Sindicatos e empresários protestam contra alta de juros do Banco Central
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A CUT e as demais centrais sindicais começam na próxima sexta-feira, 16, a Campanha Nacional pela Redução dos Juros. A data será marcada pelo Dia Nacional de Lutas contra as altas de juros praticados pelo Banco Central (BC).
As centrais apontam o presidente do BC, Roberto Campos Neto, como “o bolsonarista responsável” por manter a taxa básica (Selic) em 13,75% desde agosto do ano passado, a mais alta do planeta.
No entendimento das centrais, a Selic elevada traz consequências severas para a retomada do crescimento e do desenvolvimento econômico brasileiro.
A CUT nos estados e sindicatos filiados farão ações em locais de trabalho e espaços públicos de grande circulação de pessoas.
De acordo com a Central, os atos têm o objetivo de dialogar com a população alertando sobre os prejuízos provocados à sociedade brasileira. Serão feitas assembleias com trabalhadores, tuitaços, panfletagens, atos de rua, colagem de cartazes, plenárias, entre outras ações.
O lançamento da campanha, no dia 16, será marcado por uma manifestação em São Bernardo do Campo, organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC). A partir das 8h haverá uma caminhada pelas ruas da cidade para manifestar o descontentamento e exigir a redução dos juros.
Já no dia 19, será feito um tuitaço nacional para denunciar a política do BC, com engajamento das entidades sindicais filiadas à CUT, além de uma intensa mobilização pelas Brigadas Digitais da CUT, Comitês de Luta e organizações populares para ocupar as redes sociais.
Outros atos estão sendo organizados em vários locais do país também para o dia 20, data em que começa a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que definirá, no dia 21 qual será a taxa praticada.
Manutenção da Selic em 13,75% é tendência
Pelo que aponta o último boletim Focus, publicado pelo BC em 12 de junho, a estimativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom), capitaneado por Campos Neto, mantenha a taxa nos 13,75 %, índice considerado abusivo pelo próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva em suas falas públicas.
Nos dias 20 e 21 serão realizados atos em cidades onde há sedes do Banco Central e atos de rua em lugares de grande circulação de pessoas nas cidades onde não houver sede do BC. Em São Paulo, o ato será às 10h, na Avenida Paulista, 1.804 (prédio do BC).
Em Porto Alegre, a CUT e as centrais, junto com movimentos sociais e partidos comprometidos com a redução dos juros, farão um ato, às 11h, em frente à sede do BC, na Rua Sete de Setembro, 586.
Luiza Trajano pede a Campos Neto que sinalize baixa de juros
Durante evento do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), que contou com outros líderes de grandes empresas do setor, Luiza Trajano, do Magazine Luiza fez um apelo à Campos Neto pela baixa de juros. Mesmo enquadrado, Campos Neto afirmou que possiblidade de queda dos juros é “lá na frente”, condicionando mais uma vez o comportamento da economia à redução e ignorando as quedas da inflação percebidas nos últimos meses.
O IPCA, que mede a inflação oficial do mês de maio, ficou em 0,23%. Com o resultado o índice soma 3,94 % em 12 meses, o menor em três anos.Sindicatos, governo e o setor empresarial têm cobrado a redução dos juros para que o país volte a crescer com geração de emprego e renda.
No mesmo evento que teve a participação do presidente do BC, a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, fez uma forte crítica a essa política.
“A nossa realidade é diferente. O varejo puxa tudo, a indústria, a construção. Estamos tendo excesso de produto, as indústrias não têm onde colocar, nem sempre esse remédio amargo também resolveu a inflação (…) se estou defendendo, é pela pequena e média empresa.
Queria pedir, por favor, para dar um sinal de baixar esses juros”, disse a empresária.
A empresária foi além e escancarou a realidade de muitas dessas pequenas e médias empresas, responsáveis por grande parte de geração de empregos no país.
“Sem um sinal, não vamos aguentar. Quantas lojas aqui já foram fechadas? Quantas pessoas já foram mandadas embora? A desigualdade social é muito grande. É o emprego que salva as pessoas. Queria te pedir, em nome dos brasileiros, para dar um sinal. E não é de 0,25 ponto, que é muito pouco. Precisamos de mais”, alertou Luiza Trajano.
Mesmo com todas as críticas que o BC vem recebendo desses setores, o Comitê de Política Monetária (Copom), alega que “permanecem cenários de risco para a inflação”.
CUT alega que BC pratica boicote ao governo Lula
Mas, a para a CUT, ao contrário de ‘risco’, o que ocorre é um boicote do Banco Central às iniciativas governamentais para criar condições para o consumo voltar a crescer e as empresas terem créditos mais baratos para produzirem mais, empregarem mais e fazerem a roda da economia girar.
“A manutenção das mais altas taxas de juros do planeta Terra se constitui em um ato irresponsável e de claro boicote ao esforço governamental e empresarial, mas principalmente às lutas e reivindicações das organizações sindicais.
Irresponsabilidade que explicita o erro de conferir autonomia a um Banco Central, cujo presidente é fiel ao governo anterior, que aposta no fracasso do atual governo, e inimigo do povo brasileiro”, diz trecho de nota publicada pela Central após a última reunião do Copom, no dia 3 de maio, que manteve a taxa no patamar elevado.
Para que serve a Selic e como os juros afetam a vida de todos
A taxa de juros é usada no mundo todo para combater a inflação. Mas esse mecanismo só funciona quando a inflação é causada por demanda, ou seja, porque a população está comprando mais do que é produzido e este não é o caso do Brasil, já que o consumo vem caindo porque o povo não tem dinheiro pra gastar e o endividamento das famílias bate recordes.
É a partir da Selic que os bancos praticam seus próprios índices sobre empréstimos oferecidos a empresas e pessoas físicas, o cartão de crédito rotativo, as prestações da casa própria e de outros financiamentos. Como o crédito está muito caro as empresas também ficam sem condições de contrair empréstimos para expandir seus negócios e gerar empregos.
Como o Banco Central se tornou independente do governo federal, numa decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com aprovação do Congresso Nacional em 2021, o atual governo não tem ingerência sobre as decisões do BC, apesar das críticas de Lula ao alto índice da taxa de juros. Uma pesquisa da Genial/Quest apontou que 76% dos entrevistados dizem que o atual presidente acerta em combater os juros altos no Brasil.
Além de já pagarem caro aos bancos, a população perde ainda bilhões de reais anualmente em investimentos sociais porque o governo federal também paga pelos juros altos devidos aos empréstimos que possui com a venda de títulos públicos. Isso acontece porque cerca de 40% da dívida pública é indexada à taxa Selic.
Para se ter uma ideia de investimos sociais que poderiam ser feitos, a redução de apenas 0,5% da taxa de juros faria o governo ter à disposição mais R$ 17 bilhões, o que equivale a um ano de Minha Casa Minha Vida e Farmácia Popular.
Segundo artigo da economista Mônica de Bolle, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, ao subir a taxa de juros de 2%, no início de 2021, para 13,75%, em agosto de 2022, o Banco Central fez com que a despesa do governo com a dívida pública saltasse de 2% do PIB para 10% do PIB, ou de R$ 135 bilhões para R$ 920 bilhões por ano. A maior parte deste dinheiro (53,6%) vão para instituições financeiras e fundos de investimentos.
Vale lembrar, que Mônica é uma economista originalmente de matriz liberal, surgida nas trincheiras do PSDB, o que vem criticando duramente as políticas monetárias dos últimos governos (Temer e Bolsonaro) por serem consideradas modelos já fracassados em outros países e ultrapassados para as novas demandas do país e do mundo contemporâneo.
71% das empresas consideram taxa de juros alta como trava da economia
Na primeira semana de junho, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgou pesquisa que revela que 71% das empresas no Brasil apontam a alta taxa dos juros no Brasil, a Selic, definida pelo Banco Central (BC), como o principal impeditivo para terem acesso a crédito tanto de curto, como médio e longo prazo. O estudo chamado “Sondagem Especial – Condições de acesso ao crédito”, mostra ainda que as empresas renovaram linhas de crédito em condições piores ou muito piores do que há seis meses, quando foi feita a última pesquisa.
Os números mostram que, para as modalidades de curto e médio prazo, 71% das empresas citaram a taxa de juros, hoje em 13,75% ao ano, como ‘muito elevada’. Outras dificuldades apontadas para a obtenção de crédito são a exigência de garantias reais (25% das empresas citaram este motivo) e falta de linhas de crédito adequadas à necessidade da empresa (16%).
Ao todo foram ouvidos 2.022 empresários entre os dias 1º e 9 de março sobre as condições de crédito em um período de seis meses, entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023.
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