Foto: Igor Sperotto
O estado de Santa Catarina é líder nacional em doações de órgãos para transplantes nos últimos oito anos. Até junho de 2014, a Central de Transplantes daquele estado atingiu a marca de 29,4 doadores por milhão de população, índice que se aproxima da Espanha, referência em todo o mundo (veja artigo sobre o modelo espanhol na página 6).
Os bons resultados podem estar relacionados a dois fatores: a capacitação dos profissionais de saúde para oferecer a doação de órgãos no momento doloroso em que uma família é comunicada da morte de um parente, e a portaria ministerial que prevê a profissionalização dos coordenadores de transplantes em nível hospitalar.
Desde maio de 2013, cerca de cem coordenadores recebem uma gratificação por desempenho da atividade através de um fundo administrado pelo Conselho Municipal de Saúde.
A Central de Transplantes de Santa Catarina, conhecida como SC Transplantes, ligada à Secretaria Estadual de Saúde, começou a funcionar em 1999. Em 2008, passou por uma reestruturação e investiu em educação e formação com médicos como Valter Garcia, da Santa Casa do Rio Grande do Sul, e a sanitarista Selma Loch. “É impressionante os picos de doação que ocorrem após um evento de educação”, observa Joel de Andrade, médico intensivista e coordenador do SC Transplantes, que fez sua especialização na Espanha.
Andrade está convencido de que, antes de investir em publicidade sobre doação de órgãos, é preciso preparar os profissionais de saúde. As técnicas de comunicação com as famílias no momento da doação, difundidas em cursos, são fundamentais para alcançar os resultados atuais”. A gente não pede órgãos, a gente oferece a possibilidade de doação e a doação é um consolo de que outros deixam de morrer, dá um sentido à vida”, diz.
Os cursos ensinam como o médico pode ajudar uma família a tomar a decisão e permitem diminuir também a tensão do profissional de saúde. “A doação é quase um efeito colateral da boa comunicação”, reflete. Postura, tom de voz, comunicação não verbal, sem julgamentos: é preciso ouvir o familiar, entender que há um primeiro momento de negação da morte, esperar a assimilação da dor.
Atualmente, a SC Transplantes atende a demanda de Santa Catarina e também de outros estados, principalmente em relação aos transplantes hepáticos. A lista de espera por órgãos ainda é grande, é preciso avançar mais, analisa Andrade. Falta uma política nacional de Coordenação de Transplantes, assim como existe a coordenação de órgãos, e é importante introduzir o tema nos currículos das escolas de Medicina e Enfermagem. “Doação de órgãos não é uma causa, é uma questão de saúde pública”, afirma.