Porém, como um Hidemburgo carregado de supostos pontos percentuais, o imenso balão murchou e desabou do alto da nossa elevada expectativa.
É o que dá confiar em pesquisas, um costume recente na história da humanidade. Antes delas, o único instituto confiável era a experiência acumulada, sempre guiada por essa fiel cachorra farejadora, a Intuição. Foram milênios de adivinhações ignorantes, certo, mas sem o risco das projeções ou falsas esperanças sustentadas por números hipotéticos.
(Não custa imaginar eventos históricos do passado remoto dependente das pesquisas:
No Éden, 100% da humanidade obedece às leis divinas. Como os pesquisadores deixaram os ofídios fora das consultas? Como subestimaram sua influência sobre 50% da população?
Ou, mais tarde, na Inglaterra, em novo episódio envolvendo frutas vermelhas:
Por falta de sol este ano, os enxames de abelhas estão 12,4% mais preguiçosos, o que afetará a polinização das macieiras em flor em 7% ou 8%, com impacto de menos 44,1% na produção de maçãs. E sem a solarização, haverá menos pessoas à sombra das árvores, inclusive com ausência de estudiosos da física sob elas. Então, as chances da lei da gravidade não ser descoberta agora chegam a 78,3%.)
Puizé: pelos institutos, a eleição estava ganha e o que ganhamos foi um aquífero de água gelada. Ok, água a gente sempre pode pôr pra ferver novamente, e tudo indica que a mobilização pra botar lenha na caldeira da democracia vai arrebatar o povaréu.
Quanto aos métodos das pesquisas, é o seguinte: 51% dos pesquisadores acreditam que alguma correção de rumo precisa ser feita, só não sabem em que direção. Já 52% acham que tudo deve continuar como está, porque têm certeza que as previsões estavam corretas – os eleitores é que não seguiram os prognósticos. (O que dá 103% de confusão nesse parágrafo, peraí.)
A dúvida final é: qual o percentual restante de esperança? Bom, se os cálculos não estão errados, houve 20% de abstenção: um em cada cinco eleitores achou que seu voto não faria diferença, e fez toda. Já o volume de indecisos precisará se decidir, e se até agora o fascismo não fez essa gente reagir, convém não contar com eles.
Enfim, na reta final pro 2º turno, melhor se alienar das pesquisas. O que importa é que tamo 1.000% certos que o bozonazismo já passou do insuportável. Chega disso.