Indecisos e ‘envergonhados’ definiram primeiro turno
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil
O cientista político e professor aposentado da Ufrgs Benedito César avalia que os votos de Bolsonaro foram subestimados devido a um mau entendimento das possibilidades do ‘voto escondido’, que não aparecia nas pesquisas. “Os eleitores que se diziam ‘indecisos’ entre os dois candidatos, diferentemente do que apregoavam os analistas, eram eleitores envergonhados (de Bolsonaro) e não temerosos”, constata.
Para Augusto Oliveira, da PUCRS, a derrota de Bolsonaro no primeiro turno se deve, em grande parte, à rejeição dos eleitores ao seu governo. “Os movimentos do governo na tentativa de diminuir essa rejeição, como o Auxílio Brasil e outras medidas pontuais para aliviar a tensão social, não foram suficientes para reverter a percepção de uma grande parcela da população a respeito do mandato”, aponta.
Nas eleições para o Congresso Nacional, César vê um crescimento das bancadas de esquerda e centro-esquerda e que, apesar de elegerem um grande número de parlamentares, os partidos de direita e extrema-direita não garantiram maioria suficiente para alterar a Constituição sem acordo com as forças de esquerda e centro-esquerda. “Os grandes derrotados foram os candidatos e partidos de centro-direita”, sentencia. Os partidos que mais perderam vagas na Câmara foram PSDB/Cidadania e PP (11), PSB (10), MDB e Novo (5) e Solidariedade (4).
No Rio Grande do Sul, ocorreu um fenômeno semelhante, com os “indecisos” impulsionando as votações de Onyx Lorenzoni (PL) ao governo do estado e Hamilton Mourão (Republicanos) ao Senado, segundo a avaliação de César.
“Havia um voto oculto, previamente definido, mas que não aparecia nas pesquisas, por ser ‘envergonhado’ e ocorreu uma transferência de votos de Ana Amélia Lemos (PSD) para Mourão, certamente comandada por disparos de WhatsApp e Telegram. No entanto, acompanhando a tendência nacional, o grande vencedor político foi o PT e sua federação, com a candidatura de Edegar Pretto, que recolocou o PT como ator político relevante no estado, mesmo não tendo ido ao segundo turno”, analisa.
Integrante das coordenações do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e da Rede Estação Democracia (RED), César acrescenta que a imperícia da esquerda e da centro-esquerda em se unirem custou caro, mais uma vez. “Essas forças políticas teriam levado Pretto ao segundo turno, com chances reais de vitória.” No estado, “a centro-direita foi a grande derrotada, politicamente falando. Eduardo Leite (PSDB), que liderava as pesquisas, foi para o segundo turno por menos de 2,4 mil votos e viu suas bancadas minguarem”.
Eleição I
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
O final da apuração pelo Tribunal Superior Eleitoral aponta uma vantagem de quase 6,2 milhões de votos para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno das eleições presidenciais. Lula obteve 57.259.504 dos votos contra 51.072.345 de Bolsonaro, o que leva o pleito para o segundo turno, em 30 de outubro. A Federação Brasil Esperança (PT-PCdoB-PV) e os partidos que apoiam Lula somam 138 deputados federais. Essa seria a base parlamentar de Lula, caso vença a eleição. O PL elegeu 76 e consolidou 98, a maior bancada na Câmara Federal, mas o seu alinhamento é fisiológico e só se concretiza com Bolsonaro no governo. Do contrário, voltará a ser parte do Centrão.
Eleição II
“Nunca um presidente em exercício candidato à reeleição havia sido derrotado no primeiro turno e Lula obteve uma vantagem de mais de seis milhões de votos e de mais de 5 pontos percentuais sobre Bolsonaro”, analisa o cientista político e professor aposentado da Ufrgs, Benedito Tadeu César. Para ele, Lula e a Federação foram os grandes vencedores das eleições. “Do ponto de vista histórico e dos resultados eleitorais na democracia brasileira recente, é um resultado inédito”, reitera Augusto Neftali Corte de Oliveira, professor de Ciência Política da PUCRS e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisa em Democracia. indecisos indecisos