será coordenado pelo ministro das Comunicações, e terá a participação de outros seis integrantes da pasta, além de dois representantes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e dois da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

A atuação do grupo tem como objetivos levantar informações e estabelecer prioridades sobre os danos causados aos sistemas de telecomunicações, além de coordenar doações e a prestação de apoio logístico para o atendimento das necessidades da população atingida pelos efeitos do ciclone.

Em uma reunião emergencial com o governo, as empresas de telefonia que operam na região se comprometeram com ações emergenciais, como a liberação do roaming (área de cobertura), o restabelecimento dos serviços e na promoção de ações humanitárias como doação de água, alimentos e roupas.

Recuperação dos municípios

Novo ciclone extratropical está em formação na costa do Rio Grande do Sul

Inmet e Metsul alertam para chegada de novo ciclone na região sul. Estado registrou 47 mortes desde o último evento climático extremo, no dia 4

Foto: Defesa Civil/RS

Na noite de terça-feira, 12, o governo do estado anunciou por meio de uma live nas redes sociais, que vai adotar novas medidas para apoiar os atingidos pelas fortes chuvas da semana passada no Rio Grande do Sul.

De acordo com o governador Eduardo Leite (PSDB) serão aplicados R$ 10 milhões em “horas-máquina” pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) para auxiliar nos trabalhos de limpeza e recuperação dos municípios mais afetados.

Os municípios de Arroio do Meio, Colinas, Cruzeiro do Sul, Encantado, Estrela, Lajeado, Muçum, Roca Sales, Santa Tereza e Venâncio Aires serão priorizados.

Leite também anunciou isenções e prorrogações do pagamento de tributos e oficializou uma nova etapa do programa Volta por Cima, para apoiar as famílias vítimas das enchentes.

“Há municípios que foram completamente varridos, e isso exigirá um especial esforço de reconstrução das cidades, das regiões e da vida das pessoas que afetadas”, observou.

Auxílio emergencial

Um decreto assinado pelo governador na segunda-feira regulamenta a nova fase do programa, estabelecendo o pagamento do auxílio financeiro de R$ 2,5 mil, em parcela única, para famílias desalojadas ou desabrigadas, e R$ 700 para famílias atingidas, que tiveram dano parcial na residência, mas que nela permanecem.

Serão aportados R$ 25 milhões para esse fim, sendo R$ 20 milhões provenientes da Assembleia Legislativa e R$ 5 milhões, do Tribunal de Justiça. O projeto que repassa recursos ao Executivo foi aprovado em plenário na Assembleia Legislativa.

Empresas

Com o objetivo de auxiliar na reconstrução de micro e pequenas empresas e dar fôlego aos pequenos comerciantes que tiveram seus negócios fortemente afetados pelas enxurradas, o Estado apresentou uma série de prorrogações de pagamentos e isenções tributárias.

As medidas incluem a

As micro e pequenas empresas e comerciantes terão isenção de ICMS e Difal, para a aquisição de máquinas e equipamentos destinados ao ativo permanente e reposição de ativos deteriorados ou destruídos.

Também contemplam o apoio na garantia das apólices de seguros e a prorrogação das datas de vencimento dos tributos apurados no Simples Nacional devidos pelos contribuintes com sede nos municípios atingidos.

Na última semana, o Piratini abriu uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para empresas atingidas pelo ciclone e destinou R$ 20 milhões em recursos extraordinários para a área da saúde para assegurar o atendimento nas comunidades atingidas e a reconstrução das unidades básicas de saúde e hospitais.

Agricultura

O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, recebeu nesta quarta-feira, em Brasília, comitiva de representantes de entidades ligadas ao campo, prefeitos, secretários e parlamentares do estado para tratar de apoio aos agricultores atingidos pelas enchentes, principalmente, no Vale do Taquari.

Eles calculam que 10.787 propriedades, em mais de 55 municípios, foram atingidas e 1.616 produtores tiveram perdas na produção de grãos, 88 na fruticultura, 2.691 no fumo e 198 na olericultura.

Além disso, houve danos em casas, galpões, armazéns, silos, estufas, açudes, aviários e pocilgas. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios, as perdas no meio rural já chegam ao montante de R$ 1,1 bilhão.

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