MOVIMENTO

Trabalhadores lutam por qualidade de empregos no 1º de maio

Centenas de trabalhadores, famílias e representantes dos movimentos sociais lotaram a Praça Júlio Mesquita, do lado oposto às áreas cercadas do Cais Embarcadero, na Avenida João Goulart, na Orla do Guaíba
Por César Fraga / Publicado em 1 de maio de 2023

Trabalhadores lutam por qualidade de empregos no 1º de maio

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

 

Nesta segunda-feira, 1º de maio, o Dia do trabalhador foi celebrado em todo o país em atos promovidos pelo movimento sindical. Em Porto Alegre, a Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS) e demais centrais sindicais realizaram um ato unificado durante a tarde do feriado, com shows culturais nas imediações da Usina do Gasômetro.

Centenas de trabalhadores, famílias e representantes dos movimentos sociais lotaram a Praça Júlio Mesquita, do lado oposto às áreas cercadas do Cais Embarcadero, na Avenida João Goulart, na Orla do Guaíba.

Tendas, toalhas de piquenique, barracas de pipoca e algodão doce dividiam espaço com bandeiras da CUT, do MST e dos sindicatos de várias categorias.

Trabalhadores lutam por qualidade de empregos no 1º de maio

Foto: Igor Sperotto

O evento contou com atividades culturais ao longo da tarde

Foto: Igor Sperotto

No palco, parlamentares e representantes de entidades se alternaram com as apresentações artísticas. O evento contou com participação das Femenejas – grupo de mulheres que canta sertanejo com temáticas feministas–, do grupo de rap de Dekilograma, da banda de rock Alquimia Voodoo, do samba do Areal do Futuro e da banda do Sindicato dos Músicos do RS. Também foi encenada uma esquete teatral pelos Artistas pela Democracia.

Além da capital gaúcha, foram promovidas manifestações no interior gaúcho em Caxias do Sul, Santa Maria, Passo Fundo e Tramandaí. Pelotas, Rio Grande e Bagé cancelaram as atividades por causa da chuva.

Trabalhadores lutam por qualidade de empregos no 1º de maio

Foto: Sinpro-RS/Divulgação

Em Passo Fundo, professores da rede privada participaram da mobilização nacional

Foto: Sinpro-RS/Divulgação

“Estamos celebrando o dia internacional de luta dos trabalhadores e das trabalhadoras, erguendo bem alto as nossas bandeiras de luta por trabalho decente, pela redução dos juros extorsivos, em defesa dos salários e dos direitos, pela valorização do salário mínimo e a revogação do Novo Ensino Médio e por democracia”, sintetizou o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci (leia entrevista no final da matéria).

Lula participa em SP

Trabalhadores lutam por qualidade de empregos no 1º de maio

Foto: CUT/Divulgação

O presidente Lula participou do ato em São Paulo

Foto: CUT/Divulgação

No ato em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) compareceu pela manhã e reafirmou seus compromissos de campanha eleitoral ao dizer que o país vai voltar a crescer e gerar empregos com investimentos em obras, saúde e educação, durante ato unificado da CUT e demais centrais sindicais em comemoração ao 1º de Maio, Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, realizado no Vale do Anhangabaú, centro da capital de São Paulo.

Ao anunciar a volta da política de valorização do salário mínimo que nos governos do PT valorizou 74% acima da inflação, e o novo valor de R$ 1.320 a partir deste mês de maio, Lula reforçou o importante papel do piso nacional na retomada da economia.

“O trabalhador ganha, o cidadão do comércio que vende cachorro quente, pastel, que vende comida, ganha, por que o trabalhador tendo mais dinheiro ele compra mais, comprando mais o comércio vai gerar emprego e vai encomendar coisas da indústria, a indústria vai gerar emprego e vai começar a funcionar a roda gigante na economia. Todo mundo começa a ganhar até os ricos”, declarou.

Sobre o imposto de renda que a partir de agora será isento de desconto quem ganha até dois salários mínimos (R$ 2.640), Lula prometeu que até o final deste mandato a isenção chegará a R$ 5 mil.

“Ninguém vai pagar mais um centavo de imposto de renda até esse limite e você sabe que eu tenho compromisso com vocês de alternar meu mandato a gente teria isenção até 5.000”, afirmou.

A mobilização nacional do Dia do Trabalhador ocorreu às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para os dias 2 e 3 de maio. A atual taxa básica de juros (Selic) é de 13,75% por ano.

“O Brasil tem os juros mais altos do mundo. Isso impacta e piora a vida de quem trabalha”, alerta. “O custo do dinheiro fica mais caro, as dívidas ficam impagáveis, o desemprego aumenta e as empresas não investem para produzir mais”, constata Amarildo. “Só quem ganha é o mercado financeiro e os especuladores”, aponta.

Reconstrução do país na pauta dos trabalhadores

rabalhadores lutam por qualidade de empregos no 1º de maio

Foto: Igor Sperotto

O presidente da CUT-RS Amarildo Cenci criticou a política de juros altos do Banco Central

Foto: Igor Sperotto

Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci,  “é hora de reconstruir o Brasil com os trabalhadores e as trabalhadoras. Para isso, é fundamental a redução das taxas de juros, a fim de aquecer a economia, gerar empregos de qualidade e aumentar a renda da classe trabalhadora”.

O dirigente lembra que, para aprovar as reformas trabalhista e da Previdência, após o golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff (PT), “as elites prometeram modernizar as regras para gerar milhões de empregos. Foi tudo mentira com a conivência dos grandes veículos de mídia”, salienta.

“O que se viu foi a retirada de direitos dos trabalhadores, precarização dos empregos, aumento da terceirização e dificuldades para se aposentar, dentre outros retrocessos”, aponta.

Amarildo destaca que a posse do presidente Lula (PT) já começou a trazer resultados positivos para a vida dos trabalhadores.

“Mudou o governo, apertou a fiscalização, as pessoas se encorajaram para denunciar e começaram a aparecer novos casos de trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão, como em Bento Gonçalves, Uruguaiana e Nova Petrópolis”, ressalta.

A tabela do imposto de renda começou a ser corrigida, melhorando a renda do trabalhador e da trabalhadora.

“Quando Lula assumiu, a isenção era para quem recebia até R$ 1.903 e já foi reajustada para R$ 2.640, preservando a renda para quem ganha até dois salários mínimos. Melhorou, mas precisa seguir avançando até R$ 5 mil, como Lula prometeu na campanha”, enfatiza Amarildo.

“O caminho”, para o presidente da CUT-RS, “é a organização, a luta e a mobilização da classe trabalhadora, pressionando não só os governos federal, estadual e municipais, mas também os senadores, deputados e vereadores, para que haja trabalho decente e sejam respeitados e valorizados os nossos direitos e conquistas”.

O presidente regional da CUT/RS concedeu entrevista exclusiva ao Extra Classe durante o ato.

Extra Classe – Quais as principais bandeiras dos trabalhadores neste 1º de Maio e como a CUT avalia o aumento do salário mínimo anunciado pelo presidente Lula, durante o feriado?
Amarildo Cenci – Nós vamos ter de continuar essa luta para melhorar o salário mínimo nacional, da mesma forma que estamos lutando por um salário mínimo regional reconhecido e forte. Nós também queremos a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Seguimos na luta por uma distribuição de renda que passa pela valorização dos trabalhadores, pela isenção do imposto e com reajuste acima da inflação. Nós estivemos com o presidente na semana passada. Ele disse que vai começar a ter aumento real no salário mínimo nacional a partir do ano que vem e muito forte, de inflação mais crescimento do PIB, o que significa um reajuste estimado 8,5% em 1º de janeiro de 2024.

EC – Quais pautas são mais urgentes?
Cenci – Temos pautas emergentes e de curto prazo. Por exemplo, a luta por emprego decente sem assédio nos ambientes de trabalho e sem desigualdade de gênero e raça. Trata-se de uma série de aspectos que caracterizam não o trabalho análogo à escravidão, mas ambientes de trabalho de péssima qualidade que nós temos no Brasil. Nós precisamos melhorar essa realidade juntamente com a questão da distribuição de renda.

EC – E os juros altos?
Cenci – Os sindicatos estão na luta para baixar a taxa Selic, pois o Brasil não sobreviverá a essas taxas, nem os seus trabalhadores sobreviverão a uma taxa que impacta em mais de 400% nos cartões de crédito, cheque especial e juros rotativos do sistema financeiro. Além disso, essa taxa retira capacidade de investimento do capital produtivo. É um sistema autofágico que retira recursos que poderiam estar gerando produtividade e aquecimento da economia e transfere diretamente para os especuladores e rentistas.

EC – O Dia do Trabalhador também é uma celebração da democracia?
Cenci – A luta dos trabalhadores também passa por reafirmar a democracia com participação popular. E democracia participativa, com substância, também significa uma escola pública e serviços de saúde de qualidade. Por isso, queremos a revogação do Novo Ensino Médio.

EC – Na conversa com o presidente Lula foi falado em redução de jornada de trabalho. Esse tema está na pauta do movimento sindical?
Cenci – Esse tema está pautado e consta inclusive nos boletins que estamos distribuindo aqui no ato. Sobre 40 horas semanais – no Brasil o limite é 44 horas semanais – em conversa com o presidente ficou a ideia de reduzir gradualmente assim como ocorre no Chile. Seria uma redução gradual de uma hora a cada ano até chegar nas 40 em quatro anos. Essa é uma pauta muito importante.

EC – O que mais consta no horizonte de pautas da CUT?
Cenci – Outra pauta é o fim da terceirização da atividade-fim, pois a permissividade da terceirização da atividade-fim é que pavimenta a exploração dos trabalhadores e a precarização do trabalho. Outra coisa, é a inclusão dos trabalhadores de plataformas no sistema de seguridade social e de direitos, pois estão completamente excluídos. E paralela a isso tudo tem a pauta da segurança alimentar e da alimentação saudável, que passa por uma industrialização de alimentos com características mais nacionais.

EC – E a questão da contribuição Sindical que está sendo votada no STF?
Ceni – O Supremo está dando uma curva. A Corte precisa reconhecer o que diz Constituição. Quem define a forma de organização são os trabalhadores. E não o estado, nem o judiciário. Agora, vir dizer que o coletivo é que vai decidir sobre isso será apenas reafirmar o que já diz a Constituição, que não é o trabalhador individualmente quem decide. Está escrito no artigo oitavo do texto que versa sobre organização sindical, que até agora não foi mudado. Ao meu ver é bem-vinda a decisão, mas o STF já poderia ter decidido isso há muito mais tempo. Estão dando solução a um problema que o próprio Supremo criou.

EC – E no âmbito estadual?
Cenci – O Judiciário terá 18% de reajuste nas carreiras jurídicas e magistraturas, o restante dos servidores 12%, o executivo 9%. Tem um segmento que o Governo está reajustando e outros não. Isso sem falar que o governo do estado está devendo 15,42% no salário mínimo regional porque passaram dois anos sem reajuste. Teve ano que o reajuste foi zero. Essa pauta atende um setor social bem amplo e que menos ganha no RS. Isso sem falar nas privatizações. Tem o prefeito Melo que quer vender o DMAE e o governador Eduardo Leite, a Corsan. E o movimento sindical não concorda com essas privatizações.

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