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O radicalismo dá a tônica
O conflito atual começa na páscoa judaica, na última semana de março, quando um atentado suicida assumido pelo grupo palestino Hamas matou 20 judeus. Foi o sinal verde para o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon desencadear a operação chamada “Muro Protetor”. As tropas isaraelenses começaram a invasão. Entraram em Ramallah, na Cisjordânia, prenderam mais de 700 pessoas e cercaram o QG de Arafat. Mas o pior estava por vir. A cidade de Jenin foi fechada pelo exército israelense. Quando os primeiros observadores internacionais e jornalistas entraram, a sensação era de um terremoto, com escombros de casas e centenas de mortos.Terjed Roed-Larsen, enviado da ONU à região, chegou a afirmar que estava diante de um horror “para além do que se pode acreditar”.
A lógica que move esta guerra lembra um pouco a invasão norte-americana ao Afeganistão como retaliação ao atentado terrorista de 11 de setembro nas duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque. Israel também usa o escudo do combate ao terrorismo para destruir a Palestina. “A partir do momento que o mundo aceitou a tese norte-americana de que a destruição do Afeganistão se justifica para combater o terrorismo internacional, o governo de Israel aproveitou a situação e considerou o movimento palestino de resistência à ocupação como movimento terrorista, tentando justificar com isso a invasão, a destruição das cidades e aldeias e o massacre de civis”, argumenta o professor Mohamed Habib, coordenador de assuntos internacionais de Universidade de Campinas (Unicamp).
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A cronologia dos fatos, porém, mostra que a origem do conflito começa a se desenhar em 1947, quando a ONU delibera a criação do Estado de Israel utilizando 53% do território palestino, então um país sob o mandato britânico. Quando o estado de Israel é criado, imediatamente os britânicos declaram o fim do mandato sob a Palestina. “Até 1967, Israel já havia ocupado 78% de toda a Palestina que não existia mais, e o povo palestino vivia encurralado em duas regiões (faixa de Gaza e Cisjordânia) somando os 22% que sobravam do país. Desde 1967 até os dias de hoje, há 35 anos, o exército de Israel ocupa essas duas regiões chamadas pela ONU de territórios ocupados”, explica Habib.
Há uma proposta do governo da Arábia Saudita , aprovada recentemente pelos 22 estados árabes, que propõe a Israel a retirada dos territórios ocupados desde 1967 e, em troca, a celebração de acordos de cooperação diplomática e comercial. Para Antônio Celso Pereira, professor de direito internacional de Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj), a ação constante de grupos extremistas dos dois lados vem minando qualquer tentativa de paz. “Sempre que se consegue, na mesa diplomática, algum avanço, imediatamente os radicais entram em ação. Foi assim quando israelenses de ultradireita mataram Ytazhak Rabin, em 4 de novembro de 1995; foi assim quando os palestinos lançaram uma série de atentados contra a população civil de Israel, matando 60 israelenses, às vésperas das eleições de 1996, cruciais para que a continuação do processo de paz se consagrasse com a eleição de Shimon Perez, que substituiria Rabin. Perez foi derrotado, Benyamin Netanyahu assumiu o poder e começou a desmontar os acordos de Oslo”.
Esse acordo, assinado em 1993 pelo então primeiro-ministro israelense Ytzhak Rabin e o líder palestino Yasser Arafat, previa uma série de medidas para estabelecer a paz entre Israel e Palestina. Foi mais um fracasso. “Atualmente, existem forças expressivas, tanto israelenses como palestinas contrárias à paz. Do lado de Israel, por exemplo, a própria eleição de Ariel Sharon expressa esse espírito belicista e guerreiro com apoio em parte expressiva dos eleitores israelenses. O povo israelense tem acreditado que poderá impor-se aos palestinos pela via militar. Não acredito na possibilidade de vitória militar neste conflito. Israel pode ganhar “guerras”e batalhas. Mas não ganhará a paz. Do lado palestino, torna-se fundamental, no contexto atual, controlar aqueles que acreditam nos métodos terroristas como meio de derrotar os israelenses”, analisa o professor Braz de Araújo, coordenador do Núcleo de Políticas e Estratégia da Universidade de São Paulo (USP).
Para Araújo, “esse impasse só poderá ser superado com uma trégua respaldada por forças internacionais. Sem uma firme posição dos Estados Unidos fica difícil imaginar condições de paz estáveis”. No entanto, o aceno de paz do presidente George Bush tem sido tímido. Só parece restar ao mundo assistir de braços cruzados a crueldade desta guerra sem fim.