Choque elétrico e ataques de cães ameaçam bugios no Rio Grande do Sul
Foto: Mariano Pairet/Sema
No Rio Grande do Sul, 43% dos casos de acidentes são devido a eletrocussão, 31% a ataques de cachorros, 18% atropelamentos e 8% maus tratos. Este último inclui manter animais ilegalmente em cativeiro e agressões físicas, segundo a bióloga Márcia Jardim, do Museu de Ciências Naturais da Secretaria do Meio Ambiente de Porto Alegre (Sema).
Estudo realizado por diversos pesquisadores analisou 540 acidentes ocorridos com bugios no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina ao longo das últimas duas décadas e constatou que a eletrocussão é a maior causa de acidentes nos dois estados.
Há 35 anos atuando junto a animais silvestres na capital gaúcha, a veterinária Gleide Marciano coordena a ONG Voluntários da Fauna e administra a Toca dos Bichos, na zona norte da cidade, para onde são levados a maior parte dos animais feridos. No dia da entrevista (30/03), 14 bugios estavam em tratamento na clínica.
A veterinária diz que o número de casos aumentou nos dois últimos anos. Em 2021 foram 34 internamentos, praticamente o dobro do ano anterior. A procedência maior de casos é de localidades como no bairro Lami, em Porto Alegre; no distrito de Itapuã, em Viamão; e nos municípios de Novo Hamburgo, Campo Bom, Morro Reuter e Canela.
Depois de serem tratados, aqueles animais que não podem retornar à vida livre e serem devolvidos exatamente aos locais de onde foram resgatados, eles são enviados para zoológicos e instituições mantenedoras de animais silvestres existentes no estado.
Desmatamento
A bióloga Maria Carmem Sestren Bastos, responsável pela Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger e pelo Refúgio de Vida Silvestre São Pedro, afirma que o desmatamento tem sido um dos fatores responsáveis pela vulnerabilidades da espécie.
Por serem animais arborícolas, eles dependem de zonas de mata para sobreviver, mas com o avanço das áreas urbanas nos remanescentes florestais, essas confecções acabam rompidas. Dessa forma, com a ausência das árvores para o deslocamento, os bugios passam a usar o cabeamento da rede elétrica ou as pontes construídas para seu uso, ou mesmo descendo das árvores e circulando nos pátios das casas onde são atacados por cães.
Embora reconheça a importância da instalação de novas pontes para a passagem dos bugios e de outros animais silvestres, Maria Carmem afirma que de nada adianta tais instalações se não houver continuidade de árvores. São os chamados corredores ecológicos que já estão previstos no Plano Diretor, mas que precisam ser monitorados na avaliação da bióloga.
“Não adianta a gente ter um plano diretor lindo e maravilhoso se as pessoas não cumprem, seja por uma questão cultural, ou por falta de fiscalização. Acontece muita grilagem no Lami,” critica.
O que diz a CEEE Equatorial
A assessoria de comunicação diz que a empresa está ciente da situação e que vem realizando, desde a posse da concessão, intervenções para melhorar a rede. Entretanto, ainda segundo a assessoria, pela amplitude da concessão e devido ao combate às ligações clandestinas de energia, que também deixam a fiação precária e comprometem a segurança, o trabalho de proteção total de rede demanda maior tempo para finalização.
Maria Carmem confirma que o atendimento da CEEE era bastante rápido até antes da pandemia, quando bastava ligar e informar o número do poste onde havia ocorrido o acidente para que o reparo fosse feito: poda de galhos ou recapeamento de fios. Entretanto, passado o período de isolamento, a bióloga diz não conseguir mais entrar em contato com a CEEE.