MOVIMENTO

Relatório da CPT registra aumento da violência no campo

Questões vinculadas à água bateram recorde em 2018, além de ter aumentado o número de famílias expulsas de suas terras por grileiros
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 12 de abril de 2019
Manifestação lembra o assacre de Carajás: Nos quatro primeiros meses de 2019 foram registrados dez assassinatos em conflitos no campo

Foto: Divulgação

Manifestação lembra o assacre de Carajás: Nos quatro primeiros meses de 2019 foram registrados dez assassinatos em conflitos no campo

Foto: Divulgação

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) apresentou no início desta tarde, 12, o seu relatório anual Conflitos no Campo Brasil. Compreendendo o período de 2018, é a 34ª edição do documento, que traz dados sobre os conflitos e atos de violências sofridos por trabalhadores e trabalhadoras do setor agrário brasileiro, entre os quais comunidades indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais.

O Conflitos no Campo Brasil 2018 registra que as questões vinculadas à água bateram recorde, além de ter aumentado o número de famílias expulsas de suas terras. Também em 2018, o número de mulheres que sofreram alguma forma de violência foi o mais alto desde 2008. Com 482 mulheres vitimadas, sendo 36 ameaçadas de morte, a CPT dedicou a publicação deste ano à vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio em março de 2018, e à irmã Alberta Girardi, católica da Congregação das Orionitas que dedicou sua vida aos Sem Teto e aos Sem Terra e morreu em dezembro passado aos 97 anos de idade. Também como homenagem à “luta das mulheres”, as fotografias do relatório foram totalmente feitas por mulheres.

Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino/ CPT

Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino/ CPT

Para a CPT,  2018 foi o ano com o maior número de hostilidades por água desde 2002, quando a entidade começou a registrar a questão de forma separada dos demais confrontos por terra. Ao todo, a CPT contabilizou 276 conflitos por água no Brasil em 2018, atingindo 73.693 famílias, com um índice expressivo nas chamadas comunidades tradicionais, 85%. Ao todo, as contendas ainda aumentaram 40% em relação ao período anterior, com o acréscimo também no número de famílias envolvidas, que foi 108% maior.

 MORTES – No geral, 2018 apresentou queda no número de mortes nas disputas agrárias. No entanto, a CPT analisa que historicamente isso é uma tendência em anos eleitorais. Se em 2018 foram verificadas 28 mortes, ante as 71 de 2017, quando houve cinco massacres, a CPT aponta que o retorno do aumento dos assassinatos no campo já se verifica. Só nos quatro primeiros meses de ano, a CPT registrou 10 assassinatos em conflitos no campo e, para a organização, esse número pode ser ainda maior – devido à subnotificação.

Em ataque no Amazonas em 30 de março, uma pessoa foi assassinada e três ou mais pessoas podem estar desaparecidas, conforme relatos de moradores. Segundo a CPT, “as famílias ainda não se sentiram seguras para retornar às suas casas”. O total registrado até o momento já representa 36% dos assassinatos motivados pela posse da terra em todo o ano de 2018.

Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino/ CPT

Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino/ CPT

Mais de 2 mil famílias foram despejadas de forma ilegal

Com um aumento de 59%, 2.307 famílias foram expulsas das áreas que reivindicavam. Para a CPT, em grande parte o despejo se dá em terras griladas onde o suposto dono obriga as famílias a sair, seja por conta própria ou através da pressão de “jagunços”, que ainda “muitas vezes” encontram respaldo ilegal em organismos policiais. Na metodologia da CPT, expulsão é o ato de retirar da terra seus ocupantes, sem ordem judicial.

A CPT foi criada em junho de 1975 em plena ditadura militar, durante o Encontro de Bispos e Prelados da Amazônia. Inicialmente nascida no seio da Igreja Católica, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), hoje a Comissão tem caráter ecumênico, congregando outras igrejas cristãs como a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB.

Acesse entrevista com dom André de Witte, presidente da CPT.

 

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